Setor elétrico
Por
Cristina Seciuk – Gazeta do Povo
Pequenas centrais hidrelétricas cobram mais espaço na geração de energia do país.| Foto: Divulgação/AbraPCH
“Térmica não é a única solução, nem a melhor.” É com essa afirmação que o presidente da associação que representa as usinas hidrelétricas de pequeno porte (AbraPCH), Paulo Arbex, defende que o país freie sua aposta na geração que apoiou o sistema elétrico brasileiro em meio à crise hídrica de 2021 e volte os olhos para o já conhecido potencial das águas.
Amplamente acionadas para evitar racionamentos e desabastecimento diante da desidratação dos reservatórios no ano passado, as usinas termelétricas têm seu papel e foram necessárias, admite Arbex. Mas ele avalia que fontes mais limpas e baratas podem garantir a segurança do abastecimento brasileiro.
“Se eu preciso de 100 megawatts [em reserva de capacidade], posso contratar 130 megawatts de PCH, eólica, solar”, com margem de manobra para contornar momentos em que a geração não seja viável (no caso das fontes não despacháveis). “É melhor do que você contratar térmica para ficar parada e rezando para não ter que ligá-la a custo proibitivo”, completa.
A despeito dos riscos da geração hídrica observados em 2021, o presidente da AbraPCH defende que o país “criou uma falta de hidrelétricas” após crise anterior, vivenciada em 2001. Naquele ano, também de escassez, os brasileiros experimentaram racionamento de energia e apagão. Pela lógica apontada por Paulo Arbex, o Brasil deveria inverter a marcha e retomar o crescimento da geração hidrelétrica.
A sugestão vai na contramão do que se tem observado desde o início dos 2000. Nos 20 anos que se seguiram, a fatia ocupada pelas usinas hídricas na matriz elétrica encolheu, abrindo espaço para outras fontes. Elas deixaram de representar cerca de 90% da geração nacional para os 65% atuais, numa diversificação apontada como importante para combater a insegurança energética causada pela dependência de uma fonte tão predominante.
Arbex pondera que, embora tenha perdido espaço, a geração hídrica ainda é protagonista no país e segue “carregando nas costas o piano do setor elétrico”. Num comparativo, o representante da PCHs destaca que no ano de 2018 as usinas térmicas entregaram 14,5% da energia consumida no país, mas concentraram 47,8% do faturamento do setor. As hidrelétricas, por sua vez, geraram 73,8% da energia consumida e ficaram com 32% do dinheiro. “Ou seja, as hidrelétricas estão subsidiando. Graças às hidrelétricas o custo bilionário das fósseis não está doendo muito mais e quebrando o consumidor”, afirma.
Setor vê freio puxado para a geração hídrica
A AbraPCH reúne centrais geradoras hidrelétricas (CGHs) e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), usinas com potência instalada de até 30 MW e reservatórios de até três quilômetros quadrados. Hoje, essas unidades somam 6.800 megawatts em potência instalada.
Segundo fala do próprio ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, gravada para a 5ª Conferência Nacional de PCHs e CGHs, o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2031) prevê que a capacidade instalada dessa modalidade cresça até a marca de 10 gigawatts na próxima década. O avanço, tratado como “expansão importante” pelo ministro, é classificado como irrisório por Arbex.
“Não é bom sinal. O Brasil precisa de uns 4 ou 5 mil ‘megas’ ao ano de nova geração; aumentar hidrelétrica em apenas 300 [megawatts neste intervalo] é muito pouco, é 7% do total”, calcula. O presidente da entidade acrescenta ainda que não há previsão para a construção de nenhuma hidrelétrica de grande porte no período, o que seria, segundo ele, “mais um motivo para aumentar a contratação de PCHs”.
Somente nos próximos três anos a AbraPCH projeta um adicional de 1,8 MW em hidrelétricas de pequeno porte, o que representaria aumento de 30% sobre a capacidade atual.
Além da previsão tímida apontada para o setor no PDE 2031, o número apontado para a potência instalada até lá fica aquém, inclusive, do que já seria possível colocar em operação no país. Segundo Arbex, já existem quase 15 mil megawatts de projetos de PCHs e CGHs aprovados na Aneel, com potencial para movimentar R$ 120 bilhões e gerar pouco mais de um milhão de empregos.
Associação fala em desvaforecimento das PCHs
Outro ponto que poderia ser visto como avanço para a geração hidrelétrica de pequeno porte mas é motivo de desconfiança para o segmento é a lei de privatização da Eletrobras.
No texto, foi embutida uma espécie de reserva de mercado para a contratação de 2.000 megawatts de energia gerada pelas pequenas centrais hidrelétricas em leilões realizados entre 2021 e 2026. Desde a publicação da lei, em julho passado, entretanto, nada ocorreu na prática, afirma Arbex.
“A gente estava contando com esses 2 mil megas, esperamos que eles ainda sejam contratados. Se forem contratados está perfeito e a gente ganha tempo para continuar trabalhando com o governo”, completa, em referência a cobranças sobre suposto favorecimento a outras fontes em detrimento das hidrelétricas.
Na avaliação de Arbex, as CGHs já encontraram seu lugar no mercado brasileiro na geração distribuída – mesmo que ela tenha predominância da solar. Falta viabilizar as PCHs.
Os empreendimentos de geração de pequeno porte (caso das CGHs, que tem até 5 megawatts de potência instalada) muitas vezes não necessitam da construção de linhas de transmissão robustas, tendo sua energia escoada por estruturas semelhantes aos sistemas de distribuição.
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