Saúde

Por
Célio Martins – Gazeta do Povo

| Foto: Reprodução/nih.gov

A empresa Johnson & Johnson e três distribuidores de medicamentos dos Estados Unidos – McKesson Corp., Cardinal Health Inc. e AmerisourceBergen Corp. – concordaram nesta semana em pagar US$ 26 bilhões (R$ 135 bilhões) para resolver cerca de 4 mil processos na justiça em que são acusadas de alimentar vício em opioides. O caso, que ganhou destaque na grande imprensa, faz parte de um problema bem maior: a ‘pandemia de opioide’ que a cada ano demonstra escapar do controle das autoridades de saúde de países em todo o mundo.

Dados do Centro Nacional de Estatística em Saúde dos Estados Unidos (National Center for Health Statistics), divulgados neste mês, mostram que as overdoses fatais aumentaram quase 30% no ano passado, para um total de mais de 93 mil mortes no país. Grande parte dos óbitos é atribuída ao aumento do uso de opioides sintéticos.

Mortes por uso irregular e vício em opioides aumentam a cada ano nos EUA.
De acordo com o Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), em 2020, os opioides estavam envolvidos em três quartos de todas as mortes relacionadas às drogas nos Estados Unidos, levando à morte 69,7 mil pessoas. Opioides sintéticos foram encontrados na corrente sanguínea de 62% das vítimas de overdose em 2020, em comparação com 41% em 2017.

Um dos opioides sintéticos responsáveis por boa parte das mortes leva o nome de fentanil, analgésico que se caracteriza, segundo as descrições, pela rápida ação, curta duração e elevada potência (entre 50 a 100 vezes mais forte que a morfina e entre 30 a 50 vezes mais potente que o heroína). É utilizado contra dores intensas e, em conjunto com outras substâncias, para anestesias.

O problema extrapola as fronteiras dos EUA. O crescente consumo de opioides fez com que parte da comercialização entrasse na ilegalidade. Sejam produzidos e vendidos legalmente ou ilegalmente, os opioides sintéticos ganham terreno na Europa, na Ásia e na América Latina.

Em 2108, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) lançou uma estratégia para ajudar os países no enfrentamento da crise dos opioides. “Nos últimos 150 anos, a humanidade experimentou várias crises de opioides, mas nenhuma tão devastadora quanto a atual”, observa a entidade. “Por exemplo, em 2017, o uso de opioides foi responsável por 110 mil (66%) das 167 mil mortes em todo o mundo atribuídas às drogas”, acrescenta.

No ano seguinte, em 2019, um relatório do Unodc alertava que “os opioides sintéticos continuam representando uma séria ameaça à saúde pública, num contexto marcado pelo número crescente de mortes por overdose na América do Norte e pela expansão do tráfico de fentantil e seus análogos na Europa”.

Taxa de mortes causadas pelos opioides fentanil e tramadol é a que mais cresce nos EUA.
Em muitos países em desenvolvimento, como o Brasil, a realidade é diferente da registrada nos países ricos devido às dificuldades de acesso a esse tipo de droga. A disponibilidade e acesso a opioides no tratamento correto de determinadas dores são insuficientes, seja pelo custo ou pela política pública da vigilância sanitária, segundo descrevem em artigo os professores Durval Campos Kraychete e João Batista Santos Garcia, da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED). Por outro lado, o consumo irregular de opioides por brasileiros vem aumentando.

Uma pesquisa da Fiocruz indica que 4,4 milhões de brasileiros já fizeram uso ilegal (isto é, sem indicação médica) de algum opiáceo. Outro estudo, publicado no American Journal of Public Health, com base em dados da Anvisa, revela que a venda prescrita desse tipo de analgésico no Brasil cresceu 465% em seis anos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 30% da população mundial apresenta dor crônica. As autoridades de saúde de todo o mundo têm um grande desafio pela frente: como enfrentar o problema da dor e ao mesmo tempo evitar que o vício em analgésicos aumente a ‘pandemia de opioides’ e leve à morte milhões de pessoas por uso irregular.


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By valeon

2 thoughts on “Opioides, a outra pandemia que o mundo precisa enfrentar”
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