Pequenos consensos

Mesmo diante de uma interdição do debate por razões ideológicas no Brasil, forças políticas ainda concordam em alguns pequenos temas no Congresso.

Por RICARDO CORRÊA – JORNAL O TEMPO

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Não há qualquer dúvida de que o Brasil vive hoje a maior polarização ideológica desde a volta da democracia no país. E temos que reconhecer que isso, evidentemente, atravanca o diálogo e a busca de soluções concretas para o país, que vive hoje a tragédia da pandemia, muito mal administrada pelas autoridades e, em especial, pelo governo federal. Mas mesmo diante de uma interdição tão brusca do debate, aparecem aqui e ali alguns consensos. E é sobre eles que pretendo falar hoje.

Qualquer país do mundo que pretenda prosperar precisa de uma agenda mínima. Uma série de objetivos básicos, que precisam ser perseguidos independentemente das visões ideológicas existentes e do embate natural entre governo e oposição. No Brasil, isso se perdeu e, hoje, não conseguiríamos dizer exatamente qual o grande objetivo do país ou qual nossa meta de longo prazo. É por isso que esses pequenos consensos precisam ser valorizados, independentemente das visões acerca do governo que temos, da necessidade de removê-lo ou do que a sociedade fará em 2022.PUBLICIDADE

Esses pequenos consensos podem ser observados em alguns pontos da lista de projetos formalmente considerados prioritários pelo governo federal no Congresso. Há na lista projetos da oposição, hoje encampados pelo Palácio do Planalto, e iniciativas que contaram com o apoio de parlamentares de um arco de partidos que vai da esquerda à direita.

O projeto que implanta o governo digital é um deles. O texto, que traça princípios e regras para a informatização dos serviços no governo é assinado por parlamentares da Rede, do PV, do PSDB, do PSB, do Novo, do Cidadania, do PDT, e tem o apoio do governo, embora a base aliada mais clara do presidente não o tenha criado.

Da mesma forma, como enfatizou o jornal O TEMPO na edição de hoje, o projeto que amplia e acelera as concessões na área florestal também encontra relativo consenso, inclusive com elogios de ambientalistas, que possuem enormes restrições à atuação do Executivo atual nas questões climáticas e ambientais. A presença na lista de um projeto que incentiva a ampliação de uma ideia difundida ainda durante a atuação de Marina Silva como ministra do Meio Ambiente no governo de Lula é importante para aumentar o investimento em preservação.

Também é fato que temos algum consenso em torno da necessidade da reforma tributária. Embora haja divergências em relação ao equilíbrio fiscal, às alternativas para reduzir a tremenda regressividade de nosso sistema ou à criação de novos mecanismos, não há dúvida de que, ao menos na temática da necessidade de simplificação de nosso sistema tributário, o consenso é evidente, o que pode ajudar a fazer tramitar ao menos os pontos básicos de uma fundamental reforma tributária.

O desafio agora, nesse debate difícil, é encontrar outros consensos para que o país, mesmo mergulhado na maior tragédia de sua história e com representantes e instituições se digladiando, consiga aprovar o mínimo possível para garantir algum avanço. É o que nos resta até 2022.

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