Conseguimos ficar plenamente satisfeitos?
Simone Demolinari
Diz a célebre canção dos Rolling Stones entoada às multidões desde1965: “I can’t get no satisfaction/ ‘Cause I try, and I try, and I try, and I try” (E não consigo me satisfazer, mas eu tento, eu tento, eu tento). Será que somos mesmo eternos insatisfeitos?
A insatisfação na história da humanidade pode ser considerada positiva, pois proporcionou a evolução e fez o homem se movimentar em busca de uma vida melhor. Porém hoje, depois de tantas conquistas, é difícil permanecermos satisfeitos por muito tempo. Vivemos atrás daquilo que não temos, e quando conseguimos perdemos a graça. Entediamos rápido demais e então iniciamos um novo ciclo com um novo desejo que em seguida perde-se o entusiasmo logo depois que se obtém.
Nunca tivemos tantas possibilidades de escolha como atualmente. São inúmeras opções em várias áreas: tecnológica, celulares, viagens, posto de trabalho, curso na faculdade etc. Porém, mais opções de escolha não significam maior grau de satisfação. Ao contrário. O chamado “paradoxo da escolha” implica justamente no sofrimento que ela nos traz, tanto do ponto de vista da paralisia inicial de ter que optar, quanto no pensamento recorrente de dúvida; se fez a escolha certa ou da renúncia de não estar vivendo algo melhor.
Além disso, temos que lidar ainda com as “necessidades” criadas pelo mundo do consumo. O estímulo do mercado nos deixa a sensação de que precisamos possuir algo para ser feliz. Imbuídos desse pensamento, trabalhamos mais para assim conseguirmos mais dinheiro para consumirmos mais. Um buraco sem fundo que muitas vezes sacrifica nossa saúde física e mental e não é preenchido.
O consumismo que inicialmente nos parece proporcionar felicidade, pode ser fonte de profunda angústia. Isso porque o consumo exagerado chega na tentativa de preencher um vazio. Mas, o prazer que ele proporciona é efêmero e logo vem a necessidade de consumir mais. Um ciclo vicioso de conduta autodestrutiva.
Há uma história sobre Sócrates, filosofo grego de 469 a.c, que narra seus passeios pelo mercado de Atenas, onde apreciava uma série de quinquilharias suntuosas, ostentadas pela elite local. Alguns cidadãos curiosos o abordaram e perguntaram: – o que fazes aqui, Sócrates? Não era você que sempre criticava o exibicionismo ateniense? Sócrates, com o olhar sereno respondeu: estou apenas olhando quantas coisas eu não preciso para ser feliz.
Precisamos estar atentos a essa necessidade que criamos pois ela gera em nós uma espécie de “sofreguidão olímpica” de ter que chegar em primeiro lugar, possuir o último modelo de telefone, andar na moda, viajar o mundo, chegar onde ninguém chegou. Além de um estimulo à competitividade, também fomenta sentimentos de inveja, vaidade, estimula relações objetais em detrimento às relações de afeto.
Se não tomarmos consciência dessa “corrida dos ratos”, a vida vira uma olimpíada onde só ganha o número 1, ficando todos os outros insatisfeitos, inclusive o vencedor.
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