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Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

Manifestação contra Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro| Foto: Reprodução Lindbergh Farias

Perdoem começar com este título com um jeito tão tautológico. Os manifestantes do impeachment querem, naturalmente, o impeachment de Bolsonaro. Caso você não tenha ficado sabendo (eu só fiquei sabendo por ter meus perfis esquerdistas de estimação), neste dia 2 houve mais uma manifestação “pelo impeachment”, em que “o povo” foi às ruas pedir a saída do “genocida” porque “o gás está caro, culpa de Bolsonaro”.

Nas redes sociais viu-se a imagem de um Lula inflável na Cinelândia, de máscara, com uma faixa presidencial onde se lê “Lula Livre”. Ou seja, a manifestação “pró impeachment” era pró-Lula. E a manifestação pró-Lula é rival da manifestação pró terceira via.

Na cabeça de um Rasputin vermelho
Vou lhes dizer o que eu acho: algum Rasputin do PT andou assistindo a “Nem Tudo se Desfaz” e concluiu que as manifestações iniciadas em 2013 foram diretamente responsáveis pela eleição de Bolsonaro. Como totalitários têm uma dificuldade bem grande em lidar com espontaneidade, inferiram que tudo não passava de um plano de Olavo de Carvalho para derrubar o PT e colocar Bolsonaro. As manifestações iniciadas em 2013 “contra tudo isso que tá aí” aos poucos foram ganhando reivindicações específicas, e ninguém há de negar que a pauta pró impeachment foi um ponto alto do fenômeno.

Assim, algum guru petista terá pensado que basta refazer a receita e pronto: manifestações pró-impeachment serviram com Dilma, hão de servir com Bolsonaro. Agora é só repeti-las com alguma periodicidade e torcer para crescer. Quando não crescer, vão descobrir que o Gabinete do Ódio lançou um feitiço pelo WhatsApp que enfeitiçou as pessoas e fez com que elas não aderissem à manifestação. Resta dar uns telefonemas ao STF e clamar por “regulamentação” do zap-zap. Artistas e intelectuais do quilate do líder dos Entregadores Antifascistas entregarão à ONU e ao New York Times um abaixo-assinado pedindo que o zap-zap seja considerado uma arma de destruição em massa, por meio da qual Bolsonaro perpetrou um genocídio. Aquele chororô de sempre.

O bonequinho inflável Pixuleco, representando Lula preso, não foi uma marca registrada das manifestações pró-impeachment? Façamos então um Pixuleco de esquerda, com Lula livre e presidente.

Cadê Lula?
Cesar Benjamin é um dos seis ou sete esquerdistas honestos do país. Ele apontou bode na sala: “Lula não esteve nas manifestações pelo impeachment. Nas vésperas, havia jantado com José Sarney, Romero Jucá, Eunício Oliveira, Edison Lobão e outros heróis brasileiros. Sérgio Cabral não foi ao jantar porque estava preso em outro compromisso.”

Num jornal comum, ainda antes da manifestação, um colunista fez a assessoria de imprensa do ex-presidente Lula. Ele não iria à manifestação por razões “políticas e sanitárias”. As políticas são a de respeitar a legislação eleitoral para que não se considere que Lula está em campanha antecipada. As sanitárias são: “Petistas envolvidos com o grupo de trabalho do partido na CPI da Pandemia disseram ao ex-presidente que ele ainda não tomou a dose de reforço da vacina contra Covid-19, e que sua presença provocaria tumultos e aglomerações em torno do trio.”

Eis o que se pode chamar de história mal contada. Lula não teve Covid-19? Lula já tem imunização natural; ele está mais para Bolsonaro do que para Queiroga. Se os petistas realmente estivessem preocupados com a imunização de Lula, dariam vivas e o considerariam tão apto para abraçar e beijar quanto Bolsonaro. É muito cômodo dizer que Lula poderia aparecer em público sem atrair ovadas — ao contrário, atraindo um montão de apoiadores.

De resto, lembremos que a pessoa que cuida das redes sociais de Lula tuitou em sua conta: “A vacinação deveria ser obrigatória. É como a mãe que insiste pro filho tomar remédio e ele não quer. Ela insiste porque quer que o filho melhore. Eu já tomei duas doses, se falarem de terceira tomo de novo. Eu acredito tanto na ciência que se precisar tomo vacina até na testa.” Lula tem 75 anos. A cidade de São Paulo começou esta segunda a aplicar a “dose de reforço” (eufemismo de “terceira dose”) em idosos de 60 a 69 anos.

Lula não quer tomar a terceira dose? Se ele teve reações à vacina, isso jamais poderia vir a público, porque está contra o oba-oba da vacina experimental segura e obrigatória. Ou Lula não teve nada e é desculpa para não levar ovada? De minha parte, sigo achando que o ex-garoto propaganda de empreiteira quer se aposentar e ficar de boa, mas a turma patrocinada pelo capitalismo lacrador não deixa, porque precisa de um Biden para botar na presidência.

A terceira via
Voltemos à assessoria de imprensa. Para estar seguro de que não iria sofrer sanções da legislação eleitoral, Lula só iria quando os outros presidenciáveis fossem. Porque esta, em tese, só é discernível de uma manifestação de terceira via pela presença do PT. As manifestações pela terceira via foram convocadas pelo MBL, cujo líder, Renan Santos, ficou chorando no Twitter porque o PT boicotou a manifestação. Excetuado o PCO, todos os satélites do PT compareceram. O PT, claro está, não vai a manifestações convocadas por outrem. Nunca vai ser coadjuvante em manifestação protagonizada pelo MBL.

Mas vejam vocês que paradoxo: terceira via alude a duas outras, a saber, Bolsonaro e o próprio Lula. “Nem Lula, nem Bolsonaro”, dizem, mas quando o PT não adere, dá chororô.

Pois bem: desta vez, tirando o MBL, o pessoal da terceira via aderiu formalmente ao ato: “Embora o ato tenha a aderência de partidos da centro-direita, entre eles MDB, PSDB, DEM, PSL e Novo, o pedetista Ciro Gomes foi o único postulante ao Planalto a garantir que estará no trio elétrico.”

Ciro Gomes compareceu para defender essa terceira via e foi perseguido por camisas vermelhas querendo dar-lhe pauladas e atirar-lhe garrafas. Descumpriu o acordo tácito segundo o qual nas manifestações para Lula só Lula pode brilhar.

Depois, instruído por João Santana, Ciro Paz e Amor gravou um vídeo dizendo que a esquerda é como a cristandade e precisa se unir em situações especiais, pausando as guerras intestinas. Bom, desde a época da ditadura, já se sabe que a esquerda só fica unida na cadeia. E olhe lá.


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