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Conheça a trajetória da empresa que vale mais de 3 trilhões de dólares
Fundada por Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne, no dia 1 de abril de 1976, na Califórnia, com o nome de Apple Computers INC, a Apple é a maior empresa de tecnologia do mundo atual, com valor de mercado de US$ 3 trilhões. A ideia inicial da Apple, que surgiu após o encontro de um jovem que só queria construir computadores e um garoto ambicioso com talento para vendas, parte do princípio de que computadores deveriam ser pessoais e entregues de forma facilitada para as pessoas.
Ninguém sabe ao certo como surgiu o nome da empresa – há quem diga que ele foi uma homenagem de Jobs à gravadora Apple Records ou até mesmo que o nome foi escolhido porque fazia referência a ideia de saúde que os fundadores gostariam de associar a marca. No entanto, de acordo com Steve Wozniak, foi o próprio Jobs que deu a ideia após ter trabalhado um tempo em uma fazenda com muitas macieiras, em Oregon.
Independentemente da origem do nome da empresa, que na época era uma startup, o impacto industrial da Apple foi enorme – a companhia foi a primeira a lançar um computador pessoal acessível a população em geral, com preços que estavam ao alcance da classe média e espalhar essa tecnologia em escolas.
Apesar de hoje ser uma referência quando falamos em modernidade e inovação, a empresa passou por uma longa trajetória – com momentos sucessos, mas também de crises. Mas além de ser referência inovação, a trajetória dos dois principais fundadores da Apple também deixou lições de empreendedorismo e liderança.
Steve, o jovem ambicioso
Steve Jobs (foto: Tim Mosenfelder / Correspondente via Getty Images)
Nascido no dia 24 de fevereiro de 1955, em São Francisco, Steve Jobs é filho biológico de um imigrante sírio chamado Abdulfattah Jandali e da americana Joanne Schieble. O casal se conheceu na faculdade em que ambos estudavam, a Universidade de Wisconsin – Jandali fazia um PhD sobre economia e ciência política e também era assistente do professor de Schieble. Joanne ficou grávida de Steve em 1954, mas por conflitos com sua família, que não aceitava o casamento com um muçulmano, a mulher teve que entregar o filho para a adoção.
Steve nasceu em fevereiro do próximo ano, em San Francisco, e foi acolhido por um casal, Clara Hagopian e Paul Jobs, que deram o famoso sobrenome à criança. Porém, o processo de adoção foi tortuoso – a mãe biológica de Steve exigia que quem adotasse o menino tivesse uma formação universitária, mas Clara e Paul, que estavam há anos na fila de adoção e aceitaram ficar com o menino, não preenchiam o requisito. A notícia de que o filho biológico tinha sido adotado por uma contadora e um operário irritou Schieble, que se recusou a assinar os papéis da adoção e só mudou de ideia quando Clara e Paul prometeram que enviariam o menino para a faculdade.
Desde pequeno, Jobs demonstrou interesse em aparelhos eletrônicos – aos 12 anos, ele queria construir um medidor de frequência, mas não tinha as peças necessárias para tal. Para solucionar o problema, o garoto procurou o número de William Hewlett em uma lista telefônica e ligou para o engenheiro pedindo as partes que faltavam. Além de conseguir as peças que estavam faltando, Steve também foi convidado para fazer um estágio de verão na HP, onde ele conheceu Steve Wozniak – um engenheiro com quem fundaria a Apple anos depois.
De acordo com o próprio Jobs, atitudes como essa de ligar pedindo ajuda diferenciavam as pessoas que conseguiam ou não conseguiam oportunidades de trabalho como a que ele mesmo recebeu. “A maioria das pessoas não têm essas experiências, porque elas nunca perguntam […]. Eu nunca achei ninguém que disse não ou que desligasse o telefone quando eu ligasse […]. Quando me ligam, eu tento ajudar ao máximo para retribuir o que eu tive”, disse.
Como prometido, Clara e Paul mandaram Jobs à universidade quando ele tinha 17 anos – aceito na Reed College, ele mudou-se para Portland, em Oregon. Mas Steve encontrou um outro problema: ele não via utilidade no que estava sendo ensinado na faculdade e, como sabia que a família gastava muito dinheiro com tudo isso, decidiu abandonar o curso. Apesar de ter desistido de se formar, Jobs ainda frequentava a faculdade e assistia algumas aulas como ouvinte.
Além disso, Steve Jobs queria estudar com mais profundidade a espiritualidade e cultura oriental – de acordo com a sua biografia oficial, Jobs abandonou o cristianismo aos 13 após ver uma foto de crianças morrendo de fome na capa da Revista Life -, e para financiar sua estadia na Ásia, Jobs arrumou um trabalho de meio período na Atari. Após trabalhar algum tempo para a Atari, Jobs viajou para a Índia junto com seu amigo, Daniel Kottke, em busca de iluminação espiritual. Quando Jobs voltou para o Vale do Silício, local onde reavivou a amizade com Wozniak, era um budista convertido – algo que influenciou muito a filosofia empregada na Apple anos depois.
Steve, o engenheiro
Stephen Gary Wozniak, mais conhecido como Steve Wozniak, nasceu no dia 11 de agosto de 1950, em San Jose, na Califórnia. Filho de um engenheiro da Lockheed Martin, Wozniak era fascinado por aparelhos eletrônicos desde cedo. Embora ele nunca tenha sido um estudante exemplar no sentido tradicional, Steve tinha uma aptidão para construir eletrônicos a partir do zero.
Em 1975, Steve Wozniak participou pela primeira vez do Homebrew Computer Club, um dos primeiros grupos de entusiastas de computadores. Inspirado pela troca de ideias, Wozniak foi imediatamente para casa trabalhar no que se tornaria, no futuro, o primeiro computador da Apple, o Apple I. Usando dois conceitos separados disponíveis na época – máquinas de entrada de símbolos, como máquinas de escrever e calculadoras, juntamente com uma tela de televisão que funcionava como a máquina de exibição de saída – Wozniak criou um protótipo inicial de um computador pessoal.
Na época, Wozniak era funcionário da Hewlett Packard, empresa onde projetou calculadoras científicas populares. Por causa de sua dedicação à HP, o jovem achou importante compartilhar seu protótipo com a empresa – mas a companhia não aceitou muito bem a ideia de Wozniak. Segundo a HP, na época, uma pessoa comum não precisaria usar um computador. Ainda assim, Wozniak persistiu e “implorou”, em suas próprias palavras, para que eles fizessem o computador que se tornou o Apple I – mas foi recusado cinco vezes.
Mas uma pessoa, em especial, viu o potencial da ideia. Steve Jobs acreditou na ideia e convenceu Wozniak a sair da Hewlett Packard e fundar uma empresa que vendesse placas de circuito impresso, para que as pessoas pudessem montar seu próprio computador.
O início de tudo
De acordo com o próprio Wozniak, a história entre Jobs e ele começou quando o mesmo leu uma história sobre uma civilização que era capaz de burlar o sistema de telefone para criar a sua própria rede de comunicação. A história, chamada “Os segredos da pequena caixa azul” intrigou o jovem que, imediatamente, ligou para Jobs para questionar sobre a possível veracidade da história. Diante da história, os dois foram pesquisar nas bibliotecas de universidades se o aparelho descrito na história realmente poderia ser feito e, para a surpresa de muitos, isso era possível. Wozniak conta que, a partir da descoberta, os jovens decidiram fazer o aparelho utilizando outros telefones e peças compradas em lojas de computação do Vale do Silício – o que resultou em um aparelho que fazia ligações gratuitas.
Wozniak era aficionado por eletrônica e tinha criado parte das Blue Boxes que existiam na época, uma forma de crackear as linhas telefônicas que existiam nos Estados Unidos, além de ser um ávido frequentador dos clubes de computação. Foi em um desses clubes que, após ter sua ideia rejeitada pela HP, surgiu a ideia de formar a Apple Computer em conjunto com Steve Jobs e Ronald Wayne. Com o conhecimento e expertise de cada um, o trio começou a produzir computadores em miniatura em uma garagem – mal eles sabia que esse seria o primeiro passo para revolucionar a tecnologia da época.
Loja da Apple (foto: Laurenz Heymann/Unsplash)
Lançado no dia 11 de abril de 1976, o Apple I, um computador pessoal e primeiro produto da Apple, revolucionou a indústria de computadores como um todo. Ao contrário de outros computadores amadores da época, que eram vendidos como uma espécie de kit, o Apple I era constituído por uma placa de circuito totalmente montada, com aproximadamente 60 chips. Apesar da placa-mãe montada, os usuários precisavam adicionar outros equipamentos para colocar o Apple I em funcionamento – transformadores de energia, teclados, interruptores e monitores eram acessórios que precisavam ser inseridos no computador para que ele funcionasse da forma correta.
Acredita-se que somente 200 computadores desse tipo foram fabricados, de maneira manual por Wozniak, e vendidos a um preço final de US$ 666,66. O primeiro ponto de venda do produto foi a garagem da casa dos pais de Jobs e, para custear a produção do aparelho, Jobs vendeu seu único carro, uma Kombi, e Wozniak se desfez da sua calculadora HP-65 por US$ 500. Apesar do sucesso, a Apple abandonou seu primeiro computador pessoal em 1977 – hoje, apenas seis computadores estão funcionando. Em maio de 2013, inclusive, um destes computadores foi vendido em um leilão em Cologne, na Alemanha, por US$ 668 mil.
A garagem, a qual é conhecida como marco zero da fundação da Apple por ter sido o local de fabricação e o primeiro ponto de venda do Apple I, foi designada como um sítio histórico pela Comissão Historia de Los Altos em 2013. Mas Wozniak afirma que existe um pouco de mito sobre essa história. “Nós não fabricamos nada por lá, nem fizemos design, protótipos ou planejamento de produtos”, disse o cofundador da companhia. “O local não tinha muito propósito, a não ser fazer com que nos sentíssemos em casa. Nós levávamos os projetos finalizados para a garagem para testá-los, e depois voltávamos com eles para a loja, que nos pagava”.
O Apple I é considerado, pela grande maioria das pessoas, como o primeiro computador pessoal a levar o nome da Apple. Mas Wozniak não acredita nisso. De acordo com ele, aquilo não era um computador, mas sim “a readaptação de algo que eu tinha feito antes. Era uma espécie de IKEA dos computadores: você ia comprando peças e tinha um monte de coisas que se encaixavam”, disse.
De Apple II a Macintosh
Em outubro de 1977, a empresa abandonou o Apple I, oferecendo descontos aos proprietários do mesmo na compra do seu novo computador, o Apple II. Além de ter um design mais amigável do que seu antecessor, o Apple II conseguiu fortemente bater os seus principais concorrentes por possuir gráficos coloridos e uma arquitetura aberta – Wozniak conseguiu fazer com que o computador recebesse uma variedade de dispositivos de terceiros, incluindo controladores de vídeo, discos rígidos, componentes de rede e outros. A aparência mais convidativa do Apple II fez com que o computador fosse destinado também às massas, não apenas para quem trabalhasse com computação.
O dispositivo, que estava chegava na classe média por um preço acessível, causou um enorme impacto na indústria justamente por ser o primeiro computador pessoal a alcançar a população em geral. Além disso, em 1979, a Software Arts introduziu a primeira planilha de computador, a Visicalc, aplicativo que foi extremamente popular e promoveu vendas do Apple II. Em 1984, quando o Macintosh apareceu, mais de 2 milhões de computadores desse modelo tinham sido vendidos.
Apesar do sucesso do Apple II, os anos que sucederam o lançamento do computador foram difíceis para a Apple. O Lisa, um computador pessoal projetado na Apple Computer durante o início dos anos 1980, possuía um preço extremamente alto e poucos softwares em sua plataforma – fator que acabou afastando eventuais compradores.
Em setembro de 1980, após Steve Jobs ser forçado a sair do projeto Lisa, o executivo se juntou ao projeto Macintosh. Ao contrário da crença popular, o Macintosh não é um descendente direto de Lisa – embora haja semelhanças entre os sistemas e a versão final, a Lisa 2/10, foi modificada e vendida como o Macintosh XL. O aparelho ficou marcado por dois motivos: ele era o primeiro computador a utilizar uma interface de comando baseada em gráficos, bem como pelo icônico comercial de televisão em 1984.
Steve Jobs no lançamento do iPhone
O começo do declínio
Mesmo com o sucesso do Macintosh, considerado uma obra-prima da empresa devido as suas capacidades gráficas, a situação da empresa não era das melhores. Além de inúmeros obstáculos que a Apple enfrentava, um em particular parece chamar atenção: a demissão de um de seus fundadores. Após uma série de atritos com os diretores da empresa e o CEO da época, John Sculley, Steve Jobs foi convidado, em 1985, a se retirar da empresa que ele mesmo criou.
Apesar das polêmicas envolvendo a demissão de Jobs, Sculley afirma que o fundador da Apple deixou a empresa após não conseguir convencer o conselho a seguir uma estratégia de preços diferenciada para vender a linha de computadores e impressoras Macintosh Office, que não passava pelo seu melhor momento. Depois de defender o seu argumento, o conselho considerou a presença de Jobs na empresa era inoportuna e ele, frente a esse cenário conflitante, resolveu deixar a Apple.
Após sua saída, Steve Jobs fundou a NeXT, uma empresa que produzia computadores para o mercado corporativo e o ensino superior e pesquisa. Apesar de ter enfrentado dificuldades no início, Jobs criou um software de aplicações para a web que fez a empresa ser comprada pela Apple por US$ 400 milhões, quase 60 vezes mais do que Jobs investiu. Hoje, o software criado na NeXT ainda é a base da loja virtual de aplicativos da companhia, a App Store.
No mesmo ano da venda da NeXT, Jobs comprou o grupo Graphics, o que anos depois se tornou o estúdio Pixar. Com uma proposta inicial de desenvolvimento de equipamentos para computação gráfica, a companhia acabou fechando uma parceria com a Disney para produzir desenhos animados. Anos mais tarde, apesar de não querer renovar seu contrato com a Pixar, a Disney teve medo de perder a empresa para a concorrência e a comprou por US$ 7,4 bilhões, valor 700 vezes maior do que Jobs desembolsou na compra da Graphics.
Mas antes de Jobs, Wozniak também teria passado um tempo longe de sua própria empresa. O engenheiro, que projetou componentes de hardware e elementos do sistema operacional dos computadores da marca, deixou a empresa pela primeira vez em 1981 após sofrer um acidente de avião e ser diagnosticado com uma amnésia traumática. Em seu “ano sabático”, Steve decidiu retornar a Berkeley para concluir o seu curso de ciência da computação e engenharia elétrica – embora ele tenha desistido novamente, o engenheiro acabou recebendo seu diploma por causa do seu trabalho na Apple.
Wozniak, que havia retornado a Apple pouco tempo antes dos problemas internos começarem, acabou saindo no mesmo ano que Steve Jobs deixou a empresa, passando as décadas seguintes engajado em causas filantrópicas. Após deixar a Apple, Wozniak manteve-se no mundo da computação – o engenheiro fundou uma empresa chamada CL9, que desenvolvia aparelhos de controle remoto; financiou inúmeros empreendimentos comerciais; e atuou como conselheiro em diferentes empresas. Em paralelo, Wozniak começou a dar aulas e nos anos 2000, ajudou a fundar a Wheel of Zeus (WoZ), uma companhia que desenvolvia tecnologia wireless para GPS que encerrou suas atividades poucos anos depois de sua fundação.
Após publicar, em 2006, sua autobiografia, cujo título original é iWoz: From Computer Geek to Cult Icon: How I Invented the Personal Computer, Co-Founded Apple, and Had Fun Doing It, Wozniak voltou para o mundo corporativo. Em 2009, ele se tornou o cientista-chefe da Fusion-Io, uma empresa americana que produz dispositivos de armazenamento de estado sólido de alta capacidade, mas deixou a companhia cinco anos depois. Hoje, aos 67 anos, no quarto casamento e pai de três filhos, o cofundador da Apple passa o tempo dando palestras.
Apesar de Wozniak não ter retornado a Apple após sua saída em 1985, Steve Jobs decidiu fazer diferente. O cofundador retornou a companhia como assessor informal do CEO da época, Gil Amelio – demitido poucos meses depois devido a uma das maiores perdas trimestrais na história do Vale do Silício que a Apple sofreu. Após a grande perda, a Apple anunciou que Jobs era oficialmente o CEO interino da companhia, que valia pouco mais de 3 bilhões em 1996 e que, recentemente, foi a primeira empresa de tecnologia a alcançar a marca de US$ 3 trilhões na Bolsa de Valores.
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