Foto: Silvio Avila e Michael Dantas/AFP
Por Rafael Cortez – Jornal Estadão
Levantamento retrata melhora na avaliação de governo no apoio à reeleição
As redes sociais e a democratização das fontes de produção de conteúdo político exacerbaram a capacidade das campanhas eleitorais em produzirem mensagens “nichadas” para segmentos específicos. As pesquisas eleitorais e seus diferentes recortes reforçaria a necessidade de os candidatos produzirem mensagens para grupos específicos de eleitores, seja pensando no recorte por renda, raça, opção religiosa ou geografia. As evidências recorrentemente frustram a expectativa de grandes impactos da campanha. Grosso modo, o jogo eleitoral é fundamentalmente um cenário de estabilidade dos demais candidatos com exceção da candidatura à reeleição do presidente Bolsonaro.
O levantamento mais recente do Datafolha retrata o peso da melhora na avaliação de governo no apoio a reeleição, reforçando o peso do desempenho do incumbente no cargo como condicionante do comportamento eleitoral, reforçando a tendência da eleição caminhando para o segundo turno. Se confirmado, esse movimento apenas retrataria o equilíbrio entre esquerda e direita no Brasil nas últimas décadas.
As alterações mais expressivas nas pesquisas de opinião pública se manifestam na percepção do eleitorado em relação ao desempenho do governo. O movimento é natural; candidaturas governistas tem peso mais forte na persuasão do eleitorado. Trata-se do poder da caneta contra o poder da retórica, única arma dos nomes de oposição.
Na verdade, as chances eleitorais do presidente esbarram no seu modus operandi no exercício do poder. Bolsonaro não faz aposta em buscar o centro. Ao contrário, seu movimento é de distanciamento da esquerda. O voto econômico segue com peso alto, mas menos intenso diante da sua opção pelo extremo. A avaliação de governo melhora (se aproxima do patamar da reeleição de FHC), mas 51% de acordo com o instituto dizem não votar de jeito nenhum do presidente, contra apenas 39% do petista.
A pesquisa também reforçou a inutilidade da campanha eleitoral para o petista. O petista vai bem em sabatina, escorrega em debate, exagera na retórica e basicamente nada acontece com sua intenção de voto. Afinal, o que de novo o eleitor pode pensar sob Lula depois de intensa exposição; de presidente a condenado, a trajetória do petista é de conhecimento público. A comparação histórica traz algum alento ao petismo. Bolsonaro venceu com 55% dos votos válidos, Lula tem 53% de intenção de voto no segundo turno. Trata-se da mesma balança de poder entre esquerda e direita com sinal invertido.
Assim, a principal questão diz respeito aos condicionantes do voto útil. Bolsonaro já encontrou sua estratégia (revisitar 2018), Lula ainda não encontrou um plano para chamar de seu na busca pelo eleitor cansado da polarização.
Sócio da Tendências Consultoria é Doutor em Ciência Política (USP)