Luiz Carlos Trabuco Cappi*, O Estado de S.Paulo
A Nasdaq tem o seu Water Index, com empresas inovadoras na gestão do recurso; valorização média das companhias de água e saneamento listadas na Bolsa de Nova York bate seguidamente o S&P 500
Sinônimo de vida e saúde, a água está sob risco. Os sinais de escassez por causa de mudanças no ciclo das chuvas, da seca nas nascentes dos rios e da redução do gelo e da neve são globais. Tornou-se um problema econômico, ganha espaço na preocupação dos empresários e analistas e impacta a indústria, o agronegócio e os indicadores.
O drama humano é gigantesco. Segundo a ONU, cerca de 2,2 bilhões de pessoas não têm acesso a água potável certificada, 30% da população mundial. EUA, China e Índia sofrem com a diminuição de seus lençóis freáticos. No Brasil, perdemos 20% de superfície hídrica. Agora, os reservatórios estão abastecidos pelo verão chuvoso, mas o cenário é de incertezas.
Este ano, a OMS escolheu para o Dia Mundial da Saúde, em 7 de abril, o tema “Nosso Planeta, Nossa Saúde”, reforçando a importância da água entre as variáveis para o equilíbrio do ecossistema. É imprescindível seguir a cartilha endereçada pela sigla ESG (Ambiente, Social e Governança). O investimento em sustentabilidade, tecnologia e infraestrutura de captação e tratamento é questão angular da sobrevivência.
Mas o básico, como reduzir o desperdício, ajuda. Isso depende de valores pessoais e coletivos, além de investimentos em obras para o reaproveitamento da água. Estudo do Bank of America calculou em até US$ 1,5 trilhão os aportes anuais necessários para essa finalidade.
A água ganhou status de ativo e, dos investidores, uma classificação precisa: ouro azul. Iguala-se, assim, ao petróleo, o ouro negro. O petróleo e o ouro são recursos naturais finitos. E agora sobressai a ideia de que também a água é um bem finito, se não cuidarmos dela.
Os esforços para a solução da questão hídrica criam riqueza. A Nasdaq tem o seu Water Index, com empresas inovadoras na gestão do recurso. A valorização média das companhias de água e saneamento listadas na Bolsa de Nova York bate seguidamente o S&P 500. Em 2020, a Bolsa de Chicago lançou um contrato futuro para tentar precificar as expectativas do mercado para esse recurso natural. Entre nós, o novo Marco do Saneamento ativa investimentos. A meta é que 99% da população tenha acesso a água potável e 90% ao saneamento básico em 2033.
O Brasil está no centro dos desafios de superação da crise hídrica – pelo tamanho da sua economia e a dimensão das carências de sua infraestrutura de saneamento – e tem, portanto, necessidade de investimentos. Com mais segurança jurídica, é possível atrair capital para novos projetos rentáveis. É preciso apostar no ESG como um ativo diferenciado do Brasil.
* PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO BRADESCO. ESCREVE A CADA DUAS SEMANAS