Estados Unidos
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Agência EFE – Gazeta do Povo
Segundo a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, o presidente Joe Biden defende “que as plataformas de tecnologia devem ser responsabilizadas pelos danos que causam”| Foto: EFE/EPA/Oliver Contreras
A Casa Branca reiterou nesta segunda-feira (25) seu pedido para que o Congresso dos Estados Unidos aprove novos regulamentos que obriguem redes sociais como o Twitter a serem responsabilizadas pelos “danos que causam”.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, fez esta declaração logo após o Twitter anunciar que havia aceitado a oferta de aquisição do empresário sul-africano Elon Musk por cerca de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 215 bilhões).
Psaki se recusou a comentar a “transação específica” entre Musk e o Twitter, mas disse que, seja quem for o dono da empresa, o presidente dos EUA, Joe Biden, “há muito se preocupa com o poder das grandes plataformas de mídia social”.
“(Biden) vem dizendo há muito tempo que as plataformas de tecnologia devem ser responsabilizadas pelos danos que causam”, ressaltou a porta-voz em sua entrevista coletiva diária.
Psaki declarou ainda que o presidente americano “apoia fortemente a aprovação de reformas fundamentais para atingir esse objetivo”, incluindo reformas antitruste que “exigem mais transparência” nesses tipos de fusões ou aquisições.
Biden também acredita que deve ser reformada a chamada Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações de 1996, lembrou a porta-voz.
Essa seção estipula que as grandes empresas de internet estão isentas de quase todas as consequências legais decorrentes do conteúdo postado em suas plataformas e até mesmo de suas próprias decisões de remoção de conteúdo, porque deveriam ser meros intermediários ou canais.
Por fim, Psaki acrescentou que há “interesse bipartidário” no Congresso em promover esse tipo de reforma, algo que “tranquiliza” Biden.
Antes de comprar o Twitter, Musk vinha sendo altamente crítico à rede social e questionou se suas regras seguem “rigorosamente” o princípio da liberdade de expressão.
Essas regras levaram à suspensão de contas de figuras da direita, incluindo o ex-presidente dos EUA Donald Trump (2017-2021), banido do Twitter desde janeiro de 2021 depois que a empresa alegou que suas mensagens instigaram o ataque ao Capitólio.
Em entrevista à emissora Fox News nesta segunda-feira, Trump comentou que não quer voltar ao Twitter e que planeja em breve ingressar na rede social alternativa que vem promovendo, a Truth Social.
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NOVA YORK – O que está em jogo na oferta de Elon Musk, o homem mais rico do mundo, pelo Twitter? A proposta de compra da plataforma por US$ 44 bilhões foi analisada nesta semana pelo Conselho de Administração da empresa e um acordo foi fechado entre o bilionário e acionistas.
Mas uma confluência de interesses pode fazer com que o impacto da aquisição da rede social pelo bilionário fundador da Tesla vá muito além dos negócios — influenciando desde os rumos da democracia nos Estados Unidos à política em diversos países.
Musk tem deixado claro que seu principal objetivo ao comprar o Twitter é apoiar a liberdade irrestrita de publicações na plataforma e reduzir o uso de marcadores ou remoções de conteúdos inapropriados.
— É muito importante que exista uma arena inclusiva para a liberdade de expressão — afirmou o bilionário este mês em uma conferência. — O Twitter se tornou uma praça pública de fato, então é muito importante que as pessoas tenham tanto a possibilidade concreta como a percepção de que são livres para falar, dentro dos limites da lei.
Apesar de seu próprio histórico pessoal de tolerância com discursos contrários aos seus interesses seja dúbio, Musk definiu assim, na conferência, o que seria na sua visão a liberdade de expressão:
— Um bom sinal se há liberdade de expressão é o seguinte: alguém que você não gosta pode falar algo que você não gosta? Se a resposta é sim, então há liberdade de expressão.
Musk costuma dizer que prefere ficar longe da política, mas há bons motivos para suspeitar que tendo o Twitter como uma empresa sua, ele poderia reativar a conta do ex-presidente americano Donald Trump.
