Instagram faz 10 anos e lança ‘pacotão’ de novas ferramentas
Usuários poderão criar uma retrospectiva nos Stories, com calendário e mapa das publicações
O Instagram completa uma década nesta terça-feira
O Instagram completa 10 anos nesta terça-feira, 6, e, em comemoração ao seu aniversário, a rede social está lançando uma série de ferramentas, como opções de retrospectiva, easter eggs nostálgicos e atualizações para evitar conteúdos inadequados na plataforma.
A empresa está liberando aos usuários uma função para criar retrospectivas nos Stories. Trata-se de um calendário e de um mapa que mostram as suas publicações dos últimos três anos — você vai poder salvar a recordação nos destaques do perfil e também baixar o conteúdo. A plataforma também exibirá uma linha do tempo com os principais marcos da história do Instagram, como a evolução do ícone do app.
A retrospectiva de Stories poderá ser salva nos destaques do perfil
Além disso, o Instagram aproveitou a data para lançar atualizações voltadas ao bem-estar dos usuários na plataforma, com o objetivo de evitar conteúdos que envolvam, por exemplo, bullying e assédio. O Instagram afirma que está testando um novo recurso que oculta automaticamente comentários semelhantes a outros que foram denunciados no app. A rede social também vai incluir um aviso adicional quando algum usuário tentar postar repetidamente comentários ofensivos.
Você pode até não se lembrar ou não ter vivido isso, mas houve um período em que era preciso pensar muito bem antes de dar o clique numa câmera fotográfica. Afinal, os filmes que abasteciam os equipamentos não eram baratos, assim como a sua posterior revelação. Hoje, não é necessário tanto critério na hora de fazer uma foto. Quando o assunto é compartilhá-la, porém, aí são outros 500… Na era dos cancelamentos, o Instagram, rede social em que uma imagem vale muito mais do que mil palavras, acaba de completar 10 anos entre os aplicativos mais usados do mundo. A mesma popularidade, porém, o posiciona na mira de questionamentos quanto aos impactos sobre a saúde mental de seus usuários.
“Queria muito que alguém pegasse o meu Instagram inteiro e imprimisse em vários álbuns”, afirma uma veterana da rede no Brasil, a influenciadora Camila Coutinho, que também é CEO da GE Beauty. “É um registro de vida que está ali. É engraçado ver como a estética vai mudando ao longo do tempo, naturalmente, quando olhamos fotos antigas.”
Perfil no Instagram faz sucesso dando legendas engraçadas a fotos de modelos da Zara
Se algum leitor quiser realizar o desejo dela, certamente terá muito trabalho. Com mais 2,6 milhões de seguidores, o perfil @camilacoutinho tem mais de 8 mil imagens. A primeira, recorda-se, foi num aeroporto, no começo da década. Detalhe: nem era para ser publicada no Instagram. “Só usei pra colocar um filtro. Subi sem legenda, para salvar, e postei no Twitter.”
Tantos anos depois, Camila continua usando, de alguma maneira, o tal filtro, mas não sem refletir sobre os seus impactos. “Não vai mais existir foto ‘feia’ ou esse conceito vai mudar. Hoje em dia, escolhemos a imagem mais bonita, editamos… Estou nessa onda de tentar fazer isso cada vez menos. Mas, ainda assim, tenho muito vício. Quero, quem sabe, chegar ao ponto de postar foto 100% natural, porque acho que toda essa ‘filtrada’ não é tão legal. Mas a gente se acostumou, né?”
Pode ser que esse ponto de virada esteja próximo. Head de Parcerias do Instagram, o americano Charles Porch aposta que a fórmula “mais autenticidade, menos perfeição” está por trás da receita de sucesso de quem se destaca na rede atualmente. “A chave é ser autêntico e falar diretamente com os seus seguidores. Mostrar que você se importa”, afirma. Ele cita como exemplo vídeos que revelam bastidores, feitos com a câmera tremida e de maneira descontraída. Essa postura mais natural, segundo Charles, também pode ser útil para enfrentar até mesmo os temidos “cancelamentos”, quando as pessoas passam a ser duramente criticadas por alguma atitude reprovada pelo público.
É o que aconteceu recentemente com a influenciadora Gabriela Pugliesi, que despertou a ira nas redes ao ter uma festa em sua casa revelada no auge da pandemia, e com a cantora Anitta, cobrada pela falta de posicionamento político nas últimas eleições presidenciais. Esta última, aos olhos de Charles, acertou em cheio ao buscar a ajuda pública da advogada e apresentadora Gabriela Prioli para entender melhor o universo político, nos últimos meses. “Ela quer aprender sobre o tema e, provavelmente, muitos dos seus fãs gostariam de fazer o mesmo. É como se fossem para a escola juntos. A Anitta não tem medo de fazer perguntas, e isso é muito legal.”
