Por
Guilherme Fiuza – Gazeta do Povo
| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Você está preocupado à toa com a eleição do ano que vem. Está tudo bem. A corte que reabilitou Lula, tornando-o elegível apesar dos seus crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, tem um ministro bem atento na presidência do TSE – que já contratou simpatizante petista para explicar que o sistema é seguro e à prova de fraude. Dá ou não dá uma tranquilidade total isso aí?
Não há o que temer. Quem põe um ladrão no jogo e usa simpatizante dele para atestar que o jogo será limpo só pode estar bem intencionado.
Esse mesmo ministro diligente esteve nos Estados Unidos na eleição presidencial e concluiu em 24 horas que o processo foi perfeito. As próprias instituições americanas levaram dois meses averiguando uma torrente de indícios de fraude – e apesar da diplomação do novo presidente estão averiguando até hoje em vários estados – mas o observador oficial brasileiro é mais sagaz do que todas as instituições norte-americanas juntas: a ele bastou uma olhada por alto para dar o veredicto instantâneo da lisura.
E a proposta da instituição no Brasil do voto auditável, por meio de comprovante impresso? Não precisa. Não é o caso. Deixa pra lá. Assim tá bom. Não esquenta – argumentaram os eminentes árbitros do processo. Mas a matéria seguiu em frente, as audiências trouxeram técnicos comprovando a possibilidade de fraudar as urnas inauditáveis, e aí o deixa pra lá virou de jeito nenhum!
Pelo menos duas togas esvoaçantes decolaram da suprema caverna em direção ao poder parlamentar – e reuniram em torno de si um bom punhado de líderes partidários. Depois desse movimento cinematográfico, tudo mudou. A comissão temática do voto auditável sofreu uma metamorfose ao vivo. Com vários transplantes de membros, deixou de ser um fórum favorável ao aprimoramento da segurança eleitoral para se tornar um matadouro do voto auditável. Santa coincidência, Batman!
Detalhe: tudo isso à luz do dia, na cara de todo mundo. Não tem ninguém inibido nesse front. Deputados que participaram das audiências e formaram seu juízo a partir de discussões técnicas foram simplesmente rifados pelos partidos e substituídos por integrantes novinhos em folha que não tinham participado de nada. Santa convicção, Batman! E de onde terá vindo tão súbita e irremovível convicção contra a instituição do voto auditável? Adivinha.
Repetindo: não tem ninguém inibido nesse exótico balé de togas e gravatas. Inibido aqui só você, que está vendo essa coreografia estático, da primeira fila – e nas piruetas mais arrojadas as togas e as gravatas chegam a dar na sua cara. Continua sentado aí até a eleição de 2022 pra ver o que te acontece.
Então o resumo é esse: o anseio de grande parte da sociedade por mais segurança no processo eleitoral está em jogo numa comissão da Câmara que foi operada por um lobby togado, na frente de todo mundo, para assassinar a reforma no nascedouro. Esse lobby acha que vai matar a possibilidade de auditagem da eleição com uma manobra de gabinete, metendo o bisturi numa comissão restrita, transplantando uns deputados e correndo pro abraço.
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