Juliana Estigarríbia

10 de fevereiro de 2022 | 05h10

Avião de passageiro convertido em cargueiro  Foto: Bruno Tortorella/Azul

Com menos gente e mais produtos a serem transportados, a Azul avança na estratégia de fortalecer sua área de cargas. Além de converter quatro aviões de passageiros em cargueiros, após ter conseguido autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), pretende comprar uma empresa de transporte rodoviário, para se firmar como uma companhia de logística integrada.  O objetivo é atuar com mais competitividade no chamado “last mile” – o da entrega na casa do cliente. “Dentro da nossa estratégia para 2022 e 2023, queremos comprar uma empresa de transporte rodoviário para agregar ao negócio da Azul”, disse ao Broadcast a diretora da Azul Cargo, Izabel Reis.

Executivos do grupo vêm afirmando reiteradamente que a Azul Cargo deve ter receita recorde de R$ 1 bilhão no exercício de 2021. “É um mito que o transporte aéreo de carga é mais caro. Temos agilidade, menos manuseio e propensão reduzida de sinistro.”

Segundo a executiva, a empresa vem se preparando há muito tempo para oferecer soluções integradas para os clientes, que atualmente somam mais de 100 mil CNPJs em carteira, sendo que 200 representam cerca de 50% do faturamento total.

“Não fazemos só o transporte aéreo, entregamos onde o cliente quiser”, afirma. Hoje, a Azul Cargo tem 300 lojas no Brasil no modelo de franquia, em que o representante ganha remuneração a cada negócio que ele agregar: realização da coleta, manuseio, se o produto é expresso, entre outros.

“As empresas que trabalham conosco precisam de logística, não querem contratar alguém para coletar a carga, outra para transportar e mais uma para fazer o ‘last mile’. O cliente quer o melhor preço, o melhor prazo e alguém que controle isso tudo para ele, ou seja, que forneça uma visão integrada do processo”, avalia.

Atualmente a Azul Cargo realiza mais de 1,2 milhão de entregas por mês e, com as lojas espalhadas pelo Brasil, já atende 4.200 municípios. De acordo com a executiva, se o cliente precisa de agilidade e tem prazo de um ou dois dias, ele pode colocar a encomenda no avião. Se tiver mais tempo e quiser um valor menor, a companhia também tem a opção do rodoviário através de parceiros. Mas a ideia é ir além. “Queremos atingir o cliente de 500 km a 800 km que hoje, com o aéreo, não somos competitivos.”

Processo complexo

A Azul recebeu autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar o primeiro jato E1, da Embraer, convertido em cargueiro, na última sexta-feira. Após um longo processo, que incluiu inúmeros testes de voos, a Azul Cargo terá quatro cargueiros convertidos, além de outras aeronaves dedicadas dentro da estratégia de se consolidar como uma empresa de logística integrada.

Segundo Izabel Reis,  a conversão de aeronave é um processo complexo principalmente porque envolve autorizações da Anac para garantir a segurança da operação. O novo cargueiro precisa atender a especificações como peso e barreiras de contenção, principalmente contra fogo (no caso de carga perigosa). Todas as modificações precisam ser homologadas.

Ela conta  que no início da pandemia a Azul buscou a Anac para viabilizar o transporte de carga nos assentos dos passageiros, movimento que já estava acontecendo ao redor do mundo. Com isso, uma parte dos 118 assentos do E1 foi removida para transportar carga. A nova configuração trouxe uma capacidade de até sete toneladas.

Em fevereiro de 2021, a companhia começou a gestar o projeto de conversão integral do E1, com o envolvimento da Embraer e cooperação de uma empresa especializada de São José dos Campos (SP). O primeiro protótipo saiu em setembro e, na última sexta-feira, a Anac concedeu a permissão oficial de voo para o novo cargueiro, que pode transportar de 13 a 15 toneladas de carga.

Além dos E1s convertidos, agora a Azul Cargo conta com uma frota dedicada de dois Boeing 737 e cinco aeronaves modelo ATR que podem ser rapidamente transformadas em cargueiros. “Todos os nossos 47 E1s são elegíveis para conversão”, diz.

Afora a carga geral, que inclui itens como máquinas e eletrônicos, um grande foco da Azul Cargo é o e-commerce, que tem como característica pacotes de até três quilos e uma grande diversidade de produtos. “O novo E1 convertido tem um custo benefício muito bom. O cliente pode entregar volumes um pouco menores”, relata, citando gigantes do e-commerce como clientes. “O Mercado Livre já utiliza nossas aeronaves e vai continuar usando nessa nova versão.”

Ela ressalta que o projeto de conversão do E1 não elimina a meta de ter cargueiros novos em 2023, mas pondera que o processo de chegada e adaptação de uma nova aeronave costuma ser longo, de pelo menos dois anos. “Conseguimos a conversão do E1 em 8 meses. Mesmo quando a pandemia acabar, esses cargueiros convertidos permanecerão assim, já estão com volumes comprometidos.”

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