Gargalo para o desenvolvimento
Por
Erick Matheus Nery, especial para a Gazeta do Povo

Área da cidade de San José, na Califórnia, que integra o Vale do Silício dos EUA| Foto: Wikipedia

A região do Vale do Silício, nos Estados Unidos, abriga as maiores empresas de tecnologia e é conhecida mundialmente como um dos principais polos de inovação. No Brasil, apesar da existência de ilhas de excelência, chamadas por alguns de “Vale do Silício Brasileiro”, o país ainda está muito longe de chegar perto da eficiência e qualidade do parque tecnológico americano, fruto da união de esforços de instituições de ensino, centros de pesquisa e empresas. E os motivos principais são a falta de mão de obra especializada, dificuldades legais e culturais para as universidades trabalharem ao lado das empresas e a ausência de políticas públicas que fomentem essa transformação.

Para entender o tamanho do gargalo, é preciso analisar os indicadores de produção científica das universidades brasileiras. Os cursos de pós-graduação, por exemplo, são responsáveis por cerca de 80% da produção científica que se faz no país. O Brasil também é um dos que mais produz pesquisas, oscilando nos últimos anos entre o 13º e 14º lugar mundial na quantidade de papers, próximo a países como Coreia do Sul e Alemanha. O problema é que esse conjunto traz quantidade e não qualidade. O Brasil, nos últimos rankings de impacto científico – indicador que avalia o quão efetiva é uma pesquisa -, tem permanecido entre os últimos lugares, algumas vezes atrás de países da América Latina, de acordo com o ranking do Scimago Journal, que investem menos que o Brasil em ciência.

O Brasil também está no 56º lugar nos rankings de colaboração da ciência com a indústria, de acordo com um levantamento da Web Of Science. Já nos rankings internacionais de qualidade, as universidades brasileiras também estão longe de suas colegas no exterior. Para dar um exemplo, nas últimas edições do QS World University Ranking, o Brasil registrou cerca de 20 universidades entre as 1.000 melhores do mundo e apenas uma acima da 200ª posição.

Outro indicador que mostra o quanto a produção científica em grande parte das universidades brasileiras está desfocada do mercado de trabalho é avaliar o destino dos cerca de 23 mil doutores formados a cada ano no país. Do total, 80% deles se mantêm na universidade e só 20% vão para as empresas. Esse cenário é completamente inverso em países como Estados Unidos e Alemanha: a maior parte dos doutores vai trabalhar na indústria e outras corporações de desenvolvimento econômico.

“Existe um problema tanto no número de profissionais quanto na qualidade das faculdades. Os alunos se formam carentes em conhecimento de tecnologias, melhores práticas atuais e em habilidades socioemocionais, como trabalhar em equipe, autonomia de aprendizado, proatividade e comunicação”, afirma Fabio de Miranda, coordenador do curso de Engenharia da Computação do Insper.

Segundo ele, não se deve desprezar algumas regiões do Brasil, com parques tecnológicos consideráveis, como a região do Berrini, em São Paulo (SP), São José dos Campos (SP), Campinas (SP), Recife (PE), Santa Rita do Sapucaí (MG), entre outras. E também empresas de tecnologia brasileiras avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Mas, apesar dessas realidades, o cenário atual ainda está muito aquém do que poderia ocorrer no Brasil.


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