Narcoestado

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

Presidente Pedro Pablo Kuczynski presenció la firma del acuerdo de Paz en Colombia

Acordo de paz entre o governo colombiano e as Farc: em busca por um impossível “perdão coletivo”, a Colômbia reabilitou as Farc e sofre as consequências.| Foto:


Neste São João, a opinião pública de língua espanhola estava chocada com as Farc. E eu, me inteirando da situação, fico chocada com uma opinião pública capaz de se chocar com as Farc. Na Colômbia agora eles estão com uma Comissão da Verdade feita para os terroristas das Farc pedirem perdão às suas vítimas sobreviventes. Estas consistem, mais notoriamente, em vítimas de sequestro, o qual, assim como a cocaína, servia de financiamento para a guerrilha.

O território da Colômbia é menor do que o de São Paulo, sua população é um pouco maior do que a do estado e esse território tem uma significativa parcela tomada pela selva amazônica. O PCC tentou aderir à moda no Brasil e não conseguiu. Foi o terrorista chileno Norambuena, comunista, o responsável pelo sequestro de Washington Olivetto, além de ser uma espécie de tutor de Marcola, líder do PCC.

Pois bem. Imaginem um país onde se pode pegar um Washinton Olivetto no centro econômico, levar para a Amazônia e mantê-lo em cativeiro. Esse país é a Colômbia, e as FARC tinham capacidade logística de manter um rebanho humano de sequestrados por anos. Se o resgate não viesse, era só matar. A vítima de sequestro mais famosa é Ingrid Betancourt, que se candidatou à presidência, foi sequestrada e passou seis anos em cativeiro.

Em 2016, o presidente Juan Manuel Santos fez um plebiscito para decidir se a Colômbia aceitaria a rendição das Farc num acordo intermediado por Havana. O “não” ganhou por um triz: 50,2% dos votos.

Mas lá, tal como cá, plebiscito é feito só para o governo tentar legitimar o que ele vai fazer de qualquer jeito. O acordo foi firmado, as Farc agora são um partido político e ganharam uma representação no Congresso sem direito a voto. Ou seja: os parlamentares das FARC não foram eleitos, logo, não podem votar; mas podem ficar lá apresentando seus pontos de vista, como se fossem parlamentares normais.

O escândalo deste São João se deu quando um homem que passou dois anos em cativeiro perdoou as Farc, rogou que houvesse paz na Colômbia e, com a voz embargada, disse a Julián Gallo (nome civil do líder conhecido pelo nome de guerra Carlos Antonio Lozada) que gostaria de ouvir dele um pedido de perdão. Julián Gallo pegou o microfone, falou pelos cotovelos, falou das “causas estruturais que originaram o conflito no campo colombiano” (ou seja, que originaram as Farc) e da necessidade de mudar tais “causas estruturais” para criar uma “verdadeira democracia” (“inclusiva, participativa”) e, aí sim, alcançar a paz na Colômbia (“para que não tenhamos [sic] que resolver os problemas colombianos por meio das armas”).

Alguém na plateia grita perguntando pelo pedido de perdão. O velho Lozada – pois é ele quem fala, não a ficção do civil Julián Gallo –  responde que as Farc não vão pedir perdão o tempo inteiro, pois o perdão tem que sair do coração. E esse foi o escândalo da opinião pública de língua espanhola. (Você pode ler e ver aqui ou aqui).

Lozada tem razão quanto ao perdão
Acredito que um terrorista possa se arrepender de seus atos. Aqui no Brasil mesmo, temos Fernando Gabeira como um exemplo famoso. Entre os islâmicos, há o inglês Maajid Nawaz. Mas foram arrependimentos individuais. Não disseram “nós, a organização tal, vamos nos arrepender e nos render se tais e tais condições forem cumpridas”, porque não existe arrependimento coletivo. Ou, se a soma dos indivíduos de uma organização terrorista se arrependesse, seria de esperar que se entregassem à polícia voluntariamente. Suas únicas negociações seriam de proteção contra os ex-companheiros e leniência do judiciário para revelarem tudo o que sabem.

Se um acordo de paz é feito nessas condições, é óbvio que o pedido de perdão é um teatro – não vem do coração, para usar a expressão de Lozada. Como as vítimas puderam pensar diferente?