Trump foi banido permanentemente do Twitter após a invasão do Capitólio, em janeiro do ano passado, “devido ao risco de novas incitações à violência”, como justificou a plataforma na ocasião.
Na mesma conferência em que defendeu a liberdade de expressão, Musk disse que seria “muito cauteloso” em relação a banimentos permanentes em plataformas como o Twitter.
Em outros momentos, sua visão de mundo se aproximou à de Trump, como há dois anos, quando o então presidente americano apoiou os planos da Tesla de reabrir sua fábrica na Califórnia em pleno lockdown do estado para conter a Covid.
E, em tuítes recentes, o bilionário aparentemente absorveu muitas das ideias da extrema direita americana em sua guerra cultural: “O vírus da mente desperta está deixando a Netflix impossível de se assistir”, escreveu.
O site de análise política Politico pontuou, recentemente, que os políticos conservadores americanos consideram que Trump será o “salvador do Twitter”.
Em entrevista ao site, o deputado republicano Darrell Issa, da Califórnia, disse que Musk “poderia levar o Twitter a uma direção muito melhor” para aqueles que, segundo Issa, foram “injustamente silenciados ou censurados pela ofensiva do Twitter contra o discurso conservador e contra as ideias de que a plataforma não gosta”.
“Os censores do Twitter estão enlouquecendo porque não podem comprar o silêncio de Elon Musk. Claramente, as big techs não conseguem lidar com quem pensa diferente delas”, tuitou a senadora republicana pelo Tennessee Marsha Blackburn.
Musk sempre foi um grande doador do American Civil Liberties Union, entidade que defende o “livre discurso” de todos os candidatos e que argumenta que todos os políticos deveriam ter acesso ilimitado e sem travas às mídias sociais, não importa os riscos envolvidos.
É por isso que a proposta de Musk pelo Twitter parece ser bem mais do que uma aquisição de negócios, mas sim uma “compra política”, remetendo a episódios do passado, como a aquisição, pelo bilionário australiano Rupert Murdoch, do New York Post em 1976 e do Wall Street Journal em 2007.
Musk, que já disse “não ligar para as questões econômicas” de comprar o Twitter, parece querer um diferente tipo de poder: controlar um dos maiores megafones do mundo e, com isso, conseguir impor sua ideologia libertária em temas como moderação – ou falta de moderação – e desinformação.
E assim como Murdoch já foi acusado de usar suas publicações para defender os interesses de seus negócios, Musk também terá não só motivações pessoais como financeiras para reabilitar vozes hoje banidas pelo Twitter. Por exemplo, se Trump for reeleito e a Tesla conseguir retomar seus créditos tributários para a produção de veículos elétricos, Musk pode ser tentado a permitir sua volta ao Twitter.
E, com mais de 80 milhões de seguidores, Musk já usa o Twitter como uma máquina poderosa de marketing para suas empresas.
A pressão política pode ser ainda mais forte fora dos Estados Unidos. Em 2020, o Twitter começou a marcar como “mídia de filiação estatal” as contas de membros do governo e de grupos de comunicação governamentais da China.
Além de marcar essas publicações, a plataforma adotou medidas para que esses tuítes não tivessem grande alcance na rede. A Tesla tem grandes interesses comerciais na China e, para atingi-los, precisa do apoio do presidente Xi Jinping. Como Musk lidaria com essa moderação do Twitter em relação aos posts de órgãos estatais chineses?
E, se outro titã do mundo tecnológico, Jeff Bezos, da Amazon, prometeu — e até agora cumpriu — não misturar negócios com decisões editoriais após sua aquisição do Washington Post em 2013, Musk parece estar fazendo justamente o contrário.
O bilionário não cansa de repetir que “vai se envolver” no Twitter. Então, qualquer que seja a ideologia que ele poderá implantar caso compre a plataforma, isso terá impacto não só para os acionistas do Twitter — mas para todos nós.
Brad Stone, da Bloomberg News
NOVA YORK