Aos 70 anos, sendo 53 dedicados ao clube, Belmiro se tornou ídolo improvável da torcida a ponto de um pai colocar o nome do filho em sua homenagem
Daniel Reis, especial para o Estadão, O Estado de S.Paulo
Desde a primeira vez que o Atlético-MG conquistou o Brasileirão, há 50 anos, muita coisa mudou no time alvinegro. No entanto, uma figura continua presente entre os membros da comissão técnica: o massagista Belmiro Oliveira. Aos 70 anos, 53 deles dedicados ao Atlético, ele é o único remanescente do título de 1971 no futebol do clube. Virou ídolo improvável da torcida do Galo a ponto de um pai colocar o nome do filho em sua homenagem. Agora, Belmiro comemora seu segundo título do campeonato nacional com o desfecho do torneio em 2021.
Quando o Atlético venceu o campeonato em 1971, Belmiro era auxiliar do massagista Gregório da Silva Santos. Ele havia chegado ao clube pouco antes, em 1968, ainda aos 18 anos.
O massagista acredita que o grande diferencial desta vez será poder comemorar a conquista com seus netos. São 13, número que, coincidentemente, é adotado como da sorte pela torcida atleticana. Por fazer parte do grupo de risco da Covid-19, ele passou a temporada trabalhando apenas nos jogos em Belo Horizonte.
Diante da identificação criada nas cinco décadas como funcionário do Atlético, Belmiro já recebeu agradecimentos incomuns da torcida. Em 2018, o psicólogo Tiago Scarpelli e a professora universitária Carol Melo colocaram o nome do filho em homenagem ao massagista.
“Era um jogo do Galo contra o Bahia, de tarde, no Independência. Estava 2 a 0 para o Bahia, jogo ruim, e eu comecei a pensar no nome que daria para o meu filho. Aí um jogador machucou. O Belmiro pegou aquela ‘mochilinha’ laranja dele e saiu correndo. Na hora que eu vi essa cena, pensei: tá aí! É um cara que é do Galo, tem uma história com o Galo, será uma homenagem mais interessante do que um jogador, que muda de time. Mandei mensagem para minha esposa e ela adorou”, conta Tiago Scarpelli sobre a decisão.
Atualmente, o “Belmirinho” tem 3 anos. A homenagem foi aprovada pelo xará. “O meu telefone tocou, era o ‘Belmirão’. Ele disse que ficou sabendo da homenagem, ficou emocionado e estava aprovadíssimo. Dali, começamos a ter uma amizade”, afirma Scarpelli.
O reconhecimento da torcida atleticana pelo trabalho do massagista também virou bandeirão. A homenagem foi feita pelo grupo de torcedores “Movimento 105”, em 2014, e continua sendo exibida em jogos do time em casa.
“Quando eu vi a bandeira eu não sabia se eu chorava, se eu ficava prestando atenção no jogo, se eu ficava prestando atenção na bandeira”, recorda Belmiro. “Na hora que eu cheguei na concentração, meu neto me ligou e disse: ‘você viu a sua bandeira, vô, você viu? Eu tava pertinho da sua bandeira, é muito bonita’. Aí eu fui de carro até a minha casa chorando. Isso é coisa de Deus”, complementa o massagista. Ver essa foto no Instagram
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“EU ESTAVA LÁ”
Em 1971, ano da primeira conquista do Campeonato Brasileiro pelo Atlético, o clube disputou o triangular final do campeonato contra São Paulo e Botafogo. Belmiro conta que possui duas lembranças marcantes desse título: como o técnico Telê Santana incentivava o time e o gol de falta marcado pelo lateral Odair contra o São Paulo, no primeiro jogo do triangular.
Após a conquista de 1971, o Atlético colecionou frustrações no Campeonato Brasileiro. Foi vice-campeão em 1977 (de forma invicta), 1980, 1999, 2012 e 2015. Belmiro estava em todas as ocasiões. Porém, sente que o tropeço mais doloroso foi em 2001, quando o Atlético foi eliminado pelo São Caetano nas semifinais do torneio. O Athletico Paranaense se consagraria campeão daquele ano.
Belmiro relata que a torcida estava ansiosa para comemorar o tão esperado bicampeonato. “Eu ia ao supermercado e o pessoal me parava, perguntava: ‘e aí, posso gritar é campeão?’. E eu respondia: ‘um passo de cada vez’”. Agora, ele aconselha que os torcedores saibam festejar sem confusão. “Vamos curtir. Depois vamos nos preparar para o tri. Esperamos muito por isso”, finaliza o massagista.