Como nos autossabotamos?
Simone Demolinari
Autossabotagem é o comportamento destrutivo, muitas vezes inconsciente, que cria empecilhos e barreiras contra nós mesmos. Isso ocorre porque nosso inconsciente age de maneira oposta às nossas reais necessidades, como se houvesse um registro: “não sou merecedor”. A partir daí crio, sem perceber, impedimentos para minhas realizações.
Geralmente, esse processo tem origem na infância: criança que se sente inadequada, sem direitos, sem direito de se expressar, que são um fardo ou que não fazem parte daquele contexto. Pode também estar relacionado a traços de personalidade aprendidos no convívio com os pais ou pessoas responsáveis pela criação.
As maneiras de sabotar a própria felicidade podem aparecer de diversas formas, porém existem algumas mais comuns.
Uma delas é optar pelo prazer imediato: pessoas mais indisciplinadas estão sempre arrumando uma desculpa para justificar a quebra dos compromissos consigo. Vivem boicotando a dieta, a academia, os estudos, perdem horário, faltam a compromissos. Vivem em débito com aquilo que se propõem a fazer. Vivem o imediatismo do prazer momentâneo em detrimento do objetivo final. Geralmente se escondem atrás de justificativas como “eu mereço”.
Deixar de fazer algo por “medo de incomodar”: o medo de incomodar geralmente nunca é verdadeiro. Ele é uma desculpa nobre para encobrir outros medos mais profundos (como o da rejeição, por exemplo). Uma pessoa que deixa de fazer algo por não querer incomodar, ou não queria tanto, ou faltou coragem para o enfrentamento.
Manter relacionamento afetivos tóxicos: alianças de má qualidade são dreno de equilíbrio emocional. Relações conflituosas, permeadas por ciúmes, brigas e injustiças boicotam a paz e a tranquilidade necessárias para a qualidade de vida.
Optar pela nulidade temendo erros: muitos deixam de fazer o que querem por medo. Medo de errar, medo do julgamento alheio, do desconhecido, de parecer ridículo. Esse sentimento acaba favorecendo uma postura evitativa. O medo sabota a capacidade de tentar e progredir. Uma autossabotagem que gera estagnação.
Se prejudicar por dificuldade em dizer “não”: a dificuldade em dizer “não” faz com que o sujeito sinta uma culpa equivocada. Acabam dizendo “sim” por constrangimento ou para não se sentirem egoístas.
Praticar a autodepreciação: o assediador de si mesmo é aquela pessoa que se desmerece o tempo todo, as vezes em tom de vitimismo, outras em tom de brincadeira. Se comparar com os outros também é uma forma de autossabotagem.
Infidelidade aos próprios desejos: para se enquadrar nos moldes sociais ou familiares passa-se uma vida inteira anulando a si.
Procrastinação: empurrar tudo, inclusive as coisas importantes para depois, perder prazos, viver no fio da navalha com a sensação de que poderia ter feito melhor se tivesse começado antes, talvez seja uma das piores formas de se autossabotar.
Embora pareça estranho, é mais comum do que imaginamos. Mudar esse comportamento requer inicialmente detectá-lo e uma prática constante de vigilância e compromisso consigo. Trabalhar a autoestima é fundamental nesse processo.
Aos menos resistentes, a terapia é muito bem-vinda.