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ColunaLourival Sant’Anna – Jornal Estadão

É colunista do ‘Estadão’ e analista de assuntos internacionais

Guerra na Ucrânia chega a momento decisivo; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

Se a Ucrânia receber sistemas antiaéreos e antitanque mais potentes poderá forçar o recuo russo

A Câmara dos Deputados dos EUA aprovou ajuda militar e humanitária para a Ucrânia de US$ 40 bilhões, que se somam a outros US$ 13,6 bilhões aprovados este ano. O total se aproxima de todo o orçamento de defesa da Rússia no ano passado: US$ 66 bilhões. O Senado deve contornar a objeção de um republicano, Rand Paul, e aprovar o pacote.

Os EUA se colocam um novo objetivo: impor uma derrota decisiva a Vladimir Putin, para desencorajar novas agressões. Os congressistas não têm conseguido chegar a um acordo sobre recursos para atenuar o sofrimento dos próprios americanos, como a manutenção dos cheques de até US$ 300 por criança para famílias pobres, que custaram US$ 80 bilhões ao longo de seis meses, e os US$ 15,6 bilhões pedidos pelo presidente, Joe Biden, para “necessidades urgentes” causadas pela pandemia.

Soldado do exército da Ucrânia faz patrulha em área retomada de Kharkiv, após expulsão dos russos
Soldado do exército da Ucrânia faz patrulha em área retomada de Kharkiv, após expulsão dos russos  Foto: Bernat Armangue / AP Photo

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Nesse contexto, o consenso em torno da Ucrânia é ainda mais emblemático. A guerra vive um momento decisivo. A resistência tem imposto derrotas ao Exército russo no terreno. Os russos têm tido de recuar de Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana, bombardeada desde o primeiro dia da invasão, para a fronteira. Ao sul, mesmo depois de arrasar Mariupol, os russos não conseguem avançar em direção a Odessa.

Até aqui, o que os russos conseguiram foi destruir cidades com ataques aéreos, mísseis e artilharia pesada. A infantaria russa não tem sido páreo para a resistência ucraniana. A dinâmica indica que, se os ucranianos receberem sistemas antiaéreos e antitanque mais potentes, serão capazes de rechaçar os avanços dos russos e, em muitos casos, obrigá-los a recuar.

Ataques atingiram o porto, principal porta de entrada de armas e grãos da Ucrânia

O próximo passo será recuperar os territórios ocupados pelos russos desde 2014 no leste da Ucrânia. De uma população de 6 milhões antes da invasão, em 2014, 1,5 milhão de ucranianos fugiram da limpeza étnica efetuada pelos russos, que incluiu prisão, tortura e desaparecimento de moradores.

Para retomar essas áreas, os ucranianos precisarão intensificar os ataques cirúrgicos contra alvos militares no território russo. O objetivo não é escalar a guerra, mas deslocar os esforços russos de Donbas para a proteção das próprias bases. Para isso, além da inteligência militar oferecida pela Otan, os ucranianos precisam de mais e melhor artilharia.

Passei a semana em três países que sofrem com a chantagem russa: Azerbaijão, Usbequistão e Mongólia. Uma derrota russa na Ucrânia terá consequências políticas, comparáveis à derrota soviética no Afeganistão, em 1989. Poderá ser o início do fim do regime de Putin e da própria Federação Russa. Quanto à ameaça nuclear, apesar da retórica do Kremlin, até aqui não há sinais de elevação da prontidão do arsenal. O Ocidente começa a entender que não se deve deixar chantagear, e apaziguar Putin só o tornou mais sanguinário.

* É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

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