EUA x China

Por
Mariana Braga – Gazeta do Povo


A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, participando de um evento nos Jardins do Museu Mupanah, durante sua visita ao Haiti, em 2019.| Foto: EFE/ Jean Marc Herve Abelard

Localizada a apenas 180 Km da China, a nação insular de Taiwan é um dos principais alvos da “missão histórica de reunificação chinesa”, segundo as palavras do ditador Xi Jinping. Desde a invasão russa à Ucrânia, o Ocidente tem se preocupado mais com um possível ataque do gigante chinês à Taiwan. E os Estados Unidos declararam que não medirão esforços para proteger a ilha.

Entre as duas maiores potências mundiais, a região Indo-Pacífico é estratégica para os dois países. Por isso, há navios militares chineses circulando em torno do território, ao mesmo tempo que estão presentes homens e mulheres do exército americano, em maior quantidade do que em qualquer outra região do mundo: são cerca de 300 mil soldados.

Os Estados Unidos já declararam que as ilhas indo-pacíficas estão no “coração da grande estratégica americana”, sendo Taiwan a principal delas, conforme afirmou o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin. Por outro lado, no mês passado o seu homólogo na China, Wei Fenghe, ameaçou: “se alguém tentar separar Taiwan da China, o exército chinês não hesitará em começar uma guerra, custe o que custar”.

Além do cabo de guerra histórico na região e das disputas imperialistas, hoje Estados Unidos e China concorrem por Taiwan dentro de uma Guerra Fria tecnológica que envolve a internet 5G. Essa briga entre os dois países mais ricos do mundo, na verdade, silenciosamente, arrasta seus aliados para mais uma divisão de dois grandes blocos mundiais.

O que a guerra na Ucrânia tem a ver com as disputas por Taiwan 
Ricardo Fernandes, analista de riscos da ARP Digital e especialista em OTAN, considera que “só o Ocidente está achando que existe uma guerra contra a Ucrânia”. Para ele, trata-se de um conflito entre correntes ideológicas e o vizinho da Rússia foi apenas o país disponível no momento para se tornar o bode expiatório.

Com a OTAN, os países do continente europeu que fazem parte da aliança acabam sendo arrastados para os conflitos que envolvem o Ocidente. Entre outras consequências, através dessa movimentação geopolítica, “os EUA fecham as portas dos europeus para o mercado 5G da China”, aponta Fernandes.

Na briga pela liderança no desenvolvimento da tecnologia, os americanos dominam o tratamento de dados e os chineses têm o maior controle sobre a construção de antenas. Enquanto isso, Taiwan é a líder mundial na produção de chips (92% dos chips usados por americanos são exportados pela ilha).

Disputas no mar: cenário de guerra 
A China posicionou navios de guerra de mais de 300 metros de comprimento no estreito que fica entre Taiwan e China para desafiar a marinha americana. “A China tem a soberania, os direitos soberanos e a jurisdição do Estreito de Taiwan”, afirmou Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Internacionais, em junho. A afirmação vai contra a Convenção sobre o direito marítimo, que delimita as águas territoriais a 22 Km da costa dos países.

A imprensa oficial chinesa também anunciou que Jinping autorizava a marinha do país a agir pela “proteção da segurança nacional”. O Ministério da Defesa da China informou que estaria pronto para a guerra, em caso de declaração de independência de Taiwan, o que não surpreende, mas deixa evidente a intenção da ditadura chinesa de oficializar um conflito maior para dominar a região.

Já o presidente americano, Joe Biden, declarou-se pronto para defender militarmente Taiwan, quando visitou Tóquio, no mês passado.

As chancelarias se questionam sobre se os movimentos chineses no mar se tratam apenas de propaganda ideológica ou se realmente é uma movimentação militar agressiva. “Tudo vai depender da determinação dos americanos e das marinhas de exercer a liberdade da navegação no estreito”, diz Mathieu Duchâtel, diretor de conteúdos asiáticos no Institut Montaigne ao jornal Le Figaro.

“Se os navios e aviões militares do continente asiático controlarem completamente o estreito, Taiwan se tornará apenas um pedaço do Exército chinês”, completa Duchâtel.

De quem é Taiwan? 
O posicionamento da própria nação taiwanesa faz pouco barulho internacionalmente. A presidente do país, Tsai Ing-wen, não ousa cruzar a linha da declaração de independência e as eleições presidenciais só acontecem novamente em 2024.

A ilha de 24 milhões de habitantes se considera independente desde 1949, quando o então líder chinês Chiang Kai-Shek se refugiou em Taiwan após ser derrotado pelo exército comunista de Mao Tsé-Tung, mas nenhuma grande potência reconhece hoje Taiwan como um país soberano.


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