Pesquisas eleitorais
Por
Jorge de Sousa, especial para a Gazeta do Povo

Os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT), Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL)| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo; Fernando Frazão/Agência Brasil; Alan Santos/PR

A cerca de 140 dias para o primeiro turno das Eleições Gerais de 2022, a corrida presidencial apresenta poucas surpresas. Pela primeira vez na história desde a redemocratização após a Ditadura Militar, dois candidatos que ocuparam o cargo de presidente se enfrentam pelo posto de chefe do executivo nacional. O atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protagonizam a liderança das pesquisas eleitorais nos primeiros cinco meses de 2022.

Mas além dos números principais, as pesquisas têm mostrado algumas tendências dos eleitores. Esses caminhos ainda não são definitivos, mas servem para nortear os próximos passos das candidaturas presidenciais até as eleições em outubro.

  1. Terceira via e o voto útil
    Ciro Gomes (PDT), o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), a senadora Simone Tebet (MDB), e os deputados federais André Janones (Avante) e Luciano Bivar (União Brasil) têm nomes consolidados ou ocupam cargos dentro da vida pública nacional. Mas dentro de uma eleição polarizada entre Bolsonaro e Lula, todos eles somados não alcançam 15% das intenções de voto nas principais pesquisas eleitorais do Brasil.

“É muito difícil eles se unirem, porque todos têm percentuais muito baixos. Muito difícil alguém desistir por alguém que está igual a ele ou pior”, avalia o presidente do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, sobre a possibilidade de uma unificação da terceira via, que, com a saída do União Brasil das negociações, caiu por terra.

Mesmo que esses candidatos apresentem hoje poucas chances de vencer a eleição, os eleitores da terceira via podem representar um fator decisivo dentro da corrida presidencial se os votos que atualmente estão com eles migrarem para os dois candidatos que hoje lideram as pesquisas – o fenômeno do chamado voto útil. Quase 70% dos que não pretendem votar em Lula e em Bolsonaro, dizem que podem mudar o voto. Dependendo do rearranjo, a eleição poderia ser decidida na primeiro turno.

Segundo pesquisa Genial/Quaest da segunda semana de maio, 34% dos eleitores da terceira via aceitavam votar em Lula no primeiro turno, em caso de chance de vitória do candidato petista. O percentual desses eleitores que utilizaria o voto útil para Bolsonaro cai para 23% nesse mesmo levantamento.

“Ele (voto útil) sempre ocorre, mas se ocorrer de forma expressiva vai ser para os dois candidatos. Não apenas do ex-presidente Lula. À medida que isso ocorrer, aumenta a polarização eleitoral e as chances da eleição se resolver no primeiro turno”, analisa o cientista político e presidente do Conselho Científico do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), Antonio Lavareda.

  1. Católicos x evangélicos
    A polarização entre Bolsonaro e Lula também está refletida nas duas principais matrizes religiosas do Brasil – segundo pesquisa do Datafolha, divulgada em 2020, 50% da população brasileira se considera católica e 31% de religião evangélica.

Entre os católicos, Lula apresenta confortável vantagem sobre Bolsonaro. De acordo com as sondagens divulgadas pelo Paraná Pesquisas e pela Genial/Quaest, o petista apresenta entre 42,9% e 51% de intenções de voto, respectivamente, contra 30,8% e 21% do atual presidente.

Mas entre os evangélicos o cenário se inverte. Bolsonaro registra 38% e 47,5%, respectivamente, frente 33% e 30,8% de Lula.

“Os evangélicos cresceram no Brasil, enquanto as respectivas igrejas de muitas denominações se multiplicaram também. Então não é algo uniforme, mas o presidente Bolsonaro tem uma vantagem bastante significativa nesse segmento. No segundo turno, isso vai ser acirradamente disputado. Esse voto é mais orgânico que o voto tradicionalmente católico”, completa Lavareda.

  1. Jovens com Lula
    No início do mês de maio, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encerrou o período para a regularização e cadastro eleitoral no Brasil. Com direito a campanha de celebridades nas redes sociais para o alistamento eleitoral, jovens com 16 e 17 anos, para os quais o voto é facultativo, abraçaram o exercício da cidadania. Segundo dados do TSE, o número de eleitores dessa faixa etária saltou 54,3% e passou de 1.051.184 adolescentes em março para 1.622.732 em abril.

