Geopolítica energética
Por
Daniel Lopez – Gazeta do Povo
O Sri Lanka se transformou numa espécie de laboratório nefasto de uma nova “Ilha do doutor Moreau”| Foto: Reuters
A humanidade está vivendo uma época muito triste, mas não podemos dizer que fomos pegos de surpresa. Alguns autores defendem a teoria que algumas formas de arte conseguem “prever” tendências e movimentos futuros. O economista e escritor francês Jacques Attali, autor de “Uma Breve História do Futuro”, tem um livro muito interessante, infelizmente ainda inédito em português, em que propõe haver um poder preditivo da música. Na contracapa do livro, lemos um comentário muito interessante: “Para Attali, a música não é simplesmente um reflexo da cultura, mas um prenúncio de mudança, uma abstração antecipada da forma das coisas que estão por vir […] O ruído é a metáfora de Attali para um amplo vanguardismo histórico, para as paisagens sonoras radicais do continuum ocidental que expressam estruturalmente o curso do desenvolvimento social”.
A música teria, portanto, essa capacidade de ser uma espécie de oráculo de tendências futuras. Entretanto, podemos dizer que a literatura, mais especificamente os livros de ficção científica e de fantasia, parecem guardar também uma enorme potência preditiva. Muitos autores alertaram com uma antecedência impressionante sobre o futuro sombrio que estava por vir. Basta lembrar de títulos como “1984”, “Admirável Mundo Novo” e “Fahrenheit 451”.
Agora, existe um país hoje que pode servir perfeitamente como uma prefiguração de uma tendência sinistra, tenebrosa e aterrorizante. Digo isto porque o presidente do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, acabou de implementar um sistema de identificação digital que se tornou necessário para a compra de combustível, num esforço para racionar a venda. Com a medida, os cingaleses agora devem respeitar uma cota de gasolina, que está diretamente atrelada ao seu novo documento de identidade digital, recurso necessário para acessar as bombas de gasolina. Para garantir que o caos não se instaure, o governo direcionou guardas armados para impedir qualquer tentativa de burlar o sistema de racionamento.
O curioso é que turistas e estrangeiros têm prioridade na compra de combustível, pelo menos assim foi determinado em Colombo, a maior cidade do país, com o fim de evitar que o turismo, umas das maiores fontes de renda da nação, seja ainda mais prejudicado. O detalhe é que as forças de segurança também estão garantindo que “veículo não essenciais” não consigam abastecer. Vejam a que ponto a coisa chegou.
A medida foi criada pelo Ministro de Energia do Sri Lanka, que, a partir de maio, começou a utilizar sua conta no Twitter para alertar o povo sobre o futuro sombrio que estava por vir, sem energia e sem combustível. O fato mais estranho é que a mídia internacional geralmente noticia o caos no país sem citar sua causa, que passa por algumas medidas tomadas, em grande parte, por influência do Fórum Econômico Mundial. Vale lembrar que o presidente do país Sri Lanka é membro e colaborador da agenda do Fórum.
O site do Fórum publicou um artigo em 2016 que descrevia como o Sri Lanka poderia reduzir o uso de combustíveis fósseis e lutar contra a emissão de carbono. Defendia o uso de energia renovável, falava sobre desenvolvimento sustentável e pregava a implementação de um novo documento de identidade digital. Oficialmente, o documento digital foi anunciado como um grande benefício para cadastros de emprego e combate a fraudes. Mas a principal finalidade é acompanhar o que cada um consome e analisar se estavam adquirindo produtos e serviços em desacordo com a “agenda verde”. A mesma tendência está sendo propagandeada pelo Partido Democrata nos Estados Unidos e aqui no Brasil.
O Fórum Econômico Mundial também incentivou o país a deixar de usar fertilizantes químicos, que haviam promovido um aumento enorme da produtividade agrícola e grande prosperidade para a nação. Porém, no ano passado, foi proibido o uso deste importante produto para a geração de comida, o que levou o país à crise que vive hoje. Tudo como consequência de um plano para tornar a economia “mais verde” e criar uma indústria “mais sustentável”.
Será que, em nome da defesa da sustentabilidade, as instituições mais poderosas do mundo levarão o planeta à ruína? Veja que não são apenas países menores como o Sri Lanka que estão sofrendo com isso. Os Estados Unidos e todo o continente europeu vivem agora sob o manto da escassez. Enquanto isso, a Rússia segue vendendo mais petróleo do que nunca e vê sua moeda atingir um pico de valorização. É um jogo sujo, mas muito bem ensaiado. O Brasil ainda resiste. Mas até quando?
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