A pandemia, além de deixar muitas perdas humanas e materiais, obrigou a humanidade a reconsiderar seus costumes, suas atividades
Hoje gostaria de escrever sobre o fim da pandemia, comemorar o término do maior flagelo que se abateu sobre o Brasil nos últimos cem anos. Terei que aguardar ainda um tempo, que espero ser o mais curto e menos penoso possível. Não há mal que dure para sempre! Voltaremos, certamente, a uma “nova normalidade”, não mais ao que era antes.
A pandemia, além de deixar muitas perdas humanas e materiais, obrigou a humanidade a reconsiderar seus costumes, suas atividades.
Já se pode enxergar, sem bola de cristal, que as restrições, o isolamento, os cuidados sanitários aceleraram mudanças, levaram a explorar as tecnologias que aguardavam uma atenção e uma razão de se impor. Até quem imaginava “impossível” se reunir com proveito com algumas pessoas, ou até centenas, situadas em locais e continentes diferentes, se curvou. É possível, e dá os mesmos resultados. A diferença é a economia de gastos, de viagens, de estadias, de salas de espera, de “presencialismo”.
As compras de produtos tanto necessários quanto supérfluos agora é realizada sem perda de tempo e energia, sentados ao computador, tendo disponíveis opções infindáveis de produtos. Sem correr o risco de não encontrar onde estacionar o carro ou de voltar para casa com um produto que não era o desejado. Livros, cosméticos, aparelhos domésticos, alimentos não perecíveis, até esquisitices de todos os gêneros chegam e podem ser presenteados até do outro lado do planeta, gastando-se menos.
Morar num lugar central e estratégico passava por sérias considerações, agora valorizam-se locais mais aconchegantes e próximos da natureza por uma legião de trabalhadores. Depreciam-se os centros urbanos marcados por trânsito caótico e poluição sonora e ambiental.
Os condomínios fechados tendem a se popularizar e a servir de refúgio da família. O ensino a distância será utilizado intensamente nos cursos superiores. As famílias poderão se transferir para outros países com os filhos matriculados na cidade de origem. A educação a distância não concederá as mesmas vantagens da presencial, mas ampliará outras e dará acesso a uma massa de alunos totalmente excluídos. Poderá permitir acesso às aulas de personalidades geniais, raras e de denso conteúdo, lecionando ao mesmo tempo para milhares de jovens.
O smartphone se impôs na pandemia, quase dobrando o tempo médio de uso. Até as gerações que nasceram sem tevê em casa aprenderam a se ligar à web, a rede de bilhões de outros seres humanos, e usufruir de um oceano de informações.
As casas serão remodeladas, e o conforto se firmará como a principal preocupação de pessoas que trabalham em home office, sempre que possível próximas do ambiente natural.
A preocupação com as águas, o ar e os elementos marcará profundamente a “nova normalidade”. O retorno à natureza provocará um êxodo de pessoas que continuarão em qualquer hipótese conectadas e inseridas no ambiente de trabalho.
As roupas serão mais confortáveis e aconchegantes, o conceito de elegância sofrerá o impacto da simplificação e do minimalismo. Comidas orgânicas, funcionais, caseiras e veganas terão um número expressivo de adeptos.
A prática de esportes, de exercícios, de atenção para uma vida saudável se multiplicará. Haverá um número maior de pessoas dedicadas a práticas de espiritualidade. A biodiversidade terá protetores engajados ao par da causa animal, que cresce a cada dia.
A substituição das energias e dos métodos “sujos” pelos limpos exigirá uma transformação radical, impulsionada pelas mudanças climáticas, na produção de bens de consumo.
As previsões que marcavam os primórdios da New Age na década de 1960 parecem se transformar em realidade. A época em que gurus indianos, como Yogananda, Maharishi, Aurobindo, Krishnamurti, baixavam na Europa e nos Estados Unidos, levados pela revolução cultural – e que levavam a cantar “Era de Aquário” –, e o Hare Krishna não parecem mais tão fora da realidade, e pode se imaginar que com certa inexorabilidade as próximas décadas serão mesmo de uma nova era.
A pandemia fez amadurecer sementes que de outra forma aguardariam sua vez por mais tempo. Uma expressiva parcela da humanidade aspira a ter qualidade de vida, a defender o planeta, acredita no espiritualismo, ambiciona a sustentabilidade, um saber amplo, as artes, a beleza, a manter a alma e a consciência em paz.