A agenda liberal do ex-ministro Sérgio Moro
Laryssa Borges
Desde que deixou o governo acusando o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal, o ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro tem feito acenos ao mercado financeiro com a defesa da pauta de seu principal interlocutor quando ainda ocupava o Executivo: o ministro da Economia, Paulo Guedes. Em sucessivas reuniões virtuais com corretoras financeiras, foi questionado sobre pontos que, para analistas de mercado, poderiam sinalizar quais seriam as diretrizes de um eventual “governo Moro”. Nos últimos meses, o ex-juiz da Lava-Jato tem discutido plataformas para uma possível candidatura de centro em 2022 com políticos como o governador de São Paulo João Dória (PSDB) e personalidades como o apresentador de TV Luciano Huck.
© Marcelo Camargo/Agência Brasil
A quase dois anos da disputa de 2022, o ex-magistrado é tido como virtual oponente do presidente Jair Bolsonaro, se declara ideologicamente como de centro-direita e não tem certeza se será ou não candidato ao Palácio do Planalto nas próximas eleições. Apesar das conversas ainda preliminares, as primeiras avaliações de Moro no campo econômico feitas em eventos voltados ao mercado foram lidas como as de um candidato que se apresenta disposto a tocar a agenda que, idealizada por Paulo Guedes, pouco saiu do papel no governo. Embora ainda adote um discurso bruto sobre temas econômicos, o ex-juiz tem sopesado as palavras para não desagradar e, em linhas gerais, afirma ser favorável a uma reforma administrativa, à simplificação tributária e à privatização de empresas.
Em palestras e eventos com empresários, Sergio Moro já defendeu uma reforma tributária, o enxugamento da máquina pública e, mesmo sem detalhes, um “Estado verdadeiramente reformista”. O ex-juiz também se manifestou contra o aumento na carga tributária, criticou a satanização de servidores públicos e defendeu que setores estratégicos como educação, saúde e segurança pública não possam ser privatizados. Questionado por mais detalhes, se eximiu de apresentar ideias para simplificar a arrecadação de impostos ou melhorar a eficiência da máquina pública e adotou cautela ao comentar a necessidade de um imposto sobre operações digitais nos moldes da extinta CPMF – para ele, sem ter estudado a fundo o tema, uma manifestação seria temerária. Como mostra a edição de VEJA, entre analistas de mercado, a falta de menção explícita contra a privatização de grandes bancos públicos foi interpretada como um sinal.
Faltando quase dois anos para as eleições presidenciais e mantendo conversas periódicas com atores políticos, Sergio Moro também tem finalizado a constituição de seu escritório de advocacia com a esposa, a advogada Rosângela Moro, para atuar na elaboração de políticas de compliance e de investigação corporativa, situação em que a própria companhia faz uma apuração interna em busca de irregularidades. Para minimizar o risco de se tornar vidraça para ataques também na iniciativa privada, ele tem escolhido a dedo os clientes e pretende conciliar a rotina com aulas em duas universidades. Duas instituições de ensino no exterior o convidaram para passar uma temporada fora do país, mas a pandemia de coronavírus adiou temporariamente os planos acadêmicos do ex-ministro.