“Não existe racismo no Brasil”, diz Mourão após morte de negro em supermercado
Da Redação – Revista ISTO É
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta sexta-feira (20) que não existe racismo no Brasil e classificou como “lamentável” a morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, que foi morto por dois seguranças brancos em um supermercado em Porto Alegre. As informações são do jornal Extra.
Questionado sobre o caso ao chegar no Palácio do Planalto no início da tarde, Mourão afirmou que a equipe de segurança do local estava “totalmente despreparada”.
“Lamentável. A princípio, a segurança (estava) totalmente despreparada para a atividade que tem que fazer”, disse. Em seguida, o ex-presidente foi perguntado se via racismo no caso. “Para mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil, não existe aqui.”
Durante a explicação, o vice-presidente fez uma comparação do Brasil com os Estados Unidos. “Eu digo para você com toda tranquilidade: não tem racismo. Eu digo isso para vocês porque eu morei nos Estados Unidos. Racismo tem lá. Eu morei dois anos nos Estados Unidos. Na minha escola, que eu morei lá, o pessoal de cor, ele andava separado. Eu nunca tinha visto isso aqui no Brasil”, justificou.
Laudo médico aponta que João Alberto morreu por asfixia; polícia apura motivação racial
Lucas Rivas – Jorna ESTADÃO
PORTO ALEGRE – Assim como o norte-americano George Floyd, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, pode ter sido morto por asfixia, conforme indicou o primeiro resultado da necropsia realizada pela perícia em Porto Alegre. O homem, negro, foi espancado por seguranças do hipermercado Carrefour, na noite desta quinta-feira, 19.
© Twitter/Reprodução Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra agressões a homem negro no estacionamento do Carrefour
Após colher os primeiros depoimentos, a delegada responsável pelo caso, Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, recebeu, na tarde desta sexta, os médicos legistas para elucidar as causas da morte de João Alberto. Durante as agressões, a vítima também foi imobilizada pelos vigias, com o joelho de um deles nas costas.
“O maior indicativo da necropsia é de que ele foi morto por asfixia, pois ele ficou no chão enquanto os dois seguranças pressionavam e comprimiam o corpo de João Alberto dificultando a respiração dele. Ele não conseguia mais fazer o movimento para respirar”, informou.
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Racismo estrutural
Durante o dia, a delegada disse não ter indícios de se tratar de um caso de racismo. “Até este momento, não deslumbramos nada de cunho racial. Não temos nenhum indicativo por essa motivação”, disse. Conforme a chefe de Polícia do Estado, delegada Nadine Anflor, a investigação segue apurando os fatos para ver se também houve motivação racial no crime. “Com o racismo estrutural da nossa sociedade, estamos apurando se houve motivação no crime da noite passada”
A informação preliminar de que João Alberto teria sofrido um ataque cardíaco enquanto era agredido pelos vigilantes não pôde ser constatada pela perícia. Dois seguranças terceirizados do Carrefour, Giovane Gaspar da Silva, policial militar temporário, e Magno Braz Borges foram levados para prisão. Os dois serão indiciados por homicídio triplamente qualificado – por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
No caso de George Floyd, que algumas pessoas relembraram ao saber da violência da ocorrência em Porto Alegre, uma autópsia independente encomendada pela família da vítima determinou que a causa de sua morte foi “asfixia por pressão constante”.
Polícia Federal vai suspender carteira de vigilante
A Polícia Federal informou que irá suspender a carteira nacional de vigilante de Magno Braz. A PF esclareceu que ele atua como segurança profissional, mas “não há registro na Polícia Federal de seu vínculo profissional com a empresa contratante. A Carteira Nacional de Vigilante, documento expedido pela Polícia Federal, será suspensa”. A PF também pontuou que o PM envolvido no assassinato não possui Carteira Nacional de Vigilante.
A instituição confirmou que o Grupo Vector está com cadastro regular e foi vistoriada no fim de agosto, não tendo sido identificadas irregularidades em seu funcionamento. Em função do crime, será feita fiscalização extraordinária na empresa pela Polícia Federal. “Caso confirmadas as irregularidades, a Polícia Federal poderá autuar e empresa e suspender a autorização de funcionamento”, diz a nota.