Editorial
Por
Gazeta do Povo
O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega| Foto: EFE/ Jorge Torres
Quem, em sã consciência, elogiaria uma farsa eleitoral montada por um regime ditatorial, em que sete candidatos à presidência são presos e acusados de “traição à pátria”, observadores internacionais são vetados, partidos políticos são dissolvidos e a imprensa é ameaçada, saudando o ocorrido como uma “manifestação popular e democrática”? O Partido dos Trabalhadores, é claro. Em nota, a legenda exaltou a conquista do quinto mandato – o quarto consecutivo – do ditador Daniel Ortega e afirmou que conta com os sandinistas nicaraguenses para fazer da América Latina uma “região de paz e democracia social que possa servir de exemplo para todo o mundo”.
Com a nota, o PT se junta a uma série de outros regimes ditatoriais e autocráticos que considerou legítima a pantomima eleitoral deste domingo, a começar pela mais nefasta das ditaduras latino-americanas, a cubana, com o ditador Miguel Díaz-Canel exaltou a “demonstração de soberania e civismo” no país centro-americano. A Venezuela de Nicolás Maduro, a Bolívia de Luís Arce (o “poste” de Evo Morales) e a Rússia de Vladimir Putin já deram seu aval ao resultado. Também governados pela esquerda, México e Argentina escolheram a omissão, que neste caso conta como cumplicidade.
O apoio petista ao ditador Daniel Ortega é deplorável, mas ao menos deve servir para abrir os olhos de muitos brasileiros, mostrando-lhes de uma vez por todas que o petismo pode ser tudo, menos um entusiasta da democracia
Por outro lado, a comunidade democrática internacional rechaçou veementemente a farsa. Antes mesmo do pleito, a União Europeia já havia considerado as eleições “completamente falsas” e afirmara que não se poderia esperar nenhum “resultado legítimo” delas. O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, afirmou que a votação era “antidemocrática”. O resultado também não foi reconhecido por várias nações da América Latina – inclusive o Peru, que tem como presidente o esquerdista Pedro Castillo; ex-presidentes de países da região, mesmo alguns mais alinhados à centro-esquerda, como o chileno Ricardo Lagos e o brasileiro Fernando Henrique Cardoso, pediram que a Nicarágua seja suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Esta exaltação de ditaduras e processos eleitorais de fachada não é nova para o petismo, sempre pronto a emitir notas de apoio a seus camaradas ideológicos. Foi assim nas recentes eleições para o Executivo e o Legislativo venezuelanos, ambas marcadas por ampla fraude e rejeitadas também pelas nações democráticas de todo o mundo; em julho deste ano, quando tiveram lugar os maiores protestos de rua contra o governo desde a instauração do regime comunista, o partido manifestou seu apoio incondicional à ditadura enquanto ela prendia, agredia e censurava opositores em Havana e várias outras cidades cubanas.
Desde já, com apoio de boa parte da comunidade nacional de formadores de opinião, Lula e o petismo vêm se apresentando como os representantes da “democracia”, forçando uma contraposição com um suposto “autoritarismo” atribuído ao presidente Jair Bolsonaro. Se episódios como o apoio petista ao ditador Daniel Ortega – e a todos os outros ditadores de esquerda latino-americanos – são sumamente deploráveis, eles ao menos devem servir para abrir os olhos de muitos brasileiros, mostrando-lhes de uma vez por todas, caso alguém ainda tenha alguma dúvida a esse respeito, que o petismo pode ser tudo, menos um entusiasta da democracia. Olhar para os regimes que o PT admira, defende e exalta é entender para onde o partido deseja levar o Brasil.
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