Profissionais são contratados por fundos para analisar negócios e, depois, indicar a investidores as melhores barganhas do mercado
Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo
Uma ideia que nasceu na Universidade de Stanford, nos EUA, desembarcou no Brasil em um momento em que os investidores estão ávidos por diversificação e rentabilidade. A alternativa dos “search funds” foi rebatizada por aqui como “empreendedorismo por aquisição”. Na prática, esses empreendedores funcionam como “caçadores” de bons negócios, pois, em vez de fundar uma empresa do zero, são contratados por investidores para buscar companhias com alto potencial de lucro para uma compra.
João Lima e Rene Almeida são exemplos dessa categoria de caçadores de empresas. Eles foram os responsáveis por comprar a companhia de locação e revenda de computadores Agasus, que já existia há 20 anos, depois da análise de nada menos do que 500 negócios diferentes.
Em 2017, depois de conhecerem o modelo em uma aula em uma universidade na Espanha, fizeram uma rodada de captação com investidores e saíram em busca da empresa alvo. Na primeira rodada, os investidores colocaram R$ 500 mil para bancar os dois profissionais no momento da procura – processo que poderia levar até dois anos.PUBLICIDADE
Eles chegaram à Agasus no início de 2018, quando iniciaram um minucioso trabalho de análise. Bateram o martelo de que ela era a empresa escolhida e voltaram ao grupo de investidores para pedir a bênção. Com o sinal, passaram o chapéu novamente, agora para arrecadar o dinheiro necessário para fazer a aquisição em si, fechada em 2019. Foram R$ 60 milhões, conforme apurou o Estadão.
Capitalizados, fizeram a aquisição e assumiram a empresa em maio de 2019. Lima e Almeida dividem a presidência da companhia há dois anos e meio. “Eu e o Rene temos competências complementares. Para nós, fez muito sentido fazer a captação. A gente queria empreender, mas não éramos o empreendedor típico”, explica Lima.
Os resultados não demoraram a aparecer: a empresa, em 2018, faturava R$ 30 milhões, valor que foi a R$ 80 milhões em 2020. Para este ano o ritmo esperado é maior: a projeção é que chegue a R$ 140 milhões.
Um dos investidores nos “search funds” é a gestora Spectra: já são 20 aportes realizados, no Brasil e no exterior. Nos próximos seis meses, mais quatro poderão entrar na carteira.O primeiro investimento foi exatamente no fundo de João e Rene, conta Rafael Bassani, sócio da Spectra.
Segundo ele, a Spectra observou os primeiros empreendedores por aquisição no Brasil e, a princípio, tinha dúvidas sobre esse tipo de investimento. “A gente não entendia porque fazia sentido financiar um time, que em geral é muito jovem, para uma aquisição de uma empresa que eles vão presidir, mesmo sem ter muita experiência.”
Risco. Segundo Newton Campos, professor da FGV, esse modelo não pode ser confundido com o tradicional private equity, fundos que compram participação em empresas. Para começar, um “search fund” trabalha com um único ativo. Outra diferença é que a aquisição é da totalidade da empresa – e não de uma participação.
Campos afirma que há uma série de razões para a expansão deste mercado no mundo. Além da elevada liquidez global, o search fund embute um risco muito menor, já que promove a aquisição de uma empresa já estabelecida.
Além da aquisição da Agasus, uma das primeiras de “search funds” no Brasil, foram feitas apenas outras seis aquisições até aqui. Entre os empreendedores por aquisição ainda em busca de um alvo, há mais dez “caçadores” de empresas na ativa, com cheques que variam de R$ 25 milhões a R$ 100 milhões.
Após quebrar, a busca por uma empresa ‘pronta’
Há dez anos, Anna Moreira chegou a fundar uma startup, mas o negócio não deu certo. Decidiu, então, fazer um MBA nos Estados Unidos, quando se deparou com a ideia do empreendedorismo por aquisição e viu que era esse seu caminho. “Tenho medo de empresa com fluxo de caixa negativo. O ‘search fund’ busca empresa que dá lucro, cresce e gera caixa e está apoiada por um grupo de investidores”, explica.
Após terminar o MBA, em 2019, saiu em busca de uma companhia, depois de ter levantado seu fundo, que reúne 15 investidores. Analisou centenas de negócios e comprou, no início deste ano, a empresa de tecnologia Neo Assist. “Investirei na empresa a parte mais importante da minha carreira.”
Os empreendedores Rodolfo Guglielmi e Caio Zenatti montaram o Grit Capital em 2020 e estão, neste momento, em busca da empresa que irão comprar. Para levantar capital para seu projeto, Guglielmi e Zenatti usaram uma rede social de investidores, pela qual atraíram até um investidor da Hungria que nunca tinha feito um aporte Brasil. Ao todo o grupo, é formado por 20 investidores, metade no Brasil e o restante espalhado pelo mundo.
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