Mineração ilegal cresce no País e se torna uma das principais causas do desmatamento
João Gabriel de Lima, O Estado de S.Paulo
“Uma chuva de meteoros trouxe o ouro à terra. Talvez esse início violento tenha amaldiçoado o metal. Por nenhum outro se matou tanto.” A frase abre a última temporada da série ficcional A Casa de Papel, o programa de TV mais assistido no mundo nesta semana. Já na vida real, na Amazônia, assiste-se a uma nova – e triste – saga do ouro. A mineração ilegal cresce e se torna uma das principais causas do desmatamento na maior floresta tropical do planeta.
O Instituto Igarapé, centro de pesquisas brasileiro especializado em segurança pública, e a Interpol, organização que promove a cooperação entre as polícias do mundo, lançaram ontem um estudo sobre como combater a mineração ilegal na Amazônia. O texto esmiúça os casos de Brasil, Peru e Colômbia e tece conexões entre eles.
Sabe-se que a maior parte do desmatamento na Amazônia é criminoso, e uma fração crescente da devastação da floresta se deve à mineração ilegal. “Não é mais o garimpeiro solitário que busca ouro para sair da pobreza”, diz Ilona Szabó, cofundadora do Instituto Igarapé. “Há muito mais atores envolvidos.” Ilona e Laura Waisbich, também do Igarapé, são as entrevistadas do minipodcast da semana.
Segundo Laura e Ilona, cada vez mais a mineração ilegal se mistura com redes de crime organizado na América Latina, com especial destaque para as de tráfico de drogas. Entre outras “sinergias”, pistas de pouso clandestinas construídas por traficantes são usadas pela mineração ilegal. O desmonte de órgãos como o Ibama facilita a parceria entre os meliantes do ouro e das drogas.
O estudo é patrocinado por governos de vários países, entre eles Reino Unido, Noruega e Suíça, e também por organizações brasileiras da sociedade civil. O desmatamento criminoso – que, além da mineração, inclui extração ilegal de madeira e grilagem de terras – é o principal responsável pelas emissões de carbono do Brasil.
A persistência desse tipo de crime faz com que negociadores brasileiros cheguem enfraquecidos às mesas onde se definem os acordos internacionais, prejudicando sobretudo o agronegócio exportador. A França já usa contra nós as mazelas de nossa má gestão ambiental. Como o Estadão mostrou em reportagem de Felipe Frazão, o mesmo pode acontecer com a Alemanha. A nova coalizão de governo, definida nesta semana, fundiu as áreas de Economia e Clima – e colocou ambas sob a gestão do Partido Verde.
Os crimes ambientais destroem a reputação do Brasil e prejudicam nossa economia, da mesma maneira que os assaltos em A Casa de Papel deixam a Espanha vulnerável. Lá, no entanto, é ficção. Aqui, uma trágica realidade.