Unificação de candidatura
Quais são os entraves para essa aliança
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília
Pré-candidato pelo PDT, ex-ministro Ciro Gomes resiste em abdicar da candidatura se não for o escolhido da terceira via| Foto: PDT/SP/Divulgação
Líder do movimento de unificação da chamada terceira via, o presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), tenta atrair o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) para o grupo que se opõe à polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição ao Palácio do Planalto.
Com Sergio Moro fora da corrida presidencial e a indefinição sobre a candidatura de João Doria (PSDB), Ciro aparece como o pré-candidato com a melhor pontuação nas últimas pesquisas eleitorais.
Pesquisa do Ipespe, encomendada pela XP Investimentos e divulgada na quarta-feira (6), mostrou Lula com 44% das intenções de voto, seguido de Bolsonaro com 30% e Ciro Gomes com 9%. Já o levantamento da Genial/Quaest, divulgado pela CNN nesta quinta-feira (7), traz Lula com 44%, Bolsonaro com 29% e Ciro com 5%.
Nas últimas semanas, Bivar e outras lideranças do União Brasil passaram a procurar Ciro em busca de uma composição, mas, por enquanto, sem sucesso. O partido de Bivar e mais MDB, PSDB e Cidadania definiram em reunião na quarta que terão um candidato único à Presidência e que o nome escolhido será revelado no dia 18 de maio.
Enquanto isso, os esforços de Bivar para contar com Ciro nessa aliança devem ser intensificados. Acenos não faltam. Pré-candidato ao governo da Bahia, o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil) já sinalizou que poderia abrir palanque para o pedetista no estado.
Aliado de ACM Neto, o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) defendeu que o pedetista participasse das conversas. “Qualquer discussão que trate de terceira via tem que incluir a todos, inclusive o Ciro, para depois afunilar em torno de um nome”, disse Nascimento.
Apesar do movimento, alguns integrantes do União Brasil consideram praticamente nula a chance de o partido vir a apoiar o integrante do PDT por causa de divergências ideológicas. Além disso, há uma resistência de Ciro Gomes eventualmente abrir mão de sua candidatura para apoiar um outro integrante da terceira via.
Aliança com Moro é vista como inviável dentro do PDT
Dentro do PDT, a aproximação de Ciro Gomes com o União Brasil é vista como improvável por causa da entrada de Sergio Moro na legenda. O ex-juiz ingressou no partido de Bivar e acabou retirando sua pré-candidatura ao Planalto.
Questionado sobre os encontros com Bivar, Ciro disse que o presidente do União Brasil tem “essa pretensão generosa” de unir os nomes do centro. O pedetista afirmou ter dito a Bivar que não seria um “obstáculo” a eventuais conversas.
“Penso em uma composição, mas penso com muito ceticismo. O que passa na cabeça do Moro sobre a Petrobras, sobre o salário das pessoas, sobre juros e crediário (…). É água e óleo. Não combina. Primeiro porque ele não sabe nada disso, segundo que repete um ideário reacionário, que é o Bolsonaro”, afirmou o pedetista.
Na última terça-feira (5), por exemplo, o pedetista voltou a criticar publicamente Moro durante um evento em São Paulo e afirmou que terceira via não existe. “Eu o conheço profundamente. Ele é um pilantra que fez da magistratura um palanque para tirar os direitos políticos de um político e depois virar ministro do outro. Em seguida, querendo trair o outro, vai para a iniciativa privada trabalhar, em qualquer empresa ele podia, menos numa, a multinacional que ganha R$ 70 milhões da massa falida da Odebrecht e da Queiroz, que ele, Moro, quebrou”, afirmou.
Ciro Gomes enfrenta resistências de outros nomes da terceira via
Além dos obstáculos no União Brasil, Ciro Gomes também enfrenta resistências entre outros partidos que integram a terceira via, como MDB, PSDB e Cidadania. Recentemente, durante uma entrevista à rádio Tiradentes, de Manaus, Ciro classificou João Doria, pré-candidato pelo PSDB, como “viúva de Bolsonaro”.
Para aliados do pré-candidato tucano, o pedetista não representa o “centro democrático” e não partilha das mesmas “convergências” dos partidos da terceira via. “Ele [Ciro Gomes] é bastante intransigente e isso está comprovado no seu isolamento tanto na esquerda quanto entre os partidos de centro. Todos que estão participando das conversas da terceira via estão abdicando de alguma coisa, ele não estaria disposto a abdicar de nada”, argumenta um aliado de Doria no PSDB.
Pré-candidata pelo MDB, a senadora Simone Tebet (MS) também sinalizou que Ciro Gomes não tem participado das conversas do grupo. “Nunca estivemos tão próximos de um consenso. Ele [Ciro Gomes] não se apresenta como integrante do centro democrático, mas é bem-vindo para conversar conosco, não há dúvidas disso”, acrescentou a emedebista.
Metodologia das pesquisas citadas na reportagem
A pesquisa Ipespe foi realizada entre os dias 2 e 5 de abril de 2022, a pedido da XP Investimentos. A amostra é de mil eleitores brasileiros, a margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-03874/2022.
Já a pesquisa do instituto Quaest foi contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores entre os dias 1º e 3 de abril de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral, sob o protocolo BR-00372/2022.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/ciro-gomes-terceira-via-quais-sao-os-entraves-para-essa-alianca/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.