Marcelo Godoy – Jornal Estadão
Quando o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, usou a expressão “lado podre das Forças Armadas” para designar envolvidos com supostas falcatruas no governo de Jair Bolsonaro, de imediato começaram as consultas entre os chefes militares. Os comandantes e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, viram na fala de um ex-secretário da Segurança Pública – Aziz ocupou o cargo no Amazonas – uma referência à “banda podre” das polícias, uma generalização considerada “inaceitável” pela cúpula militar.© Edilson Rodrigues/Agência Senado Senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid.
Mesmo o comandante do Exército, Paulo Sérgio de Oliveira, que estava visitando unidades no Rio Grande do Sul, contribuiu com a redação do documento. No fim, a expressão “lado podre” não entrou na nota. Mas ela provocou a reação, assim como a palavra “genocídio”, usada pelo ministro Gilmar Mendes ao comentar a atuação dos militares na pandemia, provocara outra nota, em 2020. Os comandantes decidiram reagir ainda que a ação fosse interpretada como adesão a Bolsonaro ou como ameaça, conforme acusaram ontem 60 entidades reunidas no Pacto pela Democracia. Também não mencionaram as denúncias contra os coronéis da Saúde. Disseram apenas que as Forças se “pautam pela observância da lei”.
Historicamente, toda vez que as Forças são confrontadas por civis, as divisões entre generais são esquecidas e eles procuram agir unidos – nesta quinta-feira, 8, até o ex-ministro Carlos Alberto Santos Cruz criticou a expressão “lado podre”. Mas ao tentarem impedir novos ataques às Forças Armadas na CPI, os comandantes permitiram a Bolsonaro e aos bolsonaristas usarem o episódio para vincular mais uma vez os militares ao governo. Símbolo disso foi o fato de o presidente e bolsonaristas terem distribuído a nota dos generais antes mesmo de o Ministério da Defesa divulgar o documento.
* É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ESTADÃO’