Pandemia
Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo
Médicos tiveram que enfrentar desafio em meio ao pânico e à emergência da pandemia.| Foto: Aline Jasper/UEPG
Nesses últimos 20 meses, nenhum profissional esteve tão perto do coronavírus quanto o médico. Como segunda-feira (18) foi o dia consagrado ao médico, é oportunidade de lembrar que foram tempos dramáticos, tempos de provações e de muito aprendizado para essa nobre profissão. Um amigo médico me diz que nunca valeu tanto a pena ser médico em sua inteireza, como nesses meses. Tempos de um vírus novo, com características imprevisíveis, que causou uma doença nova também imprevisível, a ponto de se suspeitar que não seja obra da natureza. Enfim, é um vírus que saiu de um laboratório e, estimulado, abriu-se em variantes de consequências e graus de contaminação diferentes.
Desde Hipócrates, o pai da Medicina, se conhece o juramento que os formandos repetem cada ano, de buscar o bem do paciente. O Código de Ética Médica traduz o juramento, estabelecendo que é vedado ao médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão. A Declaração de Helsinque, da Associação Médica Mundial, diz que é dever do médico promover e salvaguardar a saúde de seus pacientes, e detalha os cuidados sobre a pesquisa que envolve seres humanos. Nesses 20 meses, todos os dias foram de experiências e pesquisas, ante um novo inimigo, desconhecido e perigoso. Os médicos tiveram que enfrentar esse desafio em meio ao pânico e à emergência da pandemia.
Os mais de 500 mil médicos brasileiros não fugiram dessa guerra. Muitos morreram, assim como médicos foram infectados e grande número teve perdas em sua própria família. Como tantos brasileiros, médicos também foram afetados psicologicamente, por causa das imensas pressões a que foram submetidos. Mas não esmoreceram, continuam no front dos hospitais, nas trincheiras das clínicas, experimentando, observando, pesquisando, conferindo sintomas, consequências e, sobretudo, amenizando o sofrimento e salvando vidas.
A estatística informa que quase 21 milhões de infectados foram salvos. Imagino que haja outro tanto de curados que não foram sequer registrados – e outro grupo de brasileiros que recebeu indicações médicas que impediram maior ação do vírus. Milhares de médicos trabalharam sob a pressão da política que se intrometeu na medicina; foram incompreendidos, perseguidos, injuriados, mas se mantiveram fiéis ao juramento ético de buscar tratamento com todos os meios, aos primeiros sinais de uma doença, de comum acordo com o paciente. Esses têm a consciência de que a luta vale a pena, porque certamente salvaram milhões. A esses a nação deve o reconhecimento. Aos que mandaram o paciente para casa com dipirona, até que sentisse falta de ar, enviemos uma bondosa compreensão, porque não encontraram força para se rebelar contra a voz corrente. Ficarão com suas consciências.
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