Reunião de líderes mundiais quer estabelecer novos compromissos para a redução das emissões de carbono e nasceu do interesse americano de se recolocar como protagonista no cenário internacional após os anos Trump
Redação, O Estado de S.Paulo
A partir desta quinta-feira, 22, líderes mundiais de alguns dos principais países do mundo estarão reunidos na Cúpula de Líderes sobre o Clima. O evento, que será realizado virtualmente em razão da pandemia da covid-19, foi convocado pelo presidente americano, Joe Biden, com o objetivo de discutir a necessidade de novas metas para a redução das emissões de carbono no mundo.
Quarenta líderes mundiais foram convidados a participar da cúpula e, entre os que confirmaram presença, estão os presidentes da China e da Rússia, Xi Jinping e Vladimir Putin, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, cujas nações estão entre os maiores emissores de CO2 do mundo. Além das nações poluidoras, foram convidados também líderes de nações que já são diretamente afetadas pelas mudanças climáticas, como Bangladesh, Jamaica e Quênia.
O Brasil está entre os convidados e será representado pelo presidente Jair Bolsonaro, que confirmou presença no evento. Às vésperas da cúpula, o presidente enviou uma carta escrita em primeira pessoa a Biden, enaltecendo sua gestão na área ambiental e afirmando que o País merece ser pago pelos resultados alcançados no que diz respeito a redução da emissão de gases estufa, preservação de áreas nativas e matriz elétrica limpa. “Inspira-nos a crença de que o Brasil merece ser justamente remunerado pelos serviços ambientais que seus cidadãos têm prestado ao planeta”, escreveu Bolsonaro.
Além da agenda ambiental, o evento também cumpre uma função política para os Estados Unidos, que tenta retomar o protagonismo em temas internacionais após os anos de confronto de Donald Trump com o multilateralismo.
Qual o objetivo da cúpula?
O encontro busca encorajar os países a firmarem compromissos mais arrojados no combate às emissões de carbono para manter viável a meta estabelecida pelo Acordo de Paris, ou seja, impedir que a temperatura média mundial suba 1,5º C acima dos níveis pré-industriais. Desde o acordo, as emissões no mundo apenas aumentaram.
O próprio Acordo de Paris convoca os países a revisitar as suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), que são voluntárias, a cada 5 anos. Isso deveria ter acontecido em 2020, com líderes mundiais anunciando metas mais ambiciosas para 2030 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26), que seria realizada em Glasgow. O evento, contudo, foi remarcado para novembro deste ano razão da pandemia.
No comunicado divulgado pela Casa Branca sobre a convocação dos líderes mundiais para a cúpula, o governo americano afirma que o evento do dia 22 “enfatizará a urgência – e os benefícios econômicos – de uma ação climática mais forte” e que “será um marco importante no caminho para a COP26”.
Algum compromisso vai ser firmado?
A expectativa é que os Estados Unidos anunciem seu novo NDC durante o evento, para coincidir com o Dia da Terra.
Quanto às outras nações, a situação é variável. A União Europeia e o Reino Unido, por exemplo, já apresentaram novos NDCs antes da cúpula e chegam ao evento sem pretensões de assumir novos compromissos. No caso do bloco, os países membros chegaram a um acordo nessa terça-feira, 20, para estabelecer, por lei, o compromisso do tornarem-se neutros para o clima até 2050 e de reduzirem as emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 55% até 2030.
A maioria dos países, contudo, ainda não apresentou os NDCs, o que pode resultar na adesão de novas metas por parte deles. Certamente China e Índia, dois dos maiores emissores de CO2 do mundo e que estarão presentes na cúpula, devem atrair a atenção neste sentido.
O que os principais emissores prometeram até agora?
No ano passado, a China anunciou que o país visa a neutralidade de carbono – o que significa que a quantidade de carbono removido da atmosfera é igual ou superior à emitida – até 2060. Pequim também prometeu atingir o pico de emissões de dióxido de carbono antes de 2030 e ter 25 por cento de seu consumo total de energia vindo de fontes renováveis até 2030. No entanto, a China ainda não apresentou formalmente seu novo NDC.
