Aos que perderam entes

Mauro Condé*

“Confrontar a morte é como encarar o sol, é algo doloroso, mas necessário para o nosso processo de desenvolvimento durante o breve período de tempo que vivemos sob a luz” – Irvi D. Yalom

Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes livros sobre filosofia.

Eles me levaram para o dia 31 de dezembro de 1940, em Paris, onde fui recebido pelo filósofo e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, Henri Bergson, a quem fui logo pedindo:

Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.

-Procure cultivar com carinho os melhores momentos vividos com cada pessoa que não está mais entre nós, como forma de mantê-las vivas para sempre em nossas lembranças.

-A memória e o afeto estão intimamente ligados.

Perspicaz e convincente, Henri Bergson defendeu, em suas obras, teorias sobre o tempo e a memória como parte da nossa essência nesse mundo.

Entre suas várias façanhas, está a lembrança do dia em que ele desafiou Einstein para um debate sobre o tempo e o espaço, durante uma palestra do gênio da física no auditório do Collège de France.

Bergson dizia que basicamente somos o conjunto de todas as nossas memórias agrupadas, ainda que vivendo no tempo presente.
É no presente, na verdade, que construímos todas memórias com as quais dialogaremos no futuro, até o fim da vida.

Ler a obra de Henri Bergson nos motiva a querer criar hoje as melhores memórias possíveis, pois elas serão revisitadas amanhã.
Bergson nos instiga a viver o melhor presente, o melhor aqui e agora, para termos o que lembrar e o termos o que nos orgulhar quando estivermos bem velhinhos.

Aprendi com Bergson e com Guimarães Rosa (“as pessoas não morrem, elas ficam encantadas”) que lembrar de todos os entes queridos, parentes, amigos e conhecidos que já se foram é uma linda forma de homenagem, de mantê-los vivos para sempre.

Todo mundo que se vai desta vida deixa um legado, deixa marcas, deixa lembranças positivas que precisam ser frequentemente regadas e transmitidas para as novas gerações.

Curiosamente, como ocorreu com várias pessoas que morreram nesse ano de 2020, Bergson morreu há quase 80 anos atrás de complicações respiratórias.

Dedico esse artigo a todos os que passaram pela dolorosa experiência de perder algum ente querido para a Covid.

*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco.

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