O Brasil briga com o mundo
Resistência em reconhecer vitória de Joe Biden é mais um episódio da desastrosa política externa do país
Por RICARDO CORRÊA
Na coluna Política em Análise, o editor de O TEMPO, Ricardo Corrêa, repercute a posição do governo brasileiro em relação à eleição de Joe Biden para presidente dos Estados Unidos e cita o isolamento do Brasil no cenário internacional.
Uma rápida consulta nos levantamentos mensais e acumulados da balança comercial brasileira não deixa dúvidas. Hoje, os maiores parceiros comerciais do país são: China, principalmente, União Europeia, Estados Unidos e Argentina. Em razão de posicionamentos ideológicos extremos, o Brasil caminha, neste momento, para ter atritos com todos eles ao mesmo tempo.
O caso mais recente é o da vitória de Joe Biden nas eleições norte-americanas. Quebrando uma histórica da diplomacia brasileira, o presidente Jair Bolsonaro, seus familiares e aliados fizeram campanha aberta para Donald Trump. Nunca esconderam que preferiam que o atual presidente continuasse no poder. Quando Biden, em um debate, afirmou que pressionaria pela preservação da Amazônia, a resposta foi a pior possível do ponto de vista diplomático. Bolsonaro disse que o Brasil, “”diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos” e “infundadas ameaças”.
Mas a situação poderia começar a mudar se o comportamento fosse mais pragmático após a vitória de Biden. Ainda que Trump não reconheça o resultado, o novo presidente será o democrata, e o mundo inteiro já percebeu isso. Inclusive países governadores pela direita ou pela extrema-direita, como a Hungria, a Polônia, a Índia ou a Arábia Saudita. O Brasil optou por ficar no fim da fila e isso trará consequências graves.
Hoje, se o país ainda não enfrenta sanções internacionais pesadas pelo péssimo controle ambiental e por violações de direitos humanos, pode-se atribuir isso a ainda boa relação com os Estados Unidos. O atual governo brasileiro parece querer romper com essa única linha de defesa.
É bom lembrar que antes de criar constrangimentos diplomáticos com o presidente eleito dos Estados Unidos, o governo do Brasil já desancou por diversas vezes a população argentina por escolherem um presidente de direita, ataca diariamente a China, desqualificando a vacina vinda de uma empresa daquele país e ameaçando proibir a entrada da tecnologia chinesa no 5G e, por diversas vezes, já trocou farpas com os principais líderes da União Europeia em debates ambientais.
Hoje, o Brasil se isola no mundo. Abre mão da política da boa vizinhança. Compra qualquer briga que aparece. E isso terá consequências econômicas e políticas. Para preservar discursos eleitorais, o governo Bolsonaro coloca em risco empregos e investimentos no país, o que, muito em breve, custará caro para o país e também para ele.