A União Europeia, terceiro maior emissor do mundo atrás de China e EUA, enviou seus NDCs atualizados à ONU. Eles estabelecem uma meta de redução das emissões em 55% de seu nível de 1990 até 2030, valor que está acima da meta original, que era de 40%. Como os Estados Unidos, pretende ser neutro em carbono até 2050. Os especialistas apontam que mesmo com a atualização, a UE e a China não estão no caminho certo para evitar o aquecimento de 1,5 ° C.
Em seus NDCs originais, a Índia – o quarto maior emissor – prometeu ter fontes de energia renováveis responsáveis por 40% de sua geração total de eletricidade até 2030 e aumentar significativamente a cobertura florestal. Também visa reduzir suas emissões por unidade de Produto Interno Bruto (PIB), uma proporção conhecida como intensidade de emissões, de 33 a 35 por cento em relação ao seu nível de 2005. Nova Delhi, porém, ainda não enviou uma meta atualizada.
Os EUA estão atrás apenas da China no que diz respeito às emissões. Biden reinseriu o país ao Acordo de Paris, onde a meta original era reduzir os gases estufa de 26% a 28% em relação ao nível de 2005 até 2050. As autoridades americanas estão considerando cortar as emissões para o dobro até 2030 como parte de seus novos NDCs. Biden também prometeu trabalhar para tornar os Estados Unidos neutros em carbono até 2050.
Quem estará presente?
Quarenta líderes mundiais foram convidados por Biden para a cúpula. Entre eles estão os presidentes e primeiros-ministros dos países que compõem o Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, que reúne 17 nações responsáveis por aproximadamente 80% das emissões de carbono e do PIB global.
Também foram convidados chefes de outros países que estão demonstrando forte liderança climática, são especialmente vulneráveis aos impactos do clima ou estão traçando caminhos inovadores. Um pequeno número de líderes empresariais e da sociedade civil também participará da cúpula.
Veja quem foi convidado:
Gaston Browne, premiê de Antigua and Barbuda
Alberto Fernandez, presidente da Argentina
Scott Morrison, premiê da Austrália
Sheikh Hasina, premiê de Bangladesh
Lotay Tshering, premiê do Butão
Jair Bolsonaro, presidente do Brasil
Justin Trudeau, premiê do Canadá
Sebastián Piñera, presidente do Chile
Xi Jinping, presidente da China
Iván Duque Márquez, presidente da Colômbia
Félix Tshisekedi, presidente da República Democrática do Congo
Mette Frederiksen, premiê da Dinamarca
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia
Charles Michel, presidente do Conselho Europeu
Emmanuel Macron, presidente da França
Ali Bongo Ondimba, presidente do Gabão
Angela Merkel, chanceler da Alemanha
Narendra Modi, premiê da Índia
Joko Widodo, presidente da Indonésia
Benjamin Netanyahu, premiê de Israel
Mario Draghi, premiê da Itália
Andrew Holness, premiê da Jamaica
Yoshihide Suga, premiê do Japão
Uhuru Kenyatta, presidente do Quênia
David Kabua, presidente das Ilhas Marshall
Andrés Manuel López Obrador, presidente do México
Jacinda Ardern, premiê da Nova Zelândia
Muhammadu Buhari, presidente da Nigéria
Erna Solberg, premiê da Noruega
Andrzej Duda, presidente da Polônia
Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul
Vladimir Putin, presidente da Rússia
Salman bin Abdulaziz Al Saud, rei da Arábia Saudita
Lee Hsien Loong, premiê de Cingapura
Matamela Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul
Pedro Sánchez, premiê da Espanha
Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia
Sheikh Khalifa bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos
Boris Johnson, premiê do Reino Unido
Nguyen Phú Trong, presidente do Vietnã
*COM INFORMAÇÕES DE W.POST, COUNCIL OF FOREIGN RELATIONS E CASA BRANCA
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