Palanques estaduais
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília

Para ser vice de Lula, Geraldo Alckmin abre caminho para que Márcio França (PSB) dispute o governo de São Paulo| Foto: Governo de SP/Divulgação

Nas costuras de alianças para a disputa presidencial de outubro, partidos e líderes políticos também já desenham as candidaturas aos governos estaduais. Além da construção de palanques para os nomes que pretendem disputar o Palácio do Planalto, ao escolher nomes para a disputa a governador, as siglas também trabalham na composição de chapas que fortaleçam as candidaturas para o Congresso Nacional.

Veja abaixo o mapeamento destes acordos pré-eleitorais nos dez estados mais populosos do país.

Chapa Lula-Alckmin pode fortalecer centro-esquerda em São Paulo 
Cotado para ser vice na chapa presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador Geraldo Alckmin negocia sua filiação com o PSB, o que pode abrir espaço para que a centro-esquerda viabilize um nome na disputa pelo governo de São Paulo. Caso opte pela composição com Lula, a tendência é de que o ex-governador Márcio França (PSB) seja o candidato ao Palácio Bandeirantes pelo grupo.

Contudo, a viabilidade da candidatura de França precisa ser acertada com o PT, que tem como pré-candidato o ex-prefeito Fernando Haddad. A retirada do nome do petista da corrida enfrenta resistências por parte do diretório petista de São Paulo, mas líderes do partido sinalizam que Lula pode interferir no caso para viabilizar sua chapa com Alckmin. Uma das possibilidades é que Haddad seja lançado para o Senado na composição.

França, no entanto, foi alvo de uma operação da Polícia Civil de São Paulo, na última quarta-feira (5), que apura o desvio de até R$ 500 milhões em recursos da área da saúde. O ex-governador negou irregularidades e disse que foi alvo de uma “ação política”. Mas, nos bastidores da política, comenta-se que o caso pode prejudicar as pretensões eleitorais de França. O PT, porém, não encerrou as negociações com o PSB e Lula inclusive se solidarizou com o ex-governador paulista.

Outra hipótese cogitada nos bastidores é que Alckmin possa desistir da aliança com Lula. E, nesse caso, poderia vir a filiar ao PSD, presidido pelo ex-ministro Gilberto Kassab, para concorrer ao governo do estado. O ex-tucano, entretanto, já admitiu a interlocutores que será uma eleição muito acirrada com o PSDB, que controla a máquina do estado – o que faz com que ele tenda atualmente a se aliar ao PT para ser vice de Lula. Reportagem da sexta-feira (7) do jornal O Globo inclusive informou que Alckmin avisou a interlocutores do PSD que descartou a possibilidade de se filiar ao partido para concorrer a governador.

Candidato à presidência pelo PSDB, o atual governador paulista, João Doria, pretende lançar o seu vice-governador, Rodrigo Garcia, para sua sucessão. Apesar de ainda patinar nas pesquisas eleitorais, integrantes do partido acreditam que Garcia irá se viabilizar a partir de abril, quando irá assumir o governo para que Doria construa sua candidatura ao Palácio do Planalto.

Filiado ao PL, o presidente Jair Bolsonaro também pretende garantir um palanque no estado com a candidatura do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, ao governo. A expectativa é de que Freitas também se filie ao PL e seja oficializado na disputa até abril. Na composição, o ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) chegou a ser cotado para ficar com a candidatura ao Senado na chapa. Mas abriu mão para que o candidato a senador por São Paulo do grupo do presidente seja o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, filiado ao MDB. Mais recentemente, porém, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL) também passou a ser cotada para compor a chapa com Tarcísio na vaga de candidata ao Senado.

A disputa ao governo paulista também pode ter o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, que deve se filiar ao PTB. A candidatura, no entanto, desagrada ao presidente Bolsonaro, pois a entrada do ex-ministro poderia dividir os votos com a Tarcísio Freitas.

Outro pré-candidato ao governo paulista é o deputado Vinicius Poit (Novo).

No Rio, entrada de Mourão pode inviabilizar reeleição de Claudio Castro 

Sem chances de estar na chapa de reeleição do presidente Bolsonaro em 2022, o vice-presidente general Hamilton Mourão (PRTB) articula para se lançar na disputa pelo governo do Rio de Janeiro. Mourão deve intensificar suas agendas no estado nos próximos meses, no intuito de costurar acordos com outros partidos de direita no estado. Além do governo, Mourão também estuda uma eventual candidatura ao Senado.

A entrada de Mourão, no entanto, conta com resistências por parte do atual governador, Claudio Castro (PL), que pretende disputar um novo mandato. Filiado ao mesmo partido de Bolsonaro, Castro já admitiu aos seus aliados que Mourão poderia atrair parte do eleitorado conservador. Por isso, pretende ter o aval do presidente para neutralizar a candidatura do vice-presidente no Rio.