Jovem de 25 anos é dona de duas empresas impulsionadas pelas redes sociais
A qualidade do conteúdo tem sido foco também nas postagens da carioca Luiza Brasil, que viu o look do dia ficar cada vez menos interessante. “Acho que essa narrativa do consumo, do fast fashion, é algo que não condiz mais. Não me coloco no lugar de expert, mas de concentrar pessoas que agregam.” Ela enxerga seu @mequetrefismos como uma comunidade, na qual o trunfo é a qualidade da informação. “Acho que meu crescimento não vai ser de uma audiência de milhões, porque, talvez, não é sobre massa, mas sobre diálogo e iluminar narrativas muito invisibilizadas.”
Se por um lado Charles acredita que as pessoas estão descobrindo que a realidade vale mais a pena, ele reconhece também que o senso de comunidade tem aflorado na ferramenta, ao passo que movimentos como o Vidas Negras Importam e o Body Positive têm um alcance cada vez maior. O Brasil, segundo ele, é um país que indica essas tendências.
No que diz respeito à autoaceitação de corpos fora do dito “padrão”, a carioca Alexandra Gurgel é uma das precursoras por aqui. “Comecei a falar disso no YouTube, mas migrei para o Instagram porque fazia muito mais sentido falar de imagem por lá”, diz a dona do perfil @alexandrismos. Desde então, ela viu o movimento ganhar visibilidade, sobretudo, durante o isolamento, quando mais pessoas se confrontaram com suas inquietações. “Tivemos famosas falando, pela primeira vez, sobre seus corpos ou inseguranças, e o Instagram se tornou a principal central para esse debate. Quando lançaram o reels, muitas pessoas começaram a usá-lo para mostrar seus corpos, suas celulites. E, nesse caso, não é sobre um movimento narcisista. É sobre as pessoas entenderem que elas também podem.”
É claro que nem tudo são flores. Alexandra observa, por exemplo, que apesar do destaque alcançado pelo movimento de autoaceitação, perfis dentro dos ideais de beleza históricos ainda alcançam muito mais visibilidade. “Pessoas mais magras do que eu e com o mesmo número de seguidores costumam ganhar muito mais likes. Isso não me parece justo”, diz ela, reclamado também da falta de clareza na maneira como a ferramenta se comunica com os usuários. “Eles passaram a ocultar o número de curtidas, mas isso continua contando. Afinal, quem produz conteúdo sabe os números que tem e é cobrado por isso em seus trabalhos. Será que o fim dos likes foi realmente para a nossa saúde mental?”
Remota e inclusiva, startup americana quer mostrar como será ‘trabalho do futuro’
Há sete anos, a Ultranauts desenvolve maneiras criativas de contratar, gerir e motivar uma mão de obra diversificada e distante – algo que muitas empresas precisam fazer hoje
Jamie e a Ultranauts também trabalham remotamente seguindo um modelo que as diferencia da maioria das empresas
Da sua casa em Beaverton, Oregon, Jamie Davila dirige uma equipe de oito engenheiros em sete Estados americanos diferentes para a startup de tecnologia Ultranauts. Como milhões de outras pessoas durante estes tempos de trabalho em casa, ela depende de ferramentas de comunicação muito conhecidas como Zoom e Slack. Mas Jamie e a Ultranauts também trabalham remotamente seguindo um modelo que as diferencia da maioria das empresas. Eles adotaram um conjunto distinto de políticas e práticas para promover a diversidade e a inclusão entre os funcionários.
Todas as reuniões em vídeo têm legendas ocultas, para os funcionários que preferem absorver as informações que estão na forma de texto. As agendas das reuniões são distribuídas de antemão, de modo que as pessoas que não se sentem à vontade para falar podem contribuir com um texto anteriormente escrito. Os funcionários precisam dar diariamente o seu feedback, por exemplo, se acreditam que os seus pontos fortes são valorizados e se sentem solidão no trabalho. “A ideia é criar um espaço seguro que permita que todos sejam ouvidos”, disse Jamie, de 36 anos.
A Ultranauts trabalha há anos nos desafios enfrentados por inúmeras companhias durante a pandemia, e provavelmente além: como trabalhar de maneira eficiente remotamente, e fazer progressos no que se refere aos objetivos de diversidade e inclusão, além de construir uma forte cultura organizacional.
A companhia, fundada em 2013 por dois antigos colegas de sala do Massachusetts Institute of Technology (MIT), usa força de trabalho remota desde o primeiro dia. A firma foi fundada também para usar o talento de pessoas autistas, antes não utilizado, que frequentemente pensam e processam as informações de maneira diferente do restante da população. Hoje, 75% dos funcionários da Ultranauts se encontram no espectro do autismo.
A pequena startup oferece aulas para as empresas do país sobre contratação, gestão e motivação de funcionários que trabalham de forma remota, cujo desempenho e carreiras podem sofrer sem as conversas diretas e de corredor típicas da vida do escritório.
“A criação proposital da Ultranauts de um local de trabalho que dê suporte de verdade às pessoas é algo extraordinário”, observou Susanne Bruyere, diretora acadêmica do Instituto Yang-Tan de Emprego e Necessidades Especiais da Cornell University. “As suas técnicas e instrumentos poderiam perfeitamente ser aplicadas de maneira mais ampla”.
Entre os clientes da startup estão grandes corporações como AIG, BNY Mellon e Cigna. Ela começou atuando no mercado fazendo testes de usabilidade dos sites e aplicativos, mas hoje está voltada particularmente para trabalhos mais avançados, como engenharia da qualidade de dados, testes de software automatizado e análise de dados.
Durante a pandemia, empresa viu altos e baixos
Quando a pandemia se instalou no país, a Ultranauts, sediada em Nova York, perdeu negócios porque grandes clientes fizeram cortes para conter os gastos. Mas ela rapidamente pegou novos trabalhos de empresas que estão acelerando projetos digitais, apesar da crise. Ela agora tem 90 funcionários, em comparação com 60 no ano passado. E o seu objetivo é chegar a 200 em dois anos.
A Ultranauts tem o respaldo de investidores de impacto social – que buscam retornos financeiros, mas não lucros inesperados – como o The Disability Opportunity Fund, Sustain VC, Wasabi Ventures e Moai Capital. Eles investiram US$ 5,7 milhões até o momento.
A companhia enfatiza que a sua força de trabalho é uma vantagem competitiva.O benefício, afirma, não está tanto no fato de que cérebros autistas estão aptos para tarefas na área de computação, mas que as pessoas no espectro autista são um grupo diferenciado.
Uma pessoa pode reconhecer padrões rapidamente, enquanto outra tem um estilo cognitivo mais controlado, mas chega a diferentes padrões e maneiras de fixar um código. O segredo está em controlar os vários talentos das equipes.
As reuniões são gravadas, transcritas e arquivadas não só para os funcionários que preferem ler a ouvir, mas também para promover uma organização mais aberta. Isto se estende às reuniões semanais da equipe de liderança da Ultranauts, composta por seis pessoas. As notas destas sessões, como as decisões tomadas e as razões que as determinaram, são publicadas em um canal do serviço de comunicação corporativa Slack para toda a companhia.
“É uma transparência muito maior do que aquela em que a maioria das pessoas que trabalha em uma empresa se sente confortável”, afirmou Art Shectman, um dos fundadores e presidente da companhia.
Os diretores da Ultranauts acreditam que o seu estilo de comunicação explícita aberta – e não de normas que não estão escritas – pode beneficiar qualquer empresa. A Ultranauts está distribuindo um valioso produto de software que ela mesma produziu, o Biodex, como parte de um teste para verificar até que ponto as suas ferramentas e práticas podem se encaixar na prática corrente das empresas.
Cada empregado da Ultranauts tem um perfil Biodex que informa as preferências da função, comunicação e feedback de uma pessoa. Qual é o tempo de nossa resposta típica às mensagens: alguns minutos, algumas horas, no mesmo dia? Se um colega faz críticas construtivas, como você quer receber o feedback: oralmente ou por escrito?
Todas as manhãs, a Biodex envia uma mensagem gravada com duas perguntas: Quão “interativo” – pronto para se comunicar com os outros – você se sente hoje? Qual é o seu nível de energia hoje? Os funcionários devem responder em uma escala de 1 a 10.
Rajesh Anandan, um dos fundadores e presidente executivo da Ultranauts, descreve o Biodex como “um guia de ação rápida para o trabalho com uma pessoa”. A Ultranauts permite que equipes de cerca de dez organizações das grandes às startups, experimentem uma versão de teste da Biodex. Se os testes com pessoas de fora correrem bem, a Ultranauts planeja tornar a Biodex um programa de download gratuito na loja de aplicativos Slack até o fim do ano. Outros aplicativos da Ultranauts, como o seu programa para sondar o sentimento e o bem-estar do trabalhador, viriam a seguir.
“Construímos um motor que abre oportunidades para pessoas que não tiveram uma chance antes”, afirmou Anandan. “Mas se fizermos isto somente para nós mesmos, ele não produzirá um grande impacto”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA