1. Política 

Ex-ministro da Justiça terá indicação ao STF avaliada nesta quarta pelo Senado

Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo

Brasília — Lideranças de igrejas apostam no fator urna, em 2022, para garantir a aprovação de André Mendonça como novo ministro “terrivelmente evangélico” do Supremo Tribunal Federal (STF). Dizem que os senadores não ousariam desagradar 31% da população brasileira, estimativa do Datafolha para os evangélicos, sobretudo aqueles 27 que renovam seu mandato no ano que vem. Bispos e pastores desembarcaram em Brasília, mas ainda não arriscaram um placar. O Palácio do Planalto também não.

“A adivinhação para nós é coisa do capeta, mas sei que ele vai vencer”, disse o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. “Qual senador, que é voto majoritário, quer contrariar 30% da população? Estamos antenados, na rede social. Quem vai votar contra?”

Andre Mendonça
Indicado por Bolsonaro para vaga no Supremo, André Mendonça pode fortalecer relação do presidente com grupos de posição conservadora. Foto: Dida Sampaio / Estadão

A votação no Senado é secreta, o que dificulta a identificação dos “infiéis”. O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-advogado-geral da União precisa ter seu nome aprovado no plenário do Senado por 41 dos 81 senadores. O Placar do Estadão mostra que ele tem 29 apoios declarados, maior número desde que começou sua campanha. Dos dois lados, pró e contra, a previsão é de votação apertada. O cenário otimista dos aliados de Mendonça é de 53 votos favoráveis.

Antes do plenário, ele passa na manhã desta quarta-feira, dia 1º, por uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

O presidente Jair Bolsonaro entrou na campanha. Na véspera da sabatina, abriu o Palácio da Alvorada para pastores, parlamentares e ministros. A primeira-dama Michelle Bolsonaro, da Igreja Batista Atitude, participou da recepção noturna. André Mendonça compareceu e discursou pedindo apoio.

Mais cedo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), porta-voz do pai na Casa, afirmou que seria “impossível prever” o resultado e argumentou que ele representa apenas um voto. O presidente também se vacinou contra a derrota: o argumento é que a decisão é do Senado. “Espero que seja aprovado. Eu não indico para o Supremo, eu indico para o Senado. Sabemos que existe um embate ideológico, que um colega quer uma pessoa de perfil diferente, sabemos disso”, disse Bolsonaro.

A sessão de questionamentos na CCJ estava travada desde que Mendonça foi indicado em julho. O presidente da comissão, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), segurou o processo, apesar de ser judeu – segmentos evangélicos se apropriaram da simbologia judaica, por referências bíblicas a Israel. Ele negou se tratar de um embate religioso.

Numa concessão à bancada da bíblia, Alcolumbre indicou como relatora a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que apesar de ser oposição, é de família evangélica – o pai e o irmão são pastores no interior do Maranhão.

Bolsonaro fez uma ofensiva final nos últimos dias. Gravou vídeos com Mendonça para as redes sociais, o que os pastores consideraram uma demonstração de empenho. E também chamou o senador Davi Alcolumbre ao Planalto na segunda-feira, dia 29. Após o encontro, o presidente relatou aos pastores que há muita “jogo baixo e mentira”.

Mais longe de algumas benesses do poder, como a distribuição de recursos que fez no orçamento secreto quando era presidente do Senado, Alcolumbre manifestou suas queixas. Segundo ministros palacianos, ele não gosta de Mendonça e acha que o indicado é da linha punitivista, associado à Operação Lava Jato, por isso trabalha pela rejeição.

Um bispo influente em Brasília e que tem canais diretos com Alcolumbre disse que ele “se fechou” e não quis dialogar com o lobby crente. Ele opina que o desempenho na sabatina será crucial para a aprovação. Outro pastor televangelista, que conversou com Bolsonaro, afirmou que o senador “blefa” ao acenar que a indicação será derrubada.

Mendonça tem dito aos senadores, no périplo por gabinetes, que pretende ser garantista. Ele começou a dar esses sinais depois que enfrentou um movimento com as digitais de ex-colegas do primeiro escalão governamental. Eles tentaram convencer Bolsonaro a substituir a indicação. A bancada evangélica gritou.

O ministro havia sido escolhido por Bolsonaro depois de uma bolsa de apostas, com direito até a listas de nomes. Ele recebeu apoio da maioria dos líderes evangélicos de igrejas com trânsito no Palácio do Planalto. É o grupo de pastores pentecostais e neopentecostais, mais estridentes e midiáticos na relação com o governo. Mas também agradou integrantes de igrejas protestantes históricas. Mendonça faz parte da última linha – é reverendo da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília.

Na reta final, Mendonça viu surgir no próprio meio evangélico resistências a seu nome, vindas de entidades classificadas como progressistas. Entre elas, estão: CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), ABB (Aliança de Batistas do Brasil), Coalizão Evangélica contra Bolsonaro, Evangélicxs pela Diversidade, MNE (Movimento Negro Evangélico) e o NEPT (Núcleo de Evangélicos e Evangélicas do PT).

Elas pediram a rejeição ao Senado, porque consideram que a escolha se deu “por razões de filiação religiosa”, o que representa um desvio dos requisitos constitucionais e viola a separação entre Igreja e Estado. Associações de juízes, policiais e advogados antifascistas, ligados à esquerda, usaram a mesma argumentação.

O pastor Silas Malafaia menosprezou a ofensiva: “São famosos anônimos, otários que não representam 1% dos evangélicos, só para fazer firula, para dizer que são contra”.

Loading

By valeon