Mineração de areia, a maior e mais perigosa indústria

Por

João Lara Mesquita – Jornal Estadão

Mineração de areia, a maior e mais perigosa indústria de mineração

A mineração é extremamente importante mas ao mesmo tempo é uma atividade que sempre provoca impacto ambiental. Não há como escavar o solo atrás de minérios e não provocar impactos. Mas a maior indústria de mineração do mundo em volume, e talvez a mais perigosa, é a mineração de areia.

Aproximadamente 85% de todo o material extraído da terra é um recurso simples e amplamente disponível: areia. Por ser tão barato e fácil de conseguir, é extraída por todos. De um sujeito com uma pá, até máquinas multimilionárias. A maior parte da areia é usada para fazer concreto. Mas a extração desenfreada condena à destruição ecossistemas costeiros, leitos de rios, etc.

Mineração de areia, imagem, http://coastalcare.org.

40.000 milhões de toneladas de areia extraídas anualmente

Programa Ambiental das Nações Unidas estima que a cada ano 40.000 milhões de toneladas de areia são extraídas. Mas, como o mercado está corrompido, oculto e descentralizado, até agora não tem sido realizados estudos abrangentes.

A fim de estimar um valor  as Nações Unidas usaram os números de produção e vendas de cimento em todo o mundo para calcular a quantidade. Por exemplo, cada tonelada de cimento requer de seis a sete toneladas de areia e cascalho.

O impacto ambiental da mineração de areia

A extração de areia, especialmente quando realizada sem regulação ou supervisão, pode danificar rios, causar erosão de praias e destruir ecossistemas costeiros. Pelo menos 24 ilhas indonésias desapareceram do mapa apenas para construir Singapura.

Como a dragagem de areia é principalmente para fins de construção, os mineiros se concentram em ecossistemas fluviais e costeiros. A areia do rio é particularmente perfeita para o concreto porque é espessa e não contém sal que, de outra forma, corroeria o metal e outros materiais de construção.

Além disso, a alteração do fluxo e da capacidade do rio pode causar secas ou inundações, embora raramente seja reconhecido como um fator contribuinte.

Dragagem e seus problemas

A dragagem do fundo do mar também pode fazer com que o sedimento se desloque por quilômetros. Isso causa erosão costeira e sufoca ecossistemas como os recifes de corais.

A erosão, o afundamento da terra e a introdução de maquinaria pesada e veículos em habitats sensíveis também ameaçam a integridade das infraestruturas próximas, como estradas e pontes.

Mineração de areia. Ilustração, www.arcgis.com.

População mundial em crescimento significa mais mineração de areia

O desenvolvimento e a urbanização estão se expandindo rapidamente em todos os cantos do mundo para acomodar uma população em crescimento exponencial e nossas taxas insaciáveis ​​de consumo.

De acordo com as Nações Unidas, o número de pessoas que vivem nas cidades é mais de quatro vezes maior do que na década de 1950. Mais de 50% da população mundial vive em áreas urbanas.  Espera-se que quase três bilhões a mais de pessoas migrem para as cidades nos próximos 30 anos.

A ‘moda’ das ilhas artificiais

Além de novos edifícios, a areia também é usada para ganhar terra no mar. Na China, é uma prática comum jogar areia nos recifes de coral para ganhar terras.

Dubai também é famosa por suas ilhas artificiais, que exigiam milhões de toneladas de areia. Singapura adicionou mais de 50 milhas quadradas de terra ao longo das últimas quatro décadas. E mais arranha-céus ao longo dos últimos 10 anos exigiram mais de 500 milhões de toneladas de areia.

É possível dragar a areia de forma sustentável?

Ecologistas de rios sugerem que a dragagem de areia deve ser feita apenas para uma cota predeterminada que permita que o rio reponha os sedimentos anualmente. No entanto, esse número sustentável nunca será igual à necessidade insustentável de desenvolvimento da humanidade.

Reciclagem de vidro e detritos

Resíduos de construções demolidas podem ser usados ​​para produzir concreto, o que reduz a necessidade de areia nova. O vidro também pode ser reciclado, o que também reduz a necessidade de areia.

Mineração em planícies aluviais

Considera-se que a mineração limitada em planícies aluviais, e não em bancos e leitos de rios, é menos destrutiva. No entanto, as planícies aluviais também têm ecossistemas frágeis.

Na Austrália, as planícies aluviais abrigam espécies raras de plantas carnívoras que estão em risco devido às atividades de mineração.

Substituição de areia no concreto

Cinzas de incineradores e poeira de pedreiras podem ser usadas na produção de concreto para reduzir a demanda por areia.

Mineração de areia no Brasil

“A mineração é considerada um dos setores básicos da economia do Brasil. A atividade minerária fornece matéria prima base para a indústria, sendo que vários produtos desde os mais simples aos mais complexos têm origem mineral.”

“Os produtos mais minerados no Brasil, em volume, são a areia e a pedra britada. As atividades de extração de areia são de grande importância para o desenvolvimento social, mas igualmente responsáveis por impactos ambientais negativos, alguns inclusive irreversíveis.” Quem disse isso foram os especialistas Eriton Geraldo Vieira e Elcio Nacur Rezende, em trabalho (2015) no XI UNIVERSO da mineração brasileira. Revista Minérios Minerales.

Imagem, ews.mongabay.com.

Mineração ilegal de areia no Brasil rende mais que tráfico de drogas

“A extração ilegal de areia no Brasil gera lucros maiores do que o tráfico de drogas. O dado é alarmante e faz parte da conclusão de um estudo que analisou a atividade em todo o território nacional.

Realizada pelo agente da Polícia Federal (PF) e especialista em direito ambiental Luís Fernando Ramadon, a pesquisa “A extração ilegal de areia no Brasil” foi divulgada em novembro de 2016 e contém análises da atividade ilícita praticada no país entre 2012 e 2015.”

Ilustração, http://revistamineracao.com.br.

O trabalho feito pelo agente da PF mostra que o faturamento gerado pela extração de areia em 2015 foi de R$ 8,9 bilhões, 61% do que faturou o tráfico de drogas (R$ 14,5 bilhões), de acordo com o relatório “Impactos Econômicos da Legalização das Drogas no Brasil”, baseado em dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

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