1. Economia 

Reajuste tende a pressionar ainda mais a inflação no País, que segue surpreendendo e retirando o poder aquisitivo do assalariado

Celso Ming*, O Estado de S.Paulo

pancada da correção dos preços da gasolina (+18,7%), do óleo diesel (+24,9%) e do gás de cozinha (+16,0%) terá efeitos econômicos e psicológicos.

Há meses o governo vem dando trombadas sucessivas entre seus ministros na tentativa de substituir o critério de definição dos preços internos aos equivalentes aos das importações (Paridade dos Preços Internacionais). Por não conseguir eleger outro critério, a Petrobras tem de aplicar o que está a seu dispor.

A ideia de que a variação dos preços internacionais não deve ser aplicada imediatamente, mas com certo intervalo, tem o inconveniente da superdosagem: em temporada de alta, quando feitos os reajustes nessas condições, a paulada pode ser bem menos suportável, como agora. Desta vez, a Petrobras ficou 57 dias sem corrigir os preços dos combustíveis.

O principal impacto econômico dessa correção é mais inflação na veia, que não acontece apenas por meio do aumento de custos.

Há, nesses casos, outro tipo de contaminação, que se dá pelos canais puramente psicossociais. Se a gasolina aumenta quase 20%, a cabeleireira quer aumentar seus serviços também na mesma proporção, embora não consumam combustível. A principal vítima desse processo é o mais fraco, é o assalariado, que perde poder aquisitivo sem conseguir reposição equivalente de renda.

fila postos
Motoristas fazem fila em posto de combustível localizado na Marginal Tietê, em São Paulo. A Petrobras anunciou nesta quinta reajuste de 18,7% nos preços da gasolina e de 24,9% nos do diesel. Foto: Daniel Teixeira/ Estadão – 10/03/2022

Para combater a inflação de natureza defensiva que excede o puro aumento de custos, o Banco Central terá de acionar sua política monetária. Ou seja, terá de aumentar os juros básicos (Selic) para acima dos 11,75% ao ano previstos para o fim deste 2022. 

A melhor proposta para enfrentar a alta volatilidade dos preços do petróleo consiste em criar um fundo de estabilização. Se os preços saltam para acima de determinado patamar, usam-se os recursos desse fundo para pagar parte da conta. Quando recuam para abaixo desse patamar, o fundo se capitaliza. Hoje não existe esse fundo e, portanto, não há recursos para bancar a estabilização no curto prazo.

De todo modo, esse fundo tem custos. Um deles é o custo fiscal. Se os recursos para ele vierem dos dividendos da Petrobras, a União não poderá usar essas receitas para cobrir outras despesas do Tesouro.

Além disso, a Petrobras já não é a única produtora de combustíveis no Brasil. Como fazer para que essas outras empresas também contribuam com seus lucros para a composição desse fundo?

A hora é de falta de horizonte. Não há como saber até quando vai essa guerra nem até onde vão os preços do petróleo e do gás

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

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