O resultado do plebiscito também é muito alto. Se o estado brasileiro propusesse algo análogo para o PCC ou o CV, jamais teríamos uma vitória por margem tão pequena. Creio que a expressiva votação do “sim” se deva a dois fatores: um, um pragmatismo burro (aceitar qualquer coisa vendida como remédio para a guerra civil); outro, a autoridade moral das vítimas, já que Ingrid Betancourt fez campanha pelo acordo de paz. “Se a mulher culta e instruída que deixou de ver os filhos crescerem porque ficou em cativeiro diz que devemos perdoar seus captores, quem seria eu para dizer que não?”, perguntaria o colombiano.

No entanto, lá estava Lozada dizendo o óbvio e mostrando o óbvio. No seu pequeno discurso, mostra que não enxerga culpa nenhuma no que fez e que, antes, põe tudo no universo amoral da causalidade. Foram “causas estruturais” que levaram à existência das Farc, e não a perversão e imoralidade dos membros que as compunham. E, existindo ainda essas “causas estruturais”, existem também motivos para pegar em armas. De fato, a Colômbia segue convivendo com terrorismo marxista. Ainda há dissidentes das Farc em atuação e o ELN nunca deixou de atuar.

A guerrilha deles foi motivada por ideologia. Parece que todos os letrados são Suplicy e querem achar que a instauração do Renda Mínima acabaria com a existência do mal. Se a ideologia de Lozada permanece a mesma, a causa do terrorismo ainda está viva.

A elite cultural que costurou o acordo de paz é cega para o mal. Em sua cegueira, não percebe que põe seus pescoços e os pescoços alheios sob a navalha de terroristas. Seria apenas um drama pessoal, se sua influência não servisse para atropelar resultado de plebiscito. Quando se chega a esse ponto, tornam-se coautores dos crimes das Farc praticados na Colômbia desde então.

Brasil entregue aos sócios de cegueira
Poderia registrar que o Brasil nunca reconheceu as Farc como grupo terrorista e que se negou a fazê-lo quando lhe foi expressamente pedido em 2003, nos tempos de Marco Aurélio Garcia. Poderia dizer ainda que as Farc faziam parte do Foro de São Paulo antes do acordo de paz, junto com uma porção de partidos brasileiros (PT, PDT, PPS – atual Cidadania – e PSB). Poderia comentar que as Farc já voltaram a frequentar reuniões do Foro, como mostrou esta Gazeta do Povo e frisar que, dos partidos listados, só o PSB não consta mais na página do Foro como membro.

Mas vou ficar com duas notícias só, bem frescas, dadas este fim de semana nesta Gazeta do Povo. A primeira é a notícia de que o quase homicida Manino do PT – aquele que empurrou contra um caminhão em movimento um homem que blasfemou contra São Lula – não só está livre, leve e solto, como ainda foi premiado por seu partido com um salário de 10 mil reais na Fundação Florestan Fernandes. Ironia do destino é a fundação ter o nome do intelectual uspiano fundador do PT e grande propagandista do racismo no Brasil. Esse é o partido que os letrados tentam nos vender como moderado e democrático, enquanto que Bolsonaro é um genocida e o pior presidente da história.

A outra notícia é digna da Alemanha Nazista. Ao que parece, pesquisadores intubaram paciente de Covid que não apresentou sintomas, deram doses sabidamente letais de cloroquina a quem não necessariamente tinha Covid e fizeram gente participar de experimentos sem pedir consentimento. Se isso realmente aconteceu – e o país deveria voltar todas as suas atenções a essa história – esses pesquisadores praticaram assassinatos e violaram o Código de Nuremberg, criado justamente para que não existam mais Doutores Mengeles por aí. Tudo isso serve para inflar as estatísticas de morte por Covid e para tirar de cena um remédio barato, “provando” que ele não funciona. Sem remédios baratos e com estatísticas altas, usa-se a opinião pública contra o governo, seja para derrubá-lo, seja para encher os bolsos da Pfizer ou da Sinopharm.

Que o PT seja normalizado e que essa história seja negligenciada, só mostra que a maioria da imprensa e dos bons-moços (aqueles autodeclarados “liberais”) está disposta a colocar o próprio pescoço, e o nosso junto, sob a lâmina de terroristas e mercenários.

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