Pandemia atrasa remoção de rejeitos em Brumadinho
Mateus Parreiras
34 minutos atrás
Brumadinho – Os 160 dias de paralisação dos trabalhos de buscas aos 11 desaparecidos do rompimento da Barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, devido à pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), se refletirão em cerca de dois anos de atraso nas expectativas de remoção dos 9 milhões de metros cúbicos (m3) de rejeitos de minério de ferro que vazaram durante o desastre. A previsão de retirada desse volume, inicialmente estimada para 2023, precisou ser ampliada pela Vale para 2025.
© Juarez Rodrigues/EM/D.A Press Vista da cava da mina, onde estão sendo depositados os rejeitos: em 49 dias desde a retomada dos trabalhos, volume transferido saltou de 38 mil para 131 mil metros cúbicos
O material vem sendo depositado na cava da mina, como antecipou a reportagem do Estado de Minas, em 27 de dezembro de 2019. Contudo, mesmo com o atraso, desde a reabertura dos trabalhos de cerca de 60 bombeiros no resgate e 1.200 trabalhadores da mina, a deposição já saltou de 38 mil m3 para 131 mil m3 em quase 49 dias, um volume 2,4 vezes maior.
“Os bombeiros precisaram paralisar as atividades de buscas por motivos sanitários durante a pandemia, mas, nesse tempo, continuamos a ter reuniões sistemáticas com a corporação para definir como mitigar os obstáculos do terreno e ajudar a acelerar a sua eficiência”, afirma o gerente-executivo de Projetos e Reparação, da Vale, em Brumadinho, Rogério Galvão.
De acordo com ele, antes, o trabalho era feito enquanto se tinham ações de drenagem. Agora, os socorristas militares encontraram o terreno aberto e seco, o que facilita as ações. “Sem essa interrupção, a nossa previsão era de remover tudo até 2023. Mas tivemos o impacto da pandemia e das chuvas. Perdemos uma boa parte do tempo de estiagem, que propicia bom desempenho nos trabalhos. Independentemente de qualquer coisa, o foco é e será sempre 100% para o trabalho de buscas dos bombeiros”, afirma Galvão.
A operação de deposição dos rejeitos na cava da mina Córrego do Feijão não é simples. Primeiramente, o montante de rejeitos precisa ser vistoriado manualmente, observado e separado por máquinas pelos bombeiros para que se tenha certeza de que nenhum vestígio dos 11 desaparecidos – de um total de 270 mortos – deixe de ser resgatado. Após essa liberação, esse material é levado para duas peneiras mecânicas que o separam em resíduos de 5cm e de 3,5cm.
© Juarez Rodrigues/EM/D.A Press Cinco caminhões fora de estrada operam 24 horas carregando e depositando o material recolhido sobre os degraus do talude
Processo
Entre os resíduos desse material, costumam ficar para trás muitos resquícios de estruturas arrebatadas pelo rompimento, como peças metálicas, madeira da vegetação destruída, trilhos e outros tipos de materiais que são destinados à separação ambiental adequada em outros processos.
O rejeito refinado é então carregado pelos caminhões fora de estrada que operam dentro da mina e transportam entre 80 e 105 toneladas do material para a cava. O local, fonte do minério explorado pela Vale, é uma abertura de 400 metros de altura na Serra dos Três Irmãos, que estava desativada e atualmente tem mais de 30 metros de altura de água de lençol freático. A alternativa de utilização da cava foi autorizada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Renovável (Semad) por ser um local selado por rochas, e, assim, seguro de poluição ambiental.
Cada um dos cinco caminhões fora de estrada que operam 24 horas trazendo e depositando rejeitos na cava despeja seu conteúdo numa praça, que vai sendo ampliada pelos próprios resíduos sobre os degraus do talude (paredão de extração). Essa plataforma crescente recebe os basculantes repletos de rejeitos refinados, que vão sendo depositados e esparramados por tratores. A capacidade da cava é de 27 milhões de metros cúbicos de rejeitos, bem acima dos 9 milhões que são estimados para a deposição.
Até o momento, a Vale já manuseou em áreas temporárias e transitórias 1,8 milhão de metros cúbicos de rejeitos, o que equivale a cerca de 20% dos rejeitos espalhados pelo rompimento. A área de trabalho dos socorristas e dos operários que removem o material é de 304 hectares, da barragem rompida, a B1, até a confluência com o Rio Paraopeba, por 10 quilômetros de extensão e 300 metros de margens. Até o momento, um contingente de 1.200 pessoas já trabalhou nesse canteiro de obras, com expectativa de se chegar a 1.500, sendo mais da metade mão de obra de Brumadinho e arredores.