Ciência e política
Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo
Pandemia de coronavírus fez com que a ciência passasse a ser tratada como dogma, sem perguntas.| Foto: UEM/Divulgação
O neurologista que me tratou quando bati a cabeça no chão, há alguns anos, dr. Régis Tavares, me contou que ensinava seu filho de quase cinco anos o que é combustível: a gasolina que faz o carro andar, o sol que dá vida às plantas, o gás que produz calor no fogão, o alimento que faz a pessoa se mover. O menino o interrompeu e perguntou qual é o combustível do cérebro. Antes que o pai neurologista falasse em livros, foi surpreendido com a genial resposta do próprio filho:
- O combustível do cérebro são as perguntas.
A resposta fez o dr. Régis recordar quantas perguntas modificaram o mundo e constatar que nesses dois anos de pandemia o que se viu foi o contrário: não questione a ciência, obedeça a ciência, não pergunte. Pobre ciência. Foi transformada pela mídia, pela CPI, em dogma, só com certezas, sem dúvidas, sem perguntas. O que não admite experiência, contraponto, dúvida, perguntas, não é ciência, é questão de fé, como se demonstra na repetição de jaculatórias na mídia e de autos de fé nas inquisições da CPI.
- Dizer que um conhecimento é inquestionável é ser menos científico do que duvidar dele – conclui o neurologista, estudioso dos neurônios, das sinapses e do comportamento humano que é gerado no cérebro. O humano limitado, diante do universo infinito, tem a arrogância de querer limitar a verdade. Ainda há infinitas perguntas a serem perguntadas ao nosso cérebro, para que ele pense e busque. Quem tem a verdade definitiva, parou de perguntar, parou de descobrir, parou de evoluir. Parou. Sem combustível. Pane seca.
E isso tem a ver com a política, porque sofremos uma campanha para aceitarmos o pensamento pronto, verdade pronta – infelizmente desde a universidade, onde deveriam estar as luzes que nos levariam a buscar mais luzes no horizonte infinito. O lobo totalitário pode estar camuflado de cordeiro da ciência. A conspiração do não-pensar, não-perguntar é a conspiração do domínio, do totalitarismo, porque o pensar, o perguntar, faz cada um de nós um mundo – e querem que cada um de nós seja apenas um servidor, ou escravo, de um mundo único, do consenso, com resposta única, sem perguntas. Você, leitor, se pergunte, se o que você pensa é mesmo seu ou o estão algemando em respostas sem que você possa duvidar e perguntar. Não dispense o combustível de seu cérebro.
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