Nos unimos há pouco mais de um ano, os três maiores bancos privados do País, com o objetivo de contribuir para preservar o bioma
Octavio de Lazari*, Sergio Rial** e Milton Maluhy Filho***, O Estado de S.Paulo
O Brasil abraça a retomada do crescimento em um novo momento do mundo. A nova agenda é ampla, e nenhuma pauta revela tanto sobre o nosso futuro quanto o modelo de desenvolvimento que escolheremos para a Amazônia.
Tendo a importância do bioma em vista, nos unimos há pouco mais de um ano, os três maiores bancos privados do País, com o objetivo de contribuir de forma propositiva, com ações concretas e que se relacionem com as nossas atividades no setor financeiro, envolvendo pelo exemplo outras empresas e a sociedade em geral.
Nasceu ali o Plano Amazônia, como batizamos a iniciativa que teve como ponto de partida uma relação de dez compromissos visando ao desenvolvimento estruturado e sustentável do território amazônico. PUBLICIDADE
Convidamos especialistas de alto nível para um Conselho Consultivo que, ao longo deste tempo, intensificou esforços para refletir com profundidade sobre as dinâmicas locais, sugerir prioridades e nos desafiar quanto à efetividade das ações propostas. A partir da lista inicial de objetivos, priorizamos quatro, avançando sobre as necessidades mais importantes da região e na implementação de iniciativas já no curto prazo.
De saída, vislumbramos no campo da bioeconomia o potencial para a formação de um pujante setor econômico. Compreendemos que isto será inexorável desde que sejam atendidas necessidades estruturais, como pesquisa e desenvolvimento, investimento, acesso a mercados internacionais e melhorias nas cadeias de suprimentos. Decidimos nos aprofundar, apoiando um projeto que mostrará as razões para a ainda baixa participação dos produtos amazônicos no mercado global e os caminhos para ampliá-la. Em suas recomendações, o trabalho trará elementos para a superação dos principais gargalos para o desenvolvimento de cadeias produtivas da região com alto potencial de inserção internacional. Os três bancos privados têm o papel importante de abraçar essa agenda.
No campo do apoio ao desenvolvimento das culturas sustentáveis, a exemplo de cacau, açaí, pimenta e aquicultura, descemos a lupa para identificar atividades que geram renda para as comunidades locais e promovem a conservação da floresta. Definimos uma meta inicial conjunta, que já foi superada, de levar R$ 100 milhões em crédito para cooperativas e agroindústrias que atuam no cultivo, manejo, extração, beneficiamento e comercialização dos produtos amazônicos, sempre dentro das melhores práticas. Cada instituição segue com suas condições comerciais e, adicionalmente, oferece serviços de assistência técnica, apoio à gestão do negócio e orientação financeira aos clientes.
Direcionamos o mesmo olhar atento para a pecuária. Assumimos o compromisso de apoiar a transformação do setor em busca do desmatamento ilegal zero, por meio da adoção de práticas diferenciadas como pré-requisito para a concessão de crédito. Entre as recomendações às empresas do segmento estão a rastreabilidade de fazendas e abatedouros com vistas à regularização ambiental e o uso de plataformas tecnológicas para a verificação de fornecedores diretos e indiretos, atendendo a requisitos mínimos de informação e segurança até 2025. Dentro do mesmo prazo, esperamos que estejam implementados os planos de ação que levem à eliminação do desmatamento ilegal em toda a cadeia. Tudo isso monitorado por indicadores de performance objetivos e previamente alinhados.
Outro grande desafio para concessão de crédito na região é a regularização fundiária. Sem o reconhecimento da titularidade da terra, o produtor não tem acesso ao financiamento, dados os riscos envolvidos e as limitações das normas do regulador. Neste tema, recebemos o apoio de renomados escritórios jurídicos que aceitaram nosso convite para trabalhar na elaboração de um documento, cujo objetivo foi mapear a legislação vigente nos nove Estados da Amazônia Legal e que poderá servir de base para apoiar a discussão do tema pelos entes competentes.
Este primeiro ano de atuação nos conduziu a alguns aprendizados: i) a Amazônia é realmente um território único, incomparável e, por esta peculiaridade, demanda um olhar específico para o seu desenvolvimento; ii) não há panaceias ou soluções milagrosas capazes de contemplar simultaneamente e no curto prazo interesses tão diversos, seja do ponto de vista biológico, social, econômico ou geopolítico; iii) dada a dimensão do desafio, o êxito está fortemente ligado à cooperação com as diferentes iniciativas empresariais, de governo, da academia e do terceiro setor, muitas delas há muito tempo em curso na região.
Hoje, Dia da Amazônia, reafirmamos nosso compromisso com as dez medidas que assumimos, reforçando a crença no fato de que a floresta em pé guarda os mais valorosos ativos de nosso País e que o futuro da Amazônia será decisivo para o nosso destino enquanto nação.
*Presidente do Bradesco
**Presidente do Santander
***Presidente do Itaú Unibanco