Trump volta a denunciar fraude e Biden mantém otimismo: disputa pela Casa Branca segue apertada
Ligia Hougland
Três dias depois das eleições americanas, a população ainda não sabe quem será o presidente. Donald Trump e Joe Biden continuam a disputar colégios eleitorais em estados-chave nesta sexta-feira (6). O democrata lidera a contagem de votos, o que incita o rival a alegar que a votação está sendo roubada.
© AFP – ANGELA WEISS,MANDEL NGAN
Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington
A disputa, cada vez mais apertada, agora se concentra nos estados da Geórgia, Arizona, Nevada, Carolina do Norte e Pensilvânia, causando uma crescente tensão para as campanhas republicana e democrata e grande frustração para os eleitores.
Na noite de quinta-feira (5), Trump fez um pronunciamento afirmando que houve interferência na votação por parte de grupos poderosos como corporações, a mídia e grandes nomes do setor de tecnologia, em uma menção velada aos gigantes da internet Twitter e Facebook. O presidente americano também alegou que houve fraude eleitoral e disse que os democratas não estão contando os votos dele.
“Se os votos legais forem contados, eu ganho facilmente. Eles usaram votos ilegais para roubar a eleição”, afirmou Trump.
Várias redes de TV americanas interromperam a transmissão do discurso do presidente por considerarem que o conteúdo de sua fala propiciava a desinformação.
Biden perto da vitória
Biden está bastante próximo dos 270 colégios eleitorais necessários para lhe garantir a presidência, bastando ser declarado o vencedor da Pensilvânia ou qualquer dois dos outros quatro estados-chave para chegar a esse número ou mesmo ultrapassá-lo.
A situação de Trump é bem mais complicada e sua vitória parece cada vez mais improvável. Para continuar na Casa Branca, o presidente americano precisa obter vitória na Pensilvânia e em outros três estados-chave.
O candidato democrata também fez um pronunciamento na noite de quinta-feira (5), tentando demonstrar otimismo ao dizer que, enquanto aguardava a contagem de votos, ele já estava conduzindo reuniões sobre como seu governo lidaria com a pandemia e a economia americana. Biden pediu que todos permaneçam calmos e confiem no processo eleitoral.
“Não tenho dúvida de que, quando a contagem foi concluída, eu e a senadora Harris sairemos vencedores”, disse Biden.
Batalha judicial
A mensagem da campanha republicana não podia ser mais contrastante ao insistir que o processo eleitoral está marcado por fraudes que precisam ser expostas para que os americanos não percam a confiança na sua democracia.
Desde quarta-feira (4), os advogados que representam Trump têm entrado com diversos recursos na justiça alegando fraude e irregularidades eleitorais na Geórgia, Pensilvânia, Michigan e Nevada. Os processos incluem acusações de votos recebidos depois do prazo e votos de cidadãos já falecidos, além de casos de fiscais republicanos que foram impedidos de acompanhar o processo de contagem e validação das cédulas.
“Vai haver muitas disputas legais e talvez isso acabe no tribunal da mais alta instância do país. Não podemos ter uma eleição roubada dessa maneira”, disse Trump.
Muitos simpatizantes do presidente estão revoltados com a falta de apoio de líderes do artido Republicano, como os senadores Mitch McConnell, líder da maioria no Senado, e Lindsey Graham, que comanda o Comitê Judiciário no Senado. Os eleitores que se sentem traídos pelo partido já falam em sair às ruas em protesto.
Denúncias de fraudes sem provas
Tanto a grande imprensa – inclusive a Fox News, que simpatizante de Trump – quanto grandes nomes da política conservadora, como o ex-governador de New Jersey Chris Christie, afirmam que as alegações de que houve fraude eleitoral não têm fundamento algum.
“Não ouvimos falar de nenhuma prova”, reagiu Christie, um tradicional aliado do presidente, alertando para o risco do republicano estimular mais tensões sem ter elementos que demonstrem irregularidade no processo eleitoral.
Já os eleitores de Trump postam nas redes sociais o que dizem ser provas de que a eleição está sendo roubada. Tucker Carlson, comentarista político com o programa em horário nobre de maior audiência da TV a cabo americana, insistiu na quinta-feira que os cerca de 70 milhões de eleitores que votaram no republicano têm direito à transparência. “Nem todas as alegações de fraude são críveis, mas algumas são”, disse Carlson.
O prazo máximo para os estados encerrarem completamente a apuração é 8 de dezembro. Se a disputa sobre o resultado das eleições tiver mesmo de ser decidida pela Suprema Corte, terá de acontecer antes de os eleitores de todos os 538 colégios eleitorais declararem seu voto, em 14 de dezembro.