Recentemente filiado ao PSB, o deputado Marcelo Freixo (ex-Psol) tenta uma composição com partidos de centro para viabilizar seu nome na corrida pelo Palácio Guanabara. Para isso, Freixo se aproximou do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Paes (PSD) e tem rodado o estado para buscar alianças com outros partidos. Publicamente, o prefeito carioca defende a candidatura do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. Mas o advogado também pode se lançar ao Senado pelo partido em uma composição na chapa de Freixo.

O estado terá ainda a candidatura do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT), no intuito de garantir palanque no estado para a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PDT). Neves, no entanto, é próximo do ex-presidente Lula e já sinalizou que também poderá abrir espaço para dar palanque à candidatura do petista no Rio.


Na busca da reeleição, Zema quer alianças com outros partidos em Minas Gerais 
Depois de se eleger em 2018 em uma chapa pura, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), já articula para compor com outros partidos na busca da sua reeleição. Até o momento, Zema conta com acenos do União Brasil (partido que será formado pelo fusão dentre DEM e PSL), Podemos e PP. A composição, no entanto, vai depender das costuras presidenciais, já que o Podemos deve oficializar a pré-candidatura de Sergio Moro, enquanto o PP estará na coligação do presidente Bolsonaro.

Até o momento, o partido de Zema tem como pré-candidato à Presidência o empresário Felipe D’Avilla. Mesmo assim, o governador de Minas mantém proximidade com Bolsonaro e já recebeu Moro para conversas sobre uma eventual composição de palanque no estado.

Na oposição a Zema, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), tem rodado o estado como pré-candidato ao governo mineiro. Kalil vem sendo cortejado pelo ex-presidente Lula numa tentativa de composição que garanta palanque ao petista no estado.

Com a indicação do senador Antônio Anastasia (PSD) para o Tribunal de Contas da União (TCU), os petistas buscam agora encampar o nome do deputado Reginaldo Lopes como candidato ao Senado na coligação. A estratégia, no entanto, tem esbarrado nos planos do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, de lançar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na disputa presidencial.

Disputa presidencial pode dividir grupo de Ratinho Jr. no Paraná 
Candidato à reeleição em 2022, o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), já recebeu sinalizações de que terá o apoio de legendas como PSC, Republicanos, PL, PPS, PV, PHS, Avante e Podemos. Esse grupo foi o mesmo que apoiou sua candidatura em 2018 e que se mantém na base do Executivo estadual até o momento. A ex-governadora Cida Borghetti, do PP e que concorreu contra Ratinho em 2018, também já sinalizou que irá apoiar a reeleição do governador.

Esses são partidos que fazem parte da base de apoio de Bolsonaro, além do Podemos (que vai lançar Moro à Presidência). Mas a expectativa é de que Ratinho Jr. opte pela neutralidade na disputa presidencial, principalmente se o PSD, seu partido, mantiver a candidatura de Rodrigo Pacheco ao Palácio do Planalto.

Apontado como principal adversário de Ratinho no estado, o ex-senador e ex-governador Roberto Requião ainda não definiu qual legenda irá abrigar sua candidatura ao Palácio Iguaçu no ano que vem. Requião deixou o MDB no começo de agosto, após perder as eleições para presidência do diretório estadual do partido. Integrantes do PT querem ter o ex-governador ao partido para as eleições; e alguns dizem que a filiação está praticamente acetada.

No Rio Grande do Sul, aliados se dividem em duas candidaturas de apoio a Bolsonaro 

Com filiação já encaminhada ao PL, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, pretende disputar o governo do Rio Grande do Sul com apoio do presidente Jair Bolsonaro. A candidatura do ministro, no entanto, não será a única de apoio ao Palácio do Planalto no estado, já que o senador Luís Carlos Heinze (PP) também pretende concorrer.

“As candidaturas de Heinze e Lorenzoni serão dois bons palanques para Bolsonaro no Rio Grande do Sul”, afirma o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

Derrotado nas prévias do PSDB para a Presidência da República, o atual governador gaúcho, Eduardo Leite, já disse que não irá concorrer à reeleição. O tucano se dedica agora à costura de uma aliança que possa atrair outras legendas em torno da candidatura de Ranolfo Vieira Júnior. Eleito vice-governador pelo PTB, Ranolfo migrou para o PSDB no ano passado, após sua antiga sigla se aproximar do presidente Jair Bolsonaro.

Na esquerda, o PT lançou a pré-candidatura do deputado estadual Edegar Pretto, mas pode abrir mão da candidatura, caso a composição com o PSB seja concretizada na chapa presidencial. Nesse caso, o partido de Lula apoiaria o Beto Albuquerque ao governo.

