Bolsonaro vai à despedida de Toffoli no STF e ouve críticas indiretas de outros ministros
‘Sabemos o quanto este Supremo foi ameaçado’, diz Alexandre de Moraes em sessão com o presidente
Carolina Brígido
O presidente Jair Bolsonaro participa da despedida do minsitro Dias Toffoli do comando do STF Foto: Reprodução/TV Justiça
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BRASÍLIA -— O ministro Alexandre de Moraes fez nesta quarta-feira uma homenagem ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, na última sessão dele no comando da Corte. Moraes enfatizou como feito relevante do colega a instalação do inquérito das fake news, que teve como alvo aliados e simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro.
No meio do discurso, Bolsonaro entrou no plenário do STF em uma visita não agendada previamente. Moraes interrompeu sua fala para anunciar a presença do presidente da República, que estava acompanhado do advogado-geral da União, José Levi, e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo.
— Vossa Excelência teve coragem de defender o tribunal, de defender o Judiciário, não só os membros do tribunal, mas a autonomia, tomando medidas que foram criticadas e depois elogiadas, como quase todas as grandes medidas e inovações. Soube fazer o correto mesmo que criticado fosse, do que deixar por comodidade. Não faltou coragem de manter histórica tradição na defesa dos direitos e garantias fundamentais, apesar das dificuldades econômicas e da pandemia — disse Moraes, destacando também as ameaças ao supremo.
— Sabemos o quanto esse Supremo foi ameaçado, o quanto os ministros foram ameaçados e os familiares foram ameaçados. Tínhamos instrumento, dentro da Constituição, que permitiu reação rápida, e só foi possível graças à coragem de Vossa Excelência. Não existe Poder Judiciário independente, autônomo, se seus juízes não tiverem garantia física e moral. E vossa excelência garantiu isso a todo o Judiciário.
Em seguida, Gilmar Mendes afirmou que o legado de Toffoli era o fortalecimento da democracia. Edson Fachin disse que Toffoli era “um democrata que respeita a autoridade, mas rejeita o arbítrio”. Somente depois dos três discursos, Toffoli convidou Bolsonaro a se sentar à direita dele, no plenário.
— Sempre que vou ao Congresso Nacional, eu me sento à mesa, assim como o próximo presidente sentará — explicou Toffoli, depois de convidar Bolsonaro para seu lado.
— O gesto de vossa excelência de vir aqui neste momento é um gesto em homenagem ao STF e à democracia — concluiu.
Bolsonaro elogia Toffoli
Depois dos discursos, foi dada a palavra a Bolsonaro, mesmo que não tenha previsão de discurso de presidente da República durante sessão do Supremo em homenagem a um dos ministros. Bolsonaro elogiou a interlocução com Toffoli:
— Em muitos momentos, quando o chefe do Executivo procurou o STF, por muitas vezes em decisões monocráticas, Vossa Excelência muito bem nos atendeu, em outros momentos até nos surpreendeu com a capacidade de antecipar problemas e apresentar a solução antes mesmo que fosse procurado.
Bolsonaro lembrou que ele chegou ao cargo pelo voto, enquanto os ministros do Supremo foram indicados por presidentes da República.
— Cheguei aqui pelo voto e os senhores chegaram por indicação do presidente. Peço a Deus que, quando houver a oportunidade, de indicar alguém que possa cooperar com essa Casa, com suas responsabilidades. Porque aqui, muitas vezes, e não só no Executivo e no Legislativo, está em jogo a felicidade de um povo e o destino de uma nação — disse o presidente.