Brasil precisa decidir se vai continuar fechando fábricas, diz presidente da Anfavea

Luiz Carlos Moraes conta que já faz mais de dois anos que a entidade se queixa dos problemas macroeconômicos que afetam o setor

Por Marli Olmos, Valor — São Paulo


 — Foto: Silvia Costanti / Valor— Foto: Silvia Costanti / Valor

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, decidiu nesta quarta-feira se pronunciar a respeito da decisão da Ford de fechar suas fábricas no país.

“O Brasil precisa decidir se quer reativar a economia ou se vamos continuar fechando fábricas”, disse, em entrevista por vídeo.

Segundo ele, já faz mais de dois anos que a entidade se queixa dos problemas macroeconômicos que afetam o setor, como o que ele chama de “manicômio tributário”. “O Estado é muito pesado; é impossível desenvolver uma indústria com a atual carga tributária”, destacou.

Segundo o dirigente, a indústria automobilística vai investir nos países que forem competitivos. E relembrou estudo já apresentado pela entidade que indicou que produzir carros no Brasil sai 18% mais caro que no México.

Moraes disse também estar preocupado com a perda de competitividade do Brasil no cenário global. “No jogo da competição global vamos entrar sem chuteira, com a bola murcha e a camisa rasgada”, destacou.

Ele disse que antes da pandemia a indústria automobilística trabalhava com ociosidade de mais de 50%. O Brasil tinha capacidade para produzir 5 milhões de veículos por ano, o dobro do necessário hoje. Mas cinco fábricas foram fechadas – quatro da Ford e uma da Mercedes-Benz. Ele calcula que a capacidade agora está entre 4,5 milhões a 4,7 milhões.

Segundo ele, competitividade não é um problema da indústria automobilística, mas, sim, do país, que está atrasado nas reformas, principalmente a tributária.

O dirigente destacou, ainda, que vários parlamentares procuraram a entidade com receio de que a decisão da Ford se estenda a outras montadoras. “Esse foi o benefício que surgiu de um momento tão triste”, disse. “Acho que caiu a ficha”, completou.

“Tom pejorativo”

Moraes reclamou também do “tom pejorativo” com que a indústria automobilística é tratada no Brasil. Ele não citou nomes no país, mas deu um exemplo do exterior : “Na Alemanha, quem fala com as montadoras é a [chanceler] Angela Merkel, porque sabe o valor”.

O dirigente refutou as críticas que se fazem em torno dos incentivos fiscais que foram concedidos ao setor ao longo dos últimos anos. Disse que os benefícios federais foram usados na pesquisa e desenvolvimento de carros com mais tecnologia, mais econômicos e menos poluentes. E que incentivos regionais foram aprovados pelo Congresso “e são legítimos”.

“As montadoras são o pilar do desenvolvimento tecnológico. Temos que parar de desmerecer um ativo como a indústria automobilística”, disse Moraes. Ele também criticou a decisão do governo de São Paulo de elevar o ICMS sobre carros novos e usados. “Esse não é o momento”, destacou.

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