Em Santa Catarina, diversos nomes buscam o apoio de Bolsonaro 
Articulador da filiação do presidente Bolsonaro ao PL, o senador Jorginho Mello almeja disputar o governo de Santa Catarina em uma aliança que pode contar com o empresário Luciano Hang como candidato ao Senado.

Do outro lado da disputa, o governador Carlos Moisés, que rompeu com bolsonaristas e deixou o PSL, tenta retomar a relação com Bolsonaro acenando com um palanque com ampla aliança partidária.

Já o PSL, que está em processo de fusão com o DEM, cogita lançar ao governo o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, que também busca manter boa relação com Bolsonaro.

No mesmo campo, o PP, que nacionalmente irá compor coligação com Bolsonaro, tem como pré-candidato o senador Esperidião Amin. Outro nome ligado ao Palácio do Planalto que pretende entrar na disputa é o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), que já sinalizou ao seu partido que não vai apoiar a candidatura de Rodrigo Pacheco no estado.

ACM Neto tenta acabar com hegemonia do PT na Bahia 
Depois de trabalhar pela fusão do DEM com o PSL para criação do União Brasil, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto buscar agora usar a estrutura do novo partido para tentar acabar com a hegemonia de 16 anos dos governos do PT na Bahia. No lançamento da sua pré-candidatura ao governo do estado, ele divulgou um vídeo evocando um jingle clássico da campanha de seu avô, o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, ao governo da Bahia, em 1990. A música “ACM, meu amor” foi composta pelo baiano Vevé Calazans em conjunto com Gerônimo.

O ex-prefeito de Salvador vai enfrentar o senador Jacques Wagner (PT), sucessor do atual governador Rui Costa, na disputa de outubro. Existe ainda a possibilidade do ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos) entrar na eleição para garantir palanque ao presidente Bolsonaro no estado, tido como prioridade pelo Palácio do Planalto no Nordeste.

Composição do PSB com o PT passa por aliança pelo governo de Pernambuco 
Enquanto negocia a composição com o PT na chapa nacional, o PSB pretende garantir o apoio dos petistas na disputa pelo governo de Pernambuco, principal reduto eleitoral do partido. Com a saída de Paulo Câmara, que pretende concorrer ao Senado em 2022, o partido ainda não definiu quem será o candidato ao governo estadual. Até o momento, o ex-prefeito do Recife Geraldo Júlio é apontado como candidato natural à sucessão de Paulo Câmara pelo PSB.

Enquanto isso, o PT tem colocado a deputada Marília Arraes para rodar o estado como pré-candidata. A petista ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura do Recife em 2018, em uma eleição marcada por diversas trocas de ataques com o próprio PSB, que saiu vitorioso com a candidatura de João Campos. Mesmo assim, o ex-presidente Lula já acenou para uma recomposição e pode indicar Marília como vice na chapa estadual.

No campo da direita, o ministro do Turismo, Gilson Machado, colocou seu nome à disposição do presidente Jair Bolsonaro para disputar o governo no estado. Machado, no entanto, pode se lançar na corrida pelo Senado e abrir espaço para que a deputada estadual Clárissa Tércio (PSC) seja a candidata de Bolsonaro ao governo de Pernambuco.

Já o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, pretende concorrer ao governo pelo União Brasil em uma composição com o PSDB. A expectativa de Coelho é atrair a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, para o cargo de vice na sua chapa.

Reduto de Ciro Gomes, Ceará pode ter aliança do PDT com o PT 
Atualmente governado pelo PT, o Ceará é o principal reduto eleitoral do pré-candidato à presidência pelo PDT, Ciro Gomes. O atual governador cearense, Camilo Santana, conta com o apoio do clã Gomes no estado, mas não poderá se candidatar em 2022, pois já foi reeleito.

Mesmo assim, petistas e pedetistas admitem que, no estado, não haverá entrave para que os dois partidos caminhem juntos na eleição de 2022. Camilo Santana pretende ser candidato ao Senado, enquanto o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Claudio (PDT) é cotado para disputar o Palácio da Abolição.

Na oposição, o deputado Capitão Wagner (Pros) pretende disputar o governo com apoio do presidente Bolsonaro. Com a fusão entre DEM e PSL, aliados de Wagner acreditam que ele poderá mudar de legenda para ter mais estrutura de campanha.

No Pará, Helder Barbalho quer a reeleição e vai dar palanque a Lula
O governador Helder Barbalho (MDB) é apontado por integrantes emedebistas como candidato “natural” à reeleição ao governo do Pará em 2022. A expectativa é de que o emedebista apoie o ex-presidente Lula no estado mesmo com a tentativa de o MDB viabilizar a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) ao Palácio do Planalto.

No PSDB, o ex-senador Flexa Ribeiro vem sendo apontado como possível nome ao Executivo local pelo partido na região. Na estratégia, o ex-governador Simão Jatene seria o candidato ao Senado. A dupla lidera a oposição contra Barbalho no governo paraense.


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