William Horta – Jornalista
“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia”.
O povo está na miséria. Os serviços públicos, abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia. A agiotagem explora o juro. A ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. O número de escolas é dramático.
A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do país. Não é uma existência; é uma expiação. Diz-se por toda parte: ‘O país está perdido!’(…) Por isso, aqui começamos a apontar o que podemos chamar de o progresso da decadência.”
Não fui eu quem escreveu isso. Foi José Maria da Eça de Queiroz, em 1871. Esta era a introdução do escrito “As Farpas”, que lançou com Ramalho Ortigão, ainda em Coimbra. Tinha pouco mais de 20 anos quando começou a esculachar em panfletos a mediocridade portuguesa no século XIX, que nos legou esta herança lamentável aqui em casa. Nada mais parecido conosco. Tudo que explode hoje já despontava há cem anos aqui e em Portugal, do qual somos uma xerox administrativa.