Guilherme Bier Barcelos*
Após decisão da prefeitura, o Touro de Ouro foi retirado do Centro de São Paulo. O motivo: a B3 não tinha licença urbanística para sua instalação. Antes disso, a escultura — que faz alusão a Wall Street, representando a força dos mercados — havia sido alvo de diversos protestos. As manifestações buscaram lançar luz aos problemas sociais e econômicos do país, com críticos que provavelmente viram no touro a representação simbólica daquilo que abominam: um capitalismo “selvagem”, no qual o lucro seria o primeiro e único fim.
Penso, contudo, que a dita escultura representava algo positivo. E, também, que uma Bolsa de Valores não se resume à voraz satisfação financeira de seus investidores. Eis que surge a pergunta: mas, afinal, para que ela serve? Trata-se de um instrumento de captação da poupança popular que permite o desenvolvimento da atividade empresarial. O que se busca é estimular os cidadãos a investirem parte de suas economias diretamente nas empresas — que, por sua vez, utilizarão esses recursos para ampliar suas atividades.
Essa expansão produzirá um círculo virtuoso, trazendo efeitos positivos à sociedade: novos empregos, novos contratos, maior fonte de tributação e assim por diante. Na prática, há um aumento da quantidade de dinheiro em circulação. Além disso, o lucro auferido pelas empresas será dividido entre os próprios acionistas, que poderão optar por reinvesti-lo, guardá-lo ou gastá-lo. Em qualquer cenário, o aumento da atividade empresarial pode beneficiar a sociedade como um todo.
Não é mero acaso: os países que possuem um mercado de capitais desenvolvido enfrentam índices menores de desigualdade social. O Brasil, porém, durante anos, andou na contramão, pois centrou suas atenções no setor bancário, enquanto o de capitais ficou em segundo plano. E uma das melhores explicações para esse fenômeno foram as altas de juros praticadas pelo Banco Central, sempre muito atrativas para os que tinham excedentes.
Portanto, atribuir à Bolsa de Valores a responsabilidade pelos graves problemas sociais de um país é um raciocínio simplista. Sim: lutemos contra a fome, a pobreza, a violência, a discriminação. Mas com a consciência de que um mercado de capitais mais evoluído não aumenta desigualdades. Ao contrário: pode servir de elemento fundamental para a sua redução.
*Guilherme Bier Barcelos, advogado e sócio-diretor do RMMG Advogados