Fui demitido, e agora? Como a resiliência financeira pode ajudar
Luciana Ikedo*
As preocupações financeiras e econômicas passaram a ocupar lugar de destaque no cotidiano das famílias, desde que a crise causada pela Covid-19 teve inicio. A pesquisa Pnad, feita pelo IBGE, registrou uma taxa de desocupação de 14,1%, em setembro. E, com um aumento no número de desempregados, quem investia de forma conservadora e estava habituado a ter ótimos resultados, alta liquidez e baixo risco na renda fixa por anos, começou a questionar caminhos alternativos para cuidar de suas reservas financeiras.
A pandemia do coronavírus, por si só, gerou medo e insegurança ao redor do mundo e, para alguns, ela também veio acompanhada do desemprego involuntário, ou redução de renda, bem no meio de uma crise econômica. Em cenários como esse, a educação financeira e um bom olhar para os investimentos são essenciais para que essa fase de transição aconteça de uma forma mais tranquila.
Listei abaixo algumas dicas que podem ajudar quem perdeu o emprego nos últimos meses, de forma voluntária ou não, ou está em transição de carreira e precisa enfrentar esse difícil momento também no âmbito financeiro. São elas:
• Pratique a resiliência, ela deve ditar o futuro dos trabalhadores
É hora de assimilar que o mundo que existia há alguns meses não existe mais. E, quanto mais rápido assimilarmos isso, mais facilmente conseguiremos nos adaptar a essa nova realidade. A resiliência deve ser uma palavra-chave no dia a dia de todos nós daqui pra frente. E, ser resiliente significa ter a capacidade de se recuperar facilmente ou de se adaptar a eventos inesperados, situações difíceis e mudanças indesejadas. No momento atual, a capacidade de seguir em frente é essencial.
• Tenha controle sobre o dinheiro
Em uma situação de desemprego, em que a redução da renda familiar se torna uma realidade do dia para a noite, o controle sobre o dinheiro é essencial para evitar entrar no vermelho. Tome cuidado com pagamentos recorrente, são gastos mensais que, apesar de pequenos, quando somados, podem representar um nível elevado de comprometimento da renda. Na alimentação, prefira consumir frutas, verduras e legumes da estação e planeje a alimentação em família, dentro de casa, evitando desperdícios. Além disso, a economia nas contas de consumo nunca é demais, não é mesmo? Se todas as vezes que você recebe a fatura do cartão de crédito você leva um susto, esse poder um forte indicativo de que você pode estar no modo automático. A palavra de ordem é controle.
• Consumo consciente
O isolamento social afetou muito os gastos em nossas casas, o que pode se intensificar ainda mais com a perda do emprego. Nessa hora, os maus hábitos pesam muito mais. Quando consumimos de forma consciente, temos uma otimização dos recursos em todas as frentes. Ao consumir somente o necessário, podemos perceber que o ajuste no orçamento é totalmente possível e assim sobra mais dinheiro para a realização de outros sonhos e objetivos importantes.
• Reserva de Emergência
Desde o início da crise, muitos perderam parcial ou totalmente a sua renda financeira. Se os seus ganhos cessaram, uma das principais perguntas que precisamos fazer é: a sua reserva de emergência é suficiente para os seus gastos essenciais dos próximos meses? A reserva de emergência é o suporte para situações como essas, de desemprego, mas também para qualquer outra situação em nossas vidas nas quais vivemos situações de desencaixe negativo financeiro, ou seja, precisamos gastar mais do que estamos ganhando.
A transição de carreira passará e outros imprevistos acontecerão, só não sabemos quando. Nesses momentos, ter uma reserva de emergência constituída pode te livrar do endividamento e amenizar perdas patrimoniais. Procure investir esse recurso em ativos conservadores, com baixa volatilidade e alta liquidez.
• Receitas menores do que as despesas
O momento de desemprego, voluntário ou não, é um dos momentos em que as receitas normalmente serão menores do que as despesas. A capacidade de lidar com momentos como esse foi listado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) como uma das habilidades essenciais para a resiliência e bem estar financeiro. E, quanto mais os nossos gastos estiverem ajustados, consumirmos conscientemente e a reserva financeira estiver robusta, maior será a nossa capacidade de lidar com o período em que a receita familiar cessará totalmente ou pode ser fortemente reduzida.
Os trabalhadores formais que tem o vínculo rompido precisam ficar muito atentos para o destino que darão para a indenização. Muitas pessoas investem em reformas na casa, compra de imóveis para uso pessoal, troca do carro de uso familiar, emprestam recursos para familiares e, sem perceber, perdem a liquidez dos recursos ou gastam com itens não essenciais as reservas financeiras que podem ser essenciais para a transição de carreira.
• Consciência de fraude
Nos momentos de crise e de dificuldades econômicas e financeiras, como o que vivemos, inúmeros oportunistas surgem com algo que parece ser um milagre. Só que, de fato, só parecem. Na verdade, essas “oportunidades” mascaram sim pirâmides financeiras que lesarão muitas pessoas se continuarem a serem propagadas.
O risco de se investir em pirâmides financeiras é de perda total do capital investido e temos visto cada vez mais casos. A solução para a pessoa que está envolvida nisso é a de sair imediatamente e entender que investir significa consistência e recorrência e que é algo sério, estruturado e regulamentado. É preciso ter ciência de que fraudes financeiras existem e que podem cruzar os nossos caminhos. Tudo aquilo que parece muito vantajoso, com ganhos inacreditáveis e fora da realidade, normalmente são golpes que colocam em risco todo o capital do investidor. Investimento é algo sério e regulamentado no Brasil, e o mercado oferece inúmeras opções seguras e que não lesarão o investidor como as pirâmides financeiras, fique atento.
*Assessora de investimentos e sócia-fundadora do escritório Ikedo Investimentos.