As pesquisas do Paraná Pesquisas e do PoderData, divulgadas no início do mês de maio, mostraram que a tendência é que Lula tenha vantagem entre esse eleitorado. O petista marca entre 44% e 47,3% nos levantamentos feitos pelos dois institutos, frente a 38% e 26,3% de Bolsonaro.

O cientista político e membro do Observatório de Elites Políticas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Luiz Domingos Costa, avalia que dois motivos podem explicar a preferência dos jovens nessa corrida eleitoral.

“Primeiro, a crise econômica. O desemprego, por exemplo, afeta proporcionalmente o dobro (25%) da população jovem se comparada com os adultos (12%). Segundo, os recursos às políticas de incentivo à escolarização e à capacitação foram reduzidas significativamente. Então este público, até o momento, sente que suas perspectivas não são boas e tendem a preferir uma mudança de governo”, pontua Domingos Costa.

  1. Bolsonaro “toma” a região Norte
    O Norte do Brasil conta com 11.965.471 eleitores – cerca de 7,96% do total, segundo dados do TSE. Desde a redemocratização, todos os presidentes eleitos conseguiram vencer na região – única a carregar esse status junto da região Sudeste.

Na disputa presidencial contra Fernando Haddad (PT), em 2018, Bolsonaro foi o primeiro candidato desde Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, a vencer um petista no Norte. E as pesquisas indicam que o cenário conquistado por Bolsonaro quatro anos atrás parece não ter sofrido alterações para 2022. De acordo com o PoderData, o presidente tem vantagem no Norte, em relação ao seu principal adversário: 44% contra 33% do petista.

“Um dos maiores trunfos do Bolsonaro é o seu crescimento nessa região. Ele transformou a chamada ‘fronteira agrícola’ (e aqui podemos incluir a maior parte da região Sul) em seu reduto mais fiel”, explica Domingos Costa.

O cientista político ainda reforça que medidas como a revalorização das commodities no mercado internacional e a agenda de valores conservadores, com maior liberdade para exploração de terras são fatores que puxam para cima o voto para o atual presidente nessas localidades.

  1. Rejeição a Bolsonaro diminui

Outro fator positivo para o atual presidente é uma leve queda do percentual de rejeição nas pesquisas eleitorais.

Nas pesquisas divulgadas pelo Ipespe, a rejeição à candidatura de Bolsonaro chegou a 64% dos entrevistados e apresenta queda gradativa até a casa dos 60% na primeira semana de maio, enquanto no estudo da CNT/MDA decaiu de 59% em dezembro de 2021 para 53% em maio.

“A questão da rejeição é elástica. A rejeição pode crescer, se manter ou ser reduzida. É importante entendermos que a dificuldade objetiva mais importante enfrentada pelo presidente Bolsonaro no momento é a economia. E dentro da economia a questão da inflação, que azeda em grande medida o humor do eleitorado brasileiro”, complementa Lavareda.

Para Domingos Costa, Bolsonaro tem trabalhado para manter essa tendência e confirmar a presença no segundo turno das eleições em outubro.

“O governo está fazendo todo o possível para isso: anunciando programas, tentando dialogar e rebatendo nas redes sociais as muitas críticas que incidem sobre o governo. Acho, inclusive, que a tendência de melhora dos dados de Bolsonaro deve se manter por mais um período e ele ainda não chegou no seu teto, que deve ser algo entre 40 e 45% de intenção de votos no primeiro turno”, finalizou o cientista político.

Metodologia das pesquisas eleitorais citadas
A pesquisa da Quaest, sob encomenda do Banco Genial, foi realizada entre os dias 5 a 8 de maio. Foram entrevistados pessoalmente 2 mil eleitores, com 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no TSE com o protocolo BR-01603/2022.

A pesquisa PoderData foi realizada de 8 a 10 de maio de 2022. Foram entrevistadas, por telefone, 3.000 pessoas com 16 anos de idade ou mais em 288 municípios do país. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. O estudo foi realizado com recursos próprios do PoderData e está registrado no TSE sob o número BR-08423/2022.

O Paraná Pesquisas entrevistou pessoalmente 1.540 eleitores em 60 municípios do estado do Ceará entre os dias 1º e 6 de maio de 2022. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais e o nível de confiança atinge 95%. O levantamento está registrado no TSE sob o protocolo BR-01705/2022.

A pesquisa Ipespe foi realizada por telefone entre os dias 2 e 4 de maio de 2022, a pedido da XP Investimentos. A amostragem é de mil eleitores brasileiros, com margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos e nível de confiança é de 95,45%. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-03473/2022.


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