Mazelas de 2021
Manoel Hygino
Na madrugada do dia 2 de setembro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi diagnosticado com Covid-19, moléstia também identificada na esposa, Melania. Ele foi levado, na manhã seguinte, para o Centro Médico Militar Walter Reed, ali tratado com vitamina D, Zinco, Ramotidina, Metatonina e Aspirina. Até ali, tomava Cloroquina, preventivamente. Passou a usar medicamento experimental da farmacêutica Regeneron, com resultados preliminares positivos de tratamento, reduzindo a carga viral. A primeira-dama sofreu apenas tosse leve e dor de cabeça. A Casa Branca esclareceu que eram apenas de medidas de precaução. Mas, e no resto do mundo, com muitos milhões de gente pobre, mal alimentada, doente e sem a assistência que só as altas autoridades usufruem?
Quem visita diariamente a Imprensa terá lido as declarações de Mariângela Simão, brasileira vice-diretora da área de medicamentos, vacinas e produtos da OMS. Ela revela que nenhuma vacina em desenvolvimento no mundo terminará a fase 3 antes de dezembro próximo. Conclui: “Para chegar ao mercado vai ser em meados do ano que vem”.
Pior ainda é que 30% dos que sobreviveram à Covid-19 apresentam sequelas que, em 2021, deverão ser tratadas pelo SUS, com bom desempenho presentemente, mas terá de enfrentar logo as novas levas dos sequelados. Haja recurso! O governo já pensou nisso? Se não, que trate de fazê-lo, porque 2021 será terrivelmente desgastante.
Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute e professora da Sais/John Hopkins University, é muito objetiva também. Adverte sobre o que nos aguarda no novo ano, para que o governo e a população não sejam apanhados de surpresa. Quanto será necessário investir na Saúde, especificamente no SUS, em razão das sequelas da Covid-19, nas pessoas que se recuperarem da doença?
Chama-se a atenção para o fato de que a população segue envelhecendo e, assim, a moléstia também agrava o quadro por falta de tratamento. As doenças associadas à idade – como diabetes, câncer, cardiopatias – somam-se àquelas consideradas endêmicas, como a tuberculose, a dengue, a hanseníase, a malária e a Aids, que já pressionavam o sistema, e mais o farão a partir de janeiro. Não é brincadeira.
De fato, a vacina somente chegará ao mercado na metade do ano que vem. Depois dela, muito mais virá para afetar o campo da saúde e da vida, mas também o Tesouro. Tudo tem de ser pensado agora, porque a gripezinha não terminará rapidamente sua carreira de malefícios.
E a saúde, como ficará? A mesma pergunta pode ser dirigida desde já ao governo brasileiro. Não podemos afirmar que, em 2021, seremos apanhados de surpresa, como neste ano.