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Supermercado em Buenos Aires: em cem anos, inflação média no país foi de 105% ao ano| Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni

O governo da Argentina divulgou nesta quinta-feira (14) a lista completa de itens abrangidos pelo congelamento de preços anunciado na véspera, que inclui produtos de setores como alimentação, higiene e limpeza.

A medida que afeta preços de 1.247 produtos no país é retroativa a 1º de outubro e terá vigência até 7 de janeiro de 2022. O novo secretário do Comércio Interno da Argentina, Roberto Feletti, disse na quarta-feira (13) que o congelamento decorre de um “acordo de preços” com produtores, fornecedores, redes de supermercados, atacadistas e varejistas.

“Acredito que alguns empresários devem ver isso como um processo negativo, mas se analisarmos as contas, não há perda de rentabilidade e, se houver, pode ser compensada com calma pela quantidade, pois é um contexto expansivo”, disse o secretário, em declaração publicada pela agência de notícias oficial do governo argentino.

Se o congelamento de preços é uma medida para conter a inflação que nunca funciona, ela é especialmente dramática no caso da Argentina, país onde diferentes governos a adotaram, sempre sem sucesso – segundo um relatório divulgado pela Câmara Argentina de Comércio e Serviços em 2018, nos cem anos anteriores, a taxa de inflação média no país foi de 105% ao ano, sendo a máxima histórica de 3.079%, em 1989.

Nesse período e depois dele, vários presidentes argentinos recorreram à estratégia de congelar preços. Há 70 anos, Juan Domingo Perón adotou um plano de congelamento e controle de preços. Em 1973, presidente novamente, repetiu a dose.

Doze anos depois, já com a volta da democracia, o governo de Raúl Alfonsín promoveu o congelamento de preços e salários. Em 2006, foi a vez de Néstor Kirchner fazer um “acordo de preços”; em 2013, sua viúva e sucessora, Cristina Kirchner, também apostou na medida. As duas últimas tentativas foram com Mauricio Macri, em 2019, e já no mandato do atual presidente, Alberto Fernández, que congelou os preços de 23 mil produtos em março de 2020.

Nesta quinta-feira, o presidente da Câmara Argentina de Comércio e Serviços, Mario Grinman, reiterou que esse histórico é a prova definitiva de que o novo congelamento não dará certo. “O que você imagina? Quando há aumento de salário, o custo aumenta e, portanto, em certa medida, o aumento é transferido para o produto. Toda vez que tentaram, não funcionou. Mas continuam tentando e a verdade é que, se eles querem algo diferente, eles devem tentar algo diferente”, declarou ao jornal Perfil.

Em uma pesquisa sobre expectativas de mercado correspondente a setembro divulgada na semana passada, analistas haviam estimado que a Argentina fecharia 2021 com uma inflação acumulada de 48,2%.

Em entrevista ao La Nación, o economista Guido Lorenzo, diretor da consultoria LCG, destacou que o congelamento de preços apenas “retarda a inflação”, e os efeitos na economia depois acabam sendo ainda mais perversos.

“Pensar que todos os preços da economia podem ser controlados e que, portanto, isso não vai ficar descoberto em algum momento é um erro, porque a inflação vem de um desequilíbrio entre a quantidade de moeda, que é o que dá o preço nominal, e a quantidade de bens produzidos e circulando na Argentina”, argumentou Lorenzo.

“E a verdade é que os congelamentos de longa duração não funcionam, não funcionaram historicamente a não ser em algumas experiências por períodos muito curtos de tempo e com a consequência de haver mais inflação no futuro”, acrescentou o economista.


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