Volta às aulas
Por
Cristina Graeml – Gazeta do Povo
Volta às aulas é um desses temas que nem deveriam constar do noticiário, mas por já terem sido superados. Infelizmente ainda não foi e precisamos seguir falando dele e da necessidade urgente de nos unirmos para pedir que governadores e prefeitos reabram as escolas.
Mais um período de férias está terminando e vamos mesmo continuar mantendo crianças, adolescentes e jovens em casa pelo quarto semestre seguido, sem estímulo para estudar, muitos sem condições adequadas para o ensino à distância?
Na última terça-feira (20) o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, convocando professores e estudantes a retomar as aulas presenciais. E pedindo apoio às famílias e a toda a sociedade.
No discurso sereno, direto, deu algumas informações para garantir tranquilidade e disse o óbvio: há prejuízos incalculáveis para a educação de toda uma geração com tantas escolas ainda fechadas, depois de um ano e meio de pandemia.
Por incrível que pareça, teve gente que ainda tentou fazer barulho em cima do apelo do ministro, com a velha ladainha de genocídio ou coisa que o valha. São os mesmos de sempre, esperneando contra tudo que parte do governo federal, pouco importa o que seja, nem mesmo que seja algo bom para o Brasil.
Quem quer atrapalhar o desenvolvimento do país, porque só aceita que ele seja comandado por uma única vertente política, vai sempre torcer contra. Só que o ministro estava falando de crianças, adolescentes e jovens e de suas rotinas, ou da necessidade de voltarem à rotina.
Sem volta às aulas o futuro está comprometido
Estamos falando de Educação, do futuro do Brasil, de quem vai estar à frente do país nas próximas décadas, quando nós, os trabalhadores de hoje, estivemos aposentados, precisando da população economicamente ativa para seguir vivendo bem. Essa geração está em compasso de espera há muito tempo.
Pense o que representa um ano e meio na vida de quem tem 6 aninhos. É um quarto da vida (25% de todo o tempo já vivido), parado, preso dentro de casa. É como se um adulto de 40 anos tivesse ficado trancado por uma década inteira, sem produzir nada ou produzindo muito pouco e de forma precária.
No pronunciamento à nação, o ministro começou saudando professores e estudantes, mas seguiu falando para todos os brasileiros. Isso inclui as famílias dos alunos e todos os profissionais de alguma forma envolvidos no acesso de crianças e jovens às escolas e universidades.
Aqui entram cobradores e motoristas de ônibus, de vans escolares, profissionais de segurança e limpeza, fornecedores de materiais e de merenda para as escolas, praticamente todo mundo que tem alguma ligação com o ambiente escolar.
Ao falar aos estudantes e professores, especificamente, o ministro disse: “Quero conclamá-los ao retorno às aulas presenciais”. Para os pais, mandou um recado direto: “Não devemos privar nossos filhos do aprendizado necessário para a formação acadêmica e profissional deles.”
“O Brasil não pode continuar com as escolas fechadas, gerando impactos negativos nestas e nas futuras gerações”.
Ministro da Educação, Milton Ribeiro, em pronunciamento de rádio e TV
Para embasar o pedido pela volta às aulas, o ministro citou estudos da UNESCO, da Unicef e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Todos apontam que o fechamento de escolas traz consequências devastadoras para os alunos.
A lista vai da perda de aprendizagem ao aumento do abandono escolar; do atraso na qualificação para o trabalho à interrupção dos avanços da Ciência, ou do “progresso do conhecimento”, nas palavras do ministro. Ou seja, manter crianças e jovens fora da escola é retrocesso. É o país colocando uma represa nos rios de conhecimento que correm em direção ao futuro.
Gerações à espera da volta às aulas
Há ainda que se considerar os problemas emocionais que escolas e universidades fechadas estão provocando não em uma, mas em três gerações, começando pelos jovens universitários, que estão batendo nas portas do mercado de trabalho.
Já há registros de que estes chegam, em grande parte, com inteligência emocional comprometida, muito pela falta de habilidade em lidar com pessoas, que deixou de ser exercitada no ambiente universitário. Outra geração afetada é a dos adolescentes ou daqueles que adolesceram na pandemia.
Muitos meninos e meninas de 12 a 17 anos estão com depressão e até síndrome do pânico, não conseguem mais sair de casa, acham que o mundo é um poço de perigos e não, de desafios estimulantes e atrativos. Esses, obviamente, terão ainda mais dificuldade para encarar a volta às aulas e retomar os estudos.
E tem a geração de crianças, que regrediu emocionalmente. Quantos e quantos casos foram relatados nessa pandemia aos pediatras! Crianças que já caminhavam, já não usavam fraldas, que estavam falando, cheias de ideias, já tinham se liberado de chupetas e voltaram a colocar o dedo na boca, fazer xixi na cama, regrediram na linguagem. É como se estivessem gritando por socorro, numa espécie de síndrome do pânico infantil.
Embora as crianças, em geral, tenham uma percepção de que em casa estão protegidas de tudo, a falta da rotina da escola, de conviver com coleguinhas, de respeitar outras vozes de comando, que não a dos pais ou avós, tudo implica em retardo emocional, além de atraso no aprendizado.
Escolas fechadas X escolas abertas
Escola fechada é atraso. Por mais que no começo da pandemia houvesse quase que um consenso de que fechar tudo era a melhor coisa a fazer (até porque não se tinha muita informação de nada), com o passar das semanas fomos aprendendo os cuidados necessários para evitar o contágio.
Notícias passaram a chegar, vindas de médicos e cientistas, dando conta de que as crianças não são os maiores vetores de transmissão. Hoje sabemos que os pequenos se contaminam, mas costumam ser assintomáticos. Quando têm sintomas, são quase sempre leves, sem maiores comprometimentos de saúde.
O ministro lembrou que vários países retornaram às aulas presenciais ainda em 2020, quando sequer havia previsão de vacinação. Gosto de citar dois em específico, EUA e Espanha, por acompanhar mais de perto, já que tenho parentes e amigos morando lá.
Nesses dois países, praticamente todas as escolas reabriram em agosto do ano passado, quando começou um novo ano letivo, que no hemisfério Norte começa no meio do ano, logo depois das férias de verão.
Está certo que os vírus de gripe costumam circular mais no inverno. E em agosto, aqui no hemisfério Sul, vivemos o auge da estação fria. Mas, no ano passado, foi bem este o mês em que as curvas de contágio e de mortes da primeira onda de Covid no Brasil começaram a cair drasticamente.
Em alguns estados os governos até afrouxaram o lockdown em agosto, dentro de regras sanitárias específicas, para garantir segurança aos alunos e professores. Muitas cidades retomaram as aulas já no segundo semestre do ano passado.
Em outro vídeo, falei sobre a pesquisa feita no estado de São Paulo, comparando cidades paulistas que reabriram as escolas no ano passado com as que não reabriram. Os pesquisadores – um grupo sério, comprometido e que fez estudos estatísticos – concluíram que não houve aumento nem no número de casos e muito menos no de mortes por Covid nas cidades que retomaram as aulas.
O uso de álcool em gel, de máscaras e o distanciamento físico, assim como o controle de entrada, saída e intervalos com escalonamento de turmas para não haver aglomeração, garantiram segurança a todos e a vida seguiu, sem qualquer problema. Por que, então ainda há cidades e estados inteiros com colégios fechados?
Volta às aulas: como está a retomada presencial nos estados brasileiros
Os países que reabriram escolas já estão com os alunos em sala de aula há muito tempo. Precisamos correr atrás desse prejuízo, não dá mais para esperar. Como disse acima, o segundo semestre de 2021 está começando. E, queiram ou não os opositores, a vacinação está bem avançada no Brasil, somos dos países que mais vacinam no mundo.
Professores já foram vacinados, a média móvel de casos está caindo, assim como a ocupação de leitos nos hospitais. É preciso olhar para tudo isso com serenidade e retomar a rotina.
Responsabilidade
O ministro Milton Ribeiro reforçou que, no Brasil, a decisão de fechar escolas foi delegada a estados e municípios. Sabemos que esta foi uma determinação do STF. Por causa dela, o governo federal foi impedido de atuar em muitas áreas, entre elas nessa questão do funcionamento das instituições de ensino.
No pronunciamento, o ministro disse com todas as letras que “o ministério da Educação não pode determinar o retorno presencial às aulas, caso contrário eu já teria determinado.” Segundo Milton Ribeiro, logo no começo da pandemia o MEC criou um Comitê Operativo de Emergência para manter contato e orientar prefeituras, governos de estado, secretarias de educação, escolas e universidades.
O poder de decisão, no entanto, sempre esteve nas mãos de prefeitos e governadores. Muita coisa errada aconteceu por causa disso, mas há um lado bom. O governador e o prefeito são os governantes que estão mais próximos de nós e os que dependem apenas dos eleitores locais para continuar na política. Eles deveriam ouvir o clamor das ruas sob pena de serem banidos da vida pública nas próximas eleições.
Está mais do que na hora de todo mundo começar a falar sobre a volta às aulas. Nas redes sociais já dá para fazer um bom barulho, procurando o perfil do prefeito e do governador para marcá-los nas postagens, mandar e-mail, ligar, reclamar.
Esse negócio já foi longe demais, tanto que surgiram movimentos de pais clamando por escolas abertas e volta às aulas presenciais. Muitos governadores insistem em fechar os olhos para tudo isso e mantém as escolas fechadas para atender a interesses ideológicos, especialmente de sindicatos.
E não tem essa de que as escolas públicas não têm condições de reabrir, porque faltam recursos até para comprar álcool em gel. O Ministério da Educação diz ter investido 1,7 bilhão de reais para enfrentamento da Covid na rede pública de ensino, tanto na educação básica quanto na superior.
Ainda que sindicatos de professores estejam esperneando, como de praxe, dizendo que só voltam às aulas quando todo mundo estiver vacinado, a comunidade escolar está atenta e vendo os professores tendo acesso prioritário às vacinas.
Isso não aconteceu por acaso. A pedido do próprio MEC, o Ministério da Saúde incluiu os professores nos grupos prioritários de vacinação. Quase todos já foram vacinados. Nós pais, tios, avós, qualquer um que tenha estudantes na família, precisamos nos unir em torno dessa causa.
Termino repetindo mais duas frases ditas pelo ministro no pronunciamento recente. “Caros pais, estudantes e profissionais de Educação: não podemos mais adiar este momento. O retorno às aulas presenciais é uma necessidade urgente.”
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