Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


| Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS

O governo dos Estados Unidos acaba de declarar, neste momento em que o presidente Jair Bolsonaro tanto fala das suas dúvidas sobre a segurança do sistema eletrônico a ser utilizado na eleição presidencial, que chegou à conclusão exatamente contrária. O sistema, avisou a Casa Branca, não tem falhas, como juram os ministros do STF que vão cuidar da votação e da apuração dos votos; os americanos garantem que as eleições brasileiras serão um modelo de limpeza para o mundo. O presidente Joe Biden deve saber o que está falando. Ele tem a seu serviço a CIA, o FBI, a NASA e sabe Deus o que mais; seus sistemas de informação são os mais avançados que existem sobre a face da Terra. Mas só pode dizer o que disse porque é Bolsonaro quem está na presidência do Brasil. Se as queixas em relação ao sistema eleitoral viessem de algum outro candidato – Lula, por exemplo – o mundo político brasileiro estaria vindo abaixo neste momento.

“Intervenção inaceitável em questões internas do Brasil”, estaria protestando o PT, a esquerda e mais tudo o que existe em nosso Brasil “progressista” e nos seus subúrbios. “Agressão à soberania brasileira”, “tentativa clara de intervir no resultado da eleição”, etc. etc. etc. – é melhor nem imaginar o tamanho da indignação e da ira santa que iriam desabar sobre todos se os americanos, por um minuto que fosse, dissessem uma sílaba de contestação a algum dos mandamentos de Lula. Mas, para sorte da paz, concórdia e amizade entre os povos, os Estados Unidos de hoje têm um governo de “esquerda”, que combate o “fascismo”, luta pela “igualdade” e defende a causa operária. Biden gosta de Lula, do PT e do STF. Pode, então, dizer o que bem entende sobre o Brasil, as eleições e o que mais vier – qual seria o problema?

É melhor nem imaginar o tamanho da indignação e da ira santa que iriam desabar sobre todos se os americanos, por um minuto que fosse, dissessem uma sílaba de contestação a algum dos mandamentos de Lula

É curioso, hoje em dia, que os amigos reais dos Estados Unidos sejam tratados como inimigos pelo governo americano – e os inimigos como amigos. Há no mundo de hoje poucos presidentes tão a favor dos Estados Unidos como Bolsonaro – a favor da liberdade econômica, dos valores da democracia americana, do estilo de vida da América e de tudo o mais que tem a ver com o conservadorismo, o capitalismo e a ideia de “ocidente”. Mas ele, por ser amigo dos Estados Unidos, é um inimigo para a Casa Branca. Para ser amigo do governo americano, hoje, é preciso fazer o contrário: ser um inimigo dos Estados Unidos. Lula é inimigo há 40 anos – e continuará a ser, por tudo o que promete em sua campanha eleitoral. Ele diz que a miséria de Cuba é culpa dos Estados Unidos. Diz que a miséria da Venezuela é culpa dos Estados Unidos. Diz que a guerra da Ucrânia é culpa dos Estados Unidos. Pense num problema qualquer do mundo, da fome na África ao aquecimento da calota polar – para Lula, a culpa é dos Estados Unidos. É isso tudo, pelo jeito, que faz dele o mais querido do presidente Biden.


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