Veja dicas do Dr. Bactéria em tempos de pandemia
O biomédico Roberto Figueiredo fala sobre tópicos como a higienização de compras e roupas em meio a uma preocupação que se estende por causa do novo coronavírus. Leia respostas para as perguntas mais comuns sobre o tema
Paula Felix e Ítalo Lo Re, O Estado de S.Paulo
A pandemia do novo coronavírus gerou um verdadeiro abalo nas zonas de conforto. De máscaras a álcool em gel, há pouco mais de um ano, grande parte das pessoas tem tido que aprender um conjunto de coisas novas todos os dias. E isso não é fácil, principalmente quando as orientações acabam mudando ou sendo distorcidas ao longo do tempo.
“Nós tivemos, no ano passado, o recorde brasileiro de intoxicação por produtos de limpeza e o recorde brasileiro de crianças intoxicadas por álcool em gel, com aumento de 30% de queimados. Muitas coisas que o pessoal fazia eram realmente um excesso, que não precisava ter feito”, explica o biomédico Roberto Figueiredo, conhecido como Doutor Bactéria.
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“Todo mundo, de repente, virou técnico em higiene. Inclusive, as concentrações (recomendadas) que eram dadas, as pessoas modificavam. Falavam ‘duas colheres de tal produto’, o pessoal colocava dois copos”, conta o biomédico. Para tentar desmistificar alguns pontos em relação aos hábitos adotados na pandemia, ele concedeu uma entrevista à repórter Paula Félix, transmitida em live pelo Estadão. Confira alguma das principais perguntas:
Como proceder ao chegar com compras em casa?
A recomendação do Doutor Bactéria, ao menos em embalagens de arroz, feijão, enlatados e vidrarias, é fazer uma mistura com um litro de água, uma colher de sopa de bicarbonato de sódio e uma colher de sopa de detergente. Depois, pode-se colocar essa mistura em um borrifador e higienizar as embalagens.
Segundo o biomédico, essa higienização não deve ser feita só no contexto de pandemia, já que as chances de contaminação pelo novo coronavírus são bastante remotas por essa forma. Os procedimentos de higienização de produtos que vêm do supermercado podem ser úteis em outros contextos, como para evitar a leptospirose.
De que forma higienizar entregas de delivery?
O mesmo procedimento feito com produtos que chegam do supermercado também pode ser adotado ao receber embalagens de delivery, explica o Doutor Bactéria. O que ele não recomenda, se o pedido for uma pizza, é pedir recheios com rúcula, cebola ou azeitona. Isso porque não tem como saber a higienização que foi feita nesses alimentos e não tem nenhum processo posterior de higienização, como o cozimento.
Como higienizar frutas compradas no mercado?
A primeira dica do Doutor Bactéria é não lavar as frutas e legumes assim que tiver chegado em casa. Se forem lavados com água na mesma temperatura, os alimentos vão absorver a água para dentro, levando a contaminação que está na casca. Para evitar que isso aconteça, o indicado é trocar o saco plástico por outro recipiente, colocar na geladeira por ao menos por duas horas, lavar e depois deixar por 10 minutos em uma solução que consiste em uma colher de sopa de água sanitária em um litro de água.
Feito isso, o procedimento final é lavar novamente e colocar na fruteira ou onde se costuma deixar. Alimentos como a banana, que não há a recomendação de serem refrigerados, não precisam passar pela etapa da geladeira. Já frutas que já estão muito maduras requerem uma atenção especial, para evitar a infestação e, consequentemente, a contaminação por moscas.
De que maneira higienizar as mãos de forma correta?
Assim que estiver dentro de casa, o recomendado é lavar as mãos com água e sabão, esfregando todos os cantos. “Álcool em gel é só para você utilizar quando estiver fora da sua casa, porque ele é inflamável”, diz o Doutor Bactéria. Segundo ele, lavar a mão com álcool em gel corretamente tem 85% de eficiência, já lavar a mão com água e sabão tem 91% de eficiência para reduzir as contaminações.
Tirar os sapatos ao chegar em casa é um bom hábito?
Esse foi um dos bons hábitos que a pandemia trouxe, já que os sapatos das pessoas entram em contato com muita coisa quando estão fora de casa, destaca Roberto Figueiredo. A recomendação é, se possível, deixar os sapatos para fora ou próximos à porta. “Eu indico até deixar um pouquinho de bicarbonato, para colocar dentro do sapato, porque elimina chulé, contaminação e é excelente”, diz.
Além disso, outra indicação é usar um capacho (tapete) que seja de vinil. “Só o capacho já tiraria 85% da contaminação. Se você colocar ainda uma solução de 3 colheres de sopa de água sanitária por litro de água (para borrifar), você vai reduzir mais de 95%”, complementa.
É necessário tirar as roupas ao chegar em casa?
Essa prática não é exatamente recomendada pelo biomédico. A orientação é, caso tenha permanecido por muito tempo fora de casa, trocar de roupa antes de ir até o quarto. Outro ponto, se tiver ficado fora de casa mais de quatro ou cinco horas, é tomar banho e lavar o cabelo. “O fato de lavar o cabelo é um ato realmente de higiene corporal”, explica.
Em quais casos deve-se colocar a roupa para lavar assim que chegar da rua?
“Se você foi no hospital ou foi no cemitério, com isso não tem acordo: você tem que tirar a roupa toda e tem que colocar para lavar”, diz. Em outros casos, ele ressalta que a lavagem normal, assim como é feito com outras roupas, já é o suficiente. Em casos de blazer ou calça jeans que ainda não estão sujos, basta deixá-los pendurados até o dia seguinte. Segundo ele, essa é a indicação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) desde julho do ano passado.
É recomendado utilizar algum sabonete específico ao chegar em casa?
De acordo com o Doutor Bactéria, não. Inclusive, o excesso de invenções pode acabar sendo prejudicial. “Se você lavar a mão mais de 8 vezes por dia, a (chance de) contaminação diminui. Se lavar a mão mais de 25 vezes por dia, a (chance de) contaminação volta a aumentar. Porque você diminui a resistência da pele e acaba justamente com as bactérias que protegem, que fazem parte da sua flora normal de pele”, explica.
Como exemplo, ele relembra ainda que a comercialização de sabonetes bactericidas é proibida nos Estados Unidos. “Porque não conseguiram comprovar a eficácia deles, então, não recomendo utilizar”, diz. Desse modo, o caminho é comprar produtos que estejam aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e não inventar.
O que evitar fazer?
“A mais terrível das misturas é colocar água sanitária com vinagre”, alerta o biomédico, já que essa é uma mistura que libera um gás tóxico e pode ser prejudicial à saúde das pessoas. Além disso, o biomédico reforça a importância de ler rótulos e conferir o que eles informam. “Todo produto só é indicado para você misturar com água. O resto não misture com nada, a não ser que esteja escrito no rótulo ou então que você tenha indicação de uma pessoa idônea.”
Qual é a proporção certa para usar a água sanitária?
Para usar a água sanitária, o indicado é utilizar duas colheres de sopa a cada litro de água, mas a casa tem que estar limpa e desodorizada para receber essa solução.
Como alternativa, a indicação do Doutor Bactéria é usar uma mistura que consiste em um litro de água, uma colher de sopa de detergente e uma colher de sopa de bicarbonato. “O detergente serve para limpar, junto com a água, e o bicarbonato serve para desodorizar”, diz. Se a busca for por odores específicos em casa, a indicação é comprar um odorizante ambiental e passar. “A limpeza não tem odor”, diz o biomédico. Ele reforça ainda que não é necessária a utilização de desinfetante.
Em tempos de home office, como higienizar eletrônicos?
Ao pensar na higienização de eletrônicos, uma premissa deve estar em mente: a água é inimiga de aparelhos eletrônicos. Desse modo, detergente e álcool 70 não são recomendados, já que ambos contêm água.
Por sua vez, o recomendado pelo biomédico é o álcool isopropílico, que é comprado em lojas de materiais eletrônicos ou na internet. “Você pega um lenço de papel, umedece levemente e passa no aparelho a ser higienizado”, orienta. As frequências indicadas para higienização dos aparelhos são:
- Celular: uma vez ao dia
- Controle remoto: uma vez por semana
- Microcomputador: quinzenal ou